segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Dilemas Contemporâneos da Cultura (81)

É sempre interessante observar que tirando a tecnologia, a humanidade ainda se comporta como no século XIX.
Valores do liberalismo, da democracia e do socialismo, marcas típicas daquele século, servem de referência para propor e explicar o século XXI.
Da mesma maneira, a arte do final do século XIX aponta possibilidades presentes até hoje. A poesia de Mallarmé, a maneira como propunha o uso da palavra escrita também como forma de expressar a intensidade do texto entre outros, está presente na comunicação humana em plena tecnologia. ESCREVER ASSIM É LIDO COMO UM GRITO e o leitor se incomoda o suficiente. Repetindo: Isto Mallarmé dizia no século XIX. 
Muito embora os conceitos gerais do que é Cultura tenham se aperfeiçoado com a dinâmica de permanente movimento, procurando-se uma visão do tema que de fato universalize a forma de pensá-la, é no varejo que os problemas residem.
Explico.
Avançamos em tecnologia, em conceituação, mantendo valores e comportamentos do seculo XIX, com uma visão de século XXI, mas na gestão, criou-se uma forma híbrida. Muitos dos gestores, influenciados pelo instável século XX, não absorveram as possibilidades de uso da tecnologia, nem sequer mantiveram os valores do século XIX, tornando-se um grupo de "sem século" (dito assim para não manda-los mais para longe) que permanece à frente de estruturas, de organismos e entidades.
A simples constatação teria algum efeito se pudesse conduzir a algo prático do tipo sugerir que é necessário um profundo reajuste nos modelos de gestão e, principalmente, o aperfeiçoamento na maneira de enxergar os problemas gerais da Cultura e de encontrar soluções práticas à luz do conhecimento disponível. Um exemplo disto, foi a maneira como a Metropolitan Opera House modificou seu posicionamento ao abrir suas coxias e back stage aos cinemas do mundo, com transmissões ao vivo dos espetáculos. 
Há certa resistência ao marketing. Fala-se muito em marketing cultural e praticamente nada sobre marketing da Cultura, quando é imprescindível que soluções técnicas desta área do conhecimento estejam a serviço das instituições e desde suas atividades mais primárias.


É necessário romper com as formas de agir e buscar arejamento nas formas de pensar. Lição que serve para todos (inclusive para este escriba).

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

De blog para blog (2)

pintura de Marc Chagal - Opera Garnier em Paris

O Movimento é um dos mais conhecidos sites do erudito e merece estar entre os favoritos de quem curte.
É a dica do post de hoje.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A Ópera é Pop (6)


A mulher é volúvel como uma pluma ao vento.
Não. Não se trata obviamente de frase de blogueiro machista, mas a tradução de uma das mais famosas árias de ópera: La donna è mobile, da ópera Rigoletto, de Giuseppe Verdi.
Ainda não consegui chegar a um resultado concreto, mas ao lado da ária de Figaro no Barbeiro de Sevilha, da Habanera de Carmen, Nessun Dorma de Turandot, compõe o quarteto mais repetido na publicidade. 
Não podemos deixar de lado o Dueto das Flores de Lakmé, a cantata Carmina Burana, a Cavalgada das Valquírias utilizadas em inúmeras versões e adaptações.
Hoje, destaco uma das muitas vezes em que La donna è mobile aparece vendendo alguma coisa. No caso, um clip da série Sopranos! do A&E Channel. Veja aqui. e se você quiser, divirta-se aqui com a letra em italiano e em português podendo também ouvir uma gravação histórica de Enrico Caruso na Milão de 1903.
Como veremos por aqui, a publicidade gosta de associar ópera à máfia, carros elegantes, fortes e velozes, a experiências que unam familia, comunidade. Sempre colocam pessoas cantando ópera nos contextos mais diversos e, ao que parece, adoram peixinhos cantando*


(*) estamos apenas no A Ópera é Pop (6) e já tivemos dois anúncios com peixes cantores.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Carlos Gomes no Mapa do Brasil (42)

Filhote de Quati
animalzinho típico do continente americano

Giovanni di Pietro di Bernardone nasceu em Assisi, Itália, onde morreu. Não fosse o seu inigualável amor pela humanidade e seu respeito por todas as criaturas, provavelmente não seria um símbolo tão importante para o planeta.
Mas não é na cidade homônima de Assis, no Estado de São Paulo, que iremos encontrá-lo como nome de rua ao lado de Carlos Gomes, homenageado neste simpática cidade (veja aqui no mapa). Infelizmente não se lembrou de Bernardone na cidade.
Disse infelizmente, porque a visão positiva do homem e da natureza de Bernardone impregnou profundamente a sociedade nos séculos 12 e 13 (nasceu em 5 de julho de 1182 e morreu em 3 de Outubro de 1226). Sua presença se estende por toda a Renascença e é uma personalidade imprescindível para entendimento ainda hoje do que é caridade, compreensão e simplicidade, independente de ligações religiosas.
Isto mesmo. Estamos falando de São Francisco de Assis, relembrado sempre por sua afeição aos animais(*).
De fato, não foi em Assis que encontramos São Francisco e permanente homenageado Carlos Gomes. Mas, em Maceió, no Estado de Alagoas, onde uma caminhada de uns 20 minutos leva da Rua Carlos Gomes a outra que leva o nome do Santo (para ver o caminho, veja a Rota no mapa). Uma oportunidade interessante para se refletir acerca das igualdades, do homem e do meio ambiente.


(*) dia 4 de outubro é o Dia Mundial dos Animais. 

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Dilemas Contemporâneos da Cultura (80)

Ontem
por Rosana Caramaschi


No "Dilemas" anterior levantei a lebre* da reflexão acerca da utilidade da Cultura. Foi um tema de poucas respostas. 
A Cultura não interessa? O dia foi ruim? Foi uma segunda feira como hoje. Não cheguei a cruzar os efeitos da segunda feira na vida das pessoas, muito embora saiba que a Síndrome exista. Ela começa devagar no domingo, quando algumas pessoas passam a sofrer angustiadas com tudo o que recomeça na manhã seguinte. Não há quem não tenha passado por este incomodo em algum momento da vida. Outros sofrem (e suas empresas, parceiros, atividades). 
Por outro lado, é mais fácil para o blogueiro culpar os outros que achar defeito no próprio blog.**
O importante nesta e noutras questões é ter o bom senso de seguir em frente já que tudo não passa de uma fantasia, fruto do que pensamos. 
Sendo assim, vamos ao dilema de hoje. 
Com segundas feiras, domingos, sindromes ou não, uma das principais questões que se avizinha é até onde a Cultura deve se submeter às regras de consumo?
Melhorando a pergunta e expondo o conceito. 
Em 1947, na Dialética do Esclarecimento, Theodor Adorno e Max Horkheimer refletem a respeito da Indústria Cultural e o fato da produção cultural e intelectual serem dirigidas ao consumo mercadológico. 
Esta indagação está o tempo todo presente para o artista: os limites e as fronteiras de transformação da arte em mercadoria. 
Pode parecer que é uma inquietação supérflua porque a Cultura-mercadoria é melhor remunerada e somente tolos criadores não se deixariam levar por esta perspectiva. 
É preciso também uma reflexão aqui. Tolice ou fidelidade a um pensamento artístico que só possível se for vivo por si só, independente de resultados financeiros para quem cria?
Na outra ponta, nova reflexão. Há alguma relação entre quem vai a uma sala de concerto e este criador que não pensa em dinheiro? Quando alguém vai a uma sala fica imóvel, em silêncio, contendo suas reações, limpando disfarçadamente suas lágrimas, para estourar em aplausos ao final do último movimento. A observação desta regra é redenção, ou prisão? E o inverso para o artista? Submeter-se exclusivamente a arte  ou ao mercado, que efeito tem?


Segunda feira é dia de perguntas. Não de respostas.


*peço permissão para levantar uma lebre, usando esta metáfora de caça (em que se "revela algo que estava oculto") para recomendar um curioso site de provérbios antigos portugueses (conheça aqui), retirados do antiga edição do Livro dos Provérbios de Antonio Delicado, uma leitura divertida compilada pelo prof. Jean Lauand.
** Tenho tentado tornar o blog palatável e criar aqui um canal de leitura permanente. Isto passa por aperfeiçoar a ferramenta, criar posts diferentes sem perder a essência do projeto. Mas a sua opinião é muito importante e gostaria de saber o que vc pensa. Post aqui seus comentários (que ficarão públicos) ou use o e-mail cleberpapa.blog@gmail.com se vc prefere emitir sua opinião privadamente.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Nota de Rodapé (18)

Imagem obtida do comercial da Hope

Segundo o dicionário Aurélio, primitivo é relativo aos povos não letrados, que vivem em sociedades geralmente caracterizadas como de escala menor, organização social menos complexa e nível tecnológico menos desenvolvido do que as sociedades ditas civilizadas, e vistos pelo evolucionismo social (q. v.) como representantes de um estado social e mental supostamente mais próximo da condição original, natural, da humanidade, ou dela sobreviventes. Os antropólogos rejeitam o termo nesta concepção  por ser considerado cientificamente errôneo e decorrente de pressupostos ocidentais etnocêntricos o que parece claro e compreensível.
Sob este ponto de vista, não é correto dizer que o Brasil ainda mantém comportamentos primitivos em vários setores. Mas podemos dizer que o país, em alguns segmentos, possui pessoas com uma visão muito curta da complexidade abrangente da sociedade brasileira.
Temos, na cultura, formas de expressão que são típicas e enraizadas na maneira de enxergar determinados acontecimentos que  chegam via mecanismos de comunicação deste tempo, a cada vez mais rapidamente e com maior precisão. 
Há comportamentos de determinadas sociedades que para os  brasileiros são considerados deprimentes, inadequados, bárbaros e são rejeitados com toda a veemência, tais como a castração de mulheres em alguns países da África, as restrições aos direitos civis (voto, à livre circulação, ao simples direito de dirigir um carro, entre outros), trabalho escravo, punições descabidas como chibatadas, pedradas por conta de quebra de protocolos religiosos e tantos outros absurdos assim considerados, mas ainda praticados nos seus países de origem.
Não há na sociedade brasileira, pessoa esclarecida que não comemore as várias conquistas das mulheres, soando absurdo imaginar que seja aceitável qualquer forma de coerção, constrangimento ou abuso que restrinja direitos por conta de sexo ou sexualidade. 
Sabe-se também que se convive com realidades extravagantes (esta é apenas uma palavra elegante), bastando para isto que se vejam as noticias que recheiam os jornais, desde barbaridades com garotas e garotos presos em celas com marginais nas cadeias públicas do Pará sofrendo abusos e estupros sob os olhos cegos das "autoridades", prostituição infantil em várias cidades, inúmeros casos de violência contra a mulher. Não é necessário, portanto, ir muito longe, nem atribuir desvios apenas aos distantes países do Oriente e África. Num raio de não mais que um quilômetro das casas é provável que se tais abusos, comportamentos inadequados, constrangedores e inaceitáveis.
Ao mesmo tempo, há uma capacidade enorme de rir de si próprios, fazer troça, brincar com os excessos. Aliás irradiar os excessos para que eles se transformem em piada e provoquem aquilo que é uma das marcas mais saudáveis na cultura brasileira: o riso. 
Há uma tênue barreira entre o que é engraçado apenas por ser e aquilo que não é, esbarrando no puro preconceito, na discriminação.
É preciso, entretanto, tomar cuidado para não se cair no exagero. O episódio recente com o filme publicitário de lingerie com a modelo Gisele Bündchen é o que me parece uma falta de bom senso e de limites do censor (no caso uma Secretaria do Governo Federal). 
Ora, qual brasileiro leva a sério que uma mulher vá usar uma lingerie bonita para "cegar" seu parceiro e disfarçar uma besteira que tenha feito com o cartão de crédito? Ou o inverso: em sã consciência, um homem de cuecas, "sarado", faz sua companheira acreditar em qualquer besteira que ele fale? 
Respeite-se o direito à opinião, afinal sempre haverá quem não goste disto ou daquilo, mas, no caso em questão, há de sobra argumentos para defende-lo.
Todo casal que não tenha restrições próprias da sua maneira de pensar, pratica joguinhos sexuais na intimidade, usando e abusando da sensualidade. 
Por outro lado e além disto, quem não vê na Gisele Bündchen um modelo de comportamento, de maternidade, de discrição, de retidão, profissionalismo e beleza?
A Hope - a agência de propaganda e seus criadores - não escolheram uma modelo descartável, fútil. Nada disto. Escolheram a Sra. Gisele Bündchen referência mundial de qualidade.
É preciso uma mentalidade muito atravessada e limitada para imaginar que aqueles comerciais (veja aqui), bem humorados, devam ser retirados do ar por uma suposta ofensa às mulheres. Nesta ótica, os homens poderiam se sentir ofendidos por serem tratados como idiotas. As mulheres não precisam deste tipo de tutela já que possuem instrumentos elementares como, por exemplo, decidir não mais comprar produtos de determinada marca caso se sintam ofendidas. 
Senhoras lindas, feias, impecáveis, gordinhas, professoras, profissionais liberais, empresárias, empregadas domésticas, operadoras de telemarketing, todas, todas, todas, divirtam-se, comprem suas calcinhas brancas, pretas, vermelhas, coloridas, façam o que quiserem com sua intimidade, seduzam seus maridos, falem mal deles, brinquem com eles, façam carinho, sejam carinhadas, amadas, sem se sentirem ofendidas por um comercial de televisão que só lhes garantiu o direito de serem o que quiserem na sua intimidade sem que pessoas de qualquer Governo lhes digam o que deve ser feito. E cobrem destes mesmos governantes que trabalhem - isto sim - para impedir que fatos escabrosos como aqueles que invadem nossos jornais e que são da esfera do DEVER DO ESTADO não mais aconteçam. 

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A Ópera é Pop (5)


Nem sempre a publicidade acerta quando mistura ópera e produtos de consumo. Há alguns anos, fazia como exercício, encontrar títulos de ópera que pudessem ser associados a sabonetes, marca de chiclete, automóveis conversíveis, eletrodomésticos, computadores, iogurtes. Para quem gosta de ilações, pode ser um passatempo divertido.
Mas não é sempre que os publicitários de plantão acertam.
A piada padrão é a quebra de taças, garrafas, janelas, objetos de decoração com a voz. Sempre é uma cantora rechonchudinha, muitas vezes com chapéu de viking com os indefectíveis chifres, a boca vermelha: o clichê, do clichê, do clichê. 
E para quem vê estas coisas e não é nenhum expert no assunto, fica a impressão de que de fato a voz humana pode quebrar copos, bastando que pertença a um cantor de ópera. 
Até onde se sabe, entretanto, não há registro em vídeo, foto etc, de alguém, cantor ou não, que tenha quebrado uma taça de cristal com a própria voz sem qualquer recurso de amplificação. Mesmo a lenda em torno de Caruso que teria a facilidade de executar a façanha, foi desmentida por sua mulher após a morte. 
Em artigo da revista Scientific America Mind (clique aqui para visualizar o artigo inteiro) Jeffrey Kysar, engenheiro da Columbia University, explica para a ex-cantora e jornalista/editora Karen Schrock que a física pode recriar o fenômeno, mas somente em condições excepcionais um cantor poderia de fato quebrar copos com a voz.
Ficção à parte, nem sempre a publicidade transfere o humor para a platéia como acontece neste comercial de cerveja que pode ser visto clicando aqui. 
No comercial, os amigos são idiotas e "castigados" pela ironia como tratam o tema, recebendo o exemplo adequado do vizinho de poltrona da frente. 
E a ópera continua pop.

Carlos Gomes no Mapa do Brasil (41)



A imagem de hoje não é familiar para muita gente.
Um piano esquisito, uma pianolita, um sintetizador antigo ou um dos pioneiros teclados com sampler de 1 k de memória?


Nada disto é verdade.
Trata-se de um telégrafo dos "modernos". 
Da mesma maneira que expressões como "cair a ficha" (*) surgiram em decorrência da tecnologia, "telegrafar" determinada informação (no jogo informando burramente ao adversário a próxima jogada, entre amigos, no trabalho) também surge assim. O telégrafo representava uma comunicação direta, rápida e alguns usuários tinham um endereço telegráfico que os indicavam. Estes endereços telegráficos eram tão populares que acabaram designando grandes organizações. O Banco Brasileiro de Descontos tinha o endereço BRADESCO, o União de Bancos Brasileiros conhecido no telégrafo como UNIBANCO acabaram tendo o apelido mais famoso que o próprio nome. Mas não eram só bancos. RHODIA era o endereço da Usines de Rhône, PANAIR da companhia aérea Pan American, ALTON o da Companhia Byington de Colonização Ltda (formada pelo AL de Alberto e o TON de Byington, nome do presidente).


Pois muito bem, ALTON deu o nome à cidade de Altônia no Paraná onde, no centro, encontra-se a Praça Carlos Gomes (clique aqui para visualizar), um logradouro circular, arborizado e bastante tranquilo, que também homenageia o compositor. 


(*) Quando se usavam os "orelhões" (as cabines telefônicas de rua com um formato de concha que ficaram assim conhecidas) com telefones de ficha (uma moedinha de metal vendidas em cartelas), introduzia-se a ficha no local adequado e tirava-se o "telefone do gancho" (dava-se o nome de telefone à parte que possui um alto falante e um microfone. O primeiro para ouvir e o segundo para falar, muito embora o aparelho telefonico antigo tivesse mais partes. O telefone ficava normalmente repousado numa peça chamada gancho). Após levantá-lo, discava-se num teclado numérico e quando a ligação era atendida, a ficha caia. Daí a expressão.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Dilemas Contemporâneos da Cultura (79)


Fazer Filosofia é uma prática da palavra. É acentuar a expressão da palavra em todos os seus níveis.
Podemos simplificar como sendo o questionamento de tudo, de modo que se extraia (abstraia) a complexidade de tudo. Tão complexo quanto perguntar o que é a Lua, é pensar o que é um garfo, um banco de praça, ou o que é Cultura.
Neste caso, é responder após refletir sobre tudo o que a palavra escrita Cultura permite e também a falada, gravada, sentida. 
Da mesma maneira que um pente serve para algumas coisas, a Cultura serve para algo. Ou não. Afinal, porque uma coisa deve servir? Não existem coisas inúteis?
No nosso cotidiano, a Cultura tem alguma finalidade prática? Para que serve? A Cultura precisa ter uma finalidade prática? 
Como a Cultura funciona? A Cultura é tangível, integrada à vida, ao trabalho, ao ócio? De que maneira se articula com os desejos pessoais, a sexualidade, com a religião? 
Onde o pecado ou a noção de pecado interfere na vivência de determinada atividade Cultural?
Vamos refletir sobre isto?
Quem atira a primeira bolinha de papel preenchida?

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A Ópera é Pop (4)

Magda Painno - interpreta Carmen
na Cia de Ópera Curta

O comercial de hoje foi visto em praticamente todo o Brasil. 
Quem não viu, aproveite para ver aqui o peixinho que cantava... e vendia ópera.


Este foi um trabalho bem sucedido de comunicação que uniu a graça dos peixinhos dourados, a música de Carmen e o objeto de desejo da grande maioria dos brasileiros.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Carlos Gomes no Mapa do Brasil (40)


Carlos Gomes morreu em 16 de setembro de 1996.


O compositor teve uma vida gloriosa. Seu papel na história da música no Brasil é muito relevante por ter sido a mais expressiva figura cultural do país no período. Talvez por estas razões e por certo desregramento na sua vida privada tenha acumulado apenas um saldo zerado ao final de sua peregrinação. 
Morreu em condições muito inadequadas. Retornou ao Brasil com a saúde muito debilitada, se recursos financeiros. Apesar das homenagens que recebeu nos últimos dias e durante o período em que foi velado em Belém (Pará) foi um final inesperado e incompatível com sua contribuição artística.
Ainda que seja um nome nacional, presente no mapa do país em várias cidades onde empresta seu nome a centenas de logradouros e milhares de estabelecimentos comerciais e educacionais, Carlos Gomes pagou um alto preço por sua glória, dada a rejeição que recebeu em vários círculos artísticos nos anos que se seguiram à sua morte. 
Para nos lembrar disto de algum modo, em Borá, o menor município Brasileiro não há nenhuma rua, avenida, vila, praça com o nome de Carlos Gomes. Lá ele não está no mapa. Entretanto, neste lugar que possui o menor número de habitantes do país, o menor número de eleitores e o maior percentual de habitantes acima de 13 anos no Facebook (93% da população), há uma rua emblemática: Rua Preço da Glória. 
Um aviso permanente de quanto é etéreo e fluido este caminho.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Nota de Rodapé (17)


1- Quem não a conhece, precisa ver Nise da Silveira - Senhora das Imagens, espetáculo de Daniel Lobo, com a a atriz Mariana Terra (estupenda).

2- Quem não viu, perdeu Sondra Radvanovsky, Juan Pons e Thiago Arancan, demonstrando a diferença de um elenco equilibrado com uma regência (Silvio Viegas) precisa e inteligente, direção (Carla Camurati) cuidadosa. Tosca no Municipal do Rio de Janeiro abre a temporada de coisas boas na ópera no Brasil. Virão mais e melhores.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Dilemas Contemporâneos da Cultura (78)

René Magritte - 1955

Em 1999, foram criadas as OSCIPs e as OS (inicialmente em São Paulo). Conceitualmente, siglas de qualificação de entidades (empresas privadas sem fins lucrativos) no âmbito Federal (OSCIP) e Estadual (OS).
Hoje as Organizações Sociais atuam nas mais variadas áreas como um braço burocrático do Estado, agilizando procedimentos, imprimindo a velocidade conceitual das empresas privadas.
Mecanismos desta natureza foram adotados em larga escala também na Cultura. 
As Organizações Sociais são contratadas para implementar programas específicos a partir das políticas definidas pelo Estado e são constituídas com um organismo com escopo de ação definido.
Ao serem contratadas, as OS têm autonomia de gestão cumprindo metas estabelecidas no seu contrato a partir de diretrizes definidas pelo Estado.
Não imaginemos que isto significa afastamento do Estado do processo ou mesmo redução da estrutura do Estado ao mínimo. Experiências nesta direção foram desastrosas.
Continua cabendo ao Estado a definição das políticas e programas que deseja implantar, o estabelecimento de diretrizes, o acompanhamento e avaliação do trabalho de seus contratados, determinando correções de rota, aperfeiçoamento de políticas, até substituindo uma OS por outra quando for o caso.
A OS não substitui o Estado, mas dialoga com ele, presta serviços como uma extensão autônoma. Se por um lado ao Estado cabe o papel político, às OS o entendimento deste significado.
A contribuição das Organizações Sociais pode ser muito grande na medida em que atuando com foco em determinados segmentos consegue auxiliar o fortalecimento das suas atividades fim junto à sociedade.
Da mesma maneira, é imprescindível a percepção do Estado da resposta da população a esta ou aquela iniciativa e a criação de respostas ativas a estas demandas.
Desta complexa matriz, fortalece-se todo o sistema. 



(*) Em outubro a obra 16 de Setembro de Magritte estará exposta na Tate Liverpool e certamente será alvo de visitação dos fãs do roqueiro ingles Marc Bolan, falecido em 16 de setembro de 1977, após sua namorada ter estourado numa arvore o carro onde iam . Além das datas, das árvores, a lua também era crescente. Diferente de hoje em que a lua é uma transição da Crescente para a Minguante. Coisas da Cultura que mistura tudo isto.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A Ópera é Pop (3)



Wally resolve partir, deixando para trás suas referências pessoais, família, amigos. Deixa apenas um lamento expresso na ária Ebben? Ne andró lontana (*)

A belíssima ária da ópera La Wally, de Alfredo Catalani, exprime a opção pela solidão da personagem. 
Num caminho semelhante, o comercial (famoso há alguns anos) do Whisky Ballantines, utiliza a ária de Catalani como trilha sonora e aposta em várias imagens cosmopolitas. A exemplo de Wally, o personagem que abre o anúncio partirá. Serve-se da bebida de sua preferência e compartilha - canta - o que pretende fazer. Todos os que ouvem a ária são solitários mesmo em grupo e se sentem confortados nesta circunstância. A frase final diz deixe uma impressão, reforçando o conceito, sem perder de vista a elegância, beleza plástica.

A ópera é muito presente no cotidiano das pessoas e é interessante quando se vê na comunicação de massa um resultado que se apropria do gênero de maneira tão sofisticada na conceituação. 


(*) A letra da ária está abaixo, e também pode ser acompanhada na gravação de Maria Callas clicando aqui.
Ebben? Ne andrò lontana,
Come va l'eco della pia campana,
Là, fra la neve bianca;
Là, fra le nubi d'ôr;
Laddóve la speranza, la speranza
È rimpianto, è rimpianto, è dolor!

O della madre mia casa Gioconda,
La Wally ne andrà da te, da te
Lontana assai, e forse a te,
E forse a te, non farà mai più ritorno,
Nè più la rivedrai!
Mai più, mai più!

Ne andrò sola e lontana,
Come l'eco è della pia campana,
Là, fra la neve bianca;
Ne andrò, ne andrò sola e lontana!
E fra le nubi d'ôr!

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A Ópera é Pop (2)

 ©CP

Dizer que a ópera é uma maravilha, fantástica, a mais requintada forma de expressão, seria aqui puríssimo lugar comum porque é sabida certa tendência pró ópera neste blog. 
De passagem apenas, não há como negar que a ópera é uma forma de expressão absolutamente viva e estamos apenas no começo do que será o entendimento deste gênero no futuro. 
Não há dúvida que há um tipo de purista exausto que não admite qualquer intervenção na ópera ou usos que não sua exibição no palco. Chamo-os de exaustos porque ficarão cansados por tentarem achar para o gênero uma função que não a de se constituir numa gratificante experiência cultural e sob todos os aspectos e aproveitamentos possíveis. É importante registrar que existem outros puristas. Aqueles cultos, culturalmente bem  formados, com vivência multidisciplinar, são sempre bem vindos e sua visão de mundo pode ser uma contribuição de excelência para a ópera. 
A publicidade tem utilizado a ópera de maneira inteligente e são muitos os criadores e diretores que conhecem o gênero e sabem explorar os recursos que o espetáculo oferece. Afinal, sempre teremos a música de um compositor genial, com letras escritas por autores que conheciam a dramaturgia.
Um exemplo muito bem sucedido e emocionante é o comercial de Coca-Cola usando a ópera Pagliacci do compositor italiano Ruggero Leoncavallo que você pode ver aqui.
Mais interessante ainda fica se lembrarmos que no inicio da ópera, um personagem, Tônio, interpretando o prólogo, avisa a platéia que tudo é apenas uma peça e não a vida real. 
Ao misturar fantasia e realidade, o anúncio brinca com o Verismo em que fatos da vida real são levados ao palco. O garotinho - o mundo real - entra na fantasia do personagem e o trás para si. Uma solução bem divertida e emocionante, vocês não acham?

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Carlos Gomes no Mapa do Brasil (39)

Urso Polar
by Arne Naevra -  Shell Wildlife Photographer of the Year 2007

Houve muita confusão sobre quem conquistou o Polo Norte pela primeira vez.
Tanto o americano Robert Peary quanto o o seu conterrâneo Frederic Cook reclamaram para si a conquista do Polo. O primeiro dizendo que o fizera em 6 de Abril de 1909. O Dr. Cook anunciou em 6 de Setembro de 1909 (há 102 anos, nesta data) que alcançara o polo em 21 de Abril de 1908 - um ano antes.
Este episódio foi objeto de uma briga enorme entre os dois exploradores e quem gosta do tema terá relativa facilidade para encontrar informações a respeito.
Sem brigas e confusões, na cidade de Pereira Barreto, a Rua Polo Norte convive em paz com a Rua Polo Sul (veja aqui) e, bem próximo delas, está a Rua Carlos Gomes (veja aqui). Ela é curtinha, é verdade, mas está ali sem confusão nenhuma.
Se você for a Pereira Barreto ou a Ilha Solteira, aproveita para fazer uma visitinha. Conhecer as Ruas Carlos Gomes no Brasil é um passatempo interessante. Mande fotos.
Aproveite também para conhecer os animais do ártico que estão sofrendo com as alterações climáticas por lá clicando aqui.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Dilemas Contemporâneos da Cultura (77)



Certa vez, escrevi isto acerca da Cultura:
A Cultura é forma de atestar ao Homem sua humanidade, de demonstrar-lhe que é capaz de se emocionar por amor, de ver sem medo, te ter esperança. É um bem coletivo que ratifica a sua humanidade. E não tem cor, não se curva às dislexias intelectuais, às veleidades políticas.  Chamar a Cultura de processo é diminuí-la, muito embora sejam os processos a aproximar dela as pessoas. Sua intangibilidade só está na arrogância de quem a vê como propriedade para poucos, ou naqueles que se imaginam capazes sozinhos de levá-la a todos.


A dra. Maria Helena Pires Martins escreveu:
A cultura do entretenimento, ao oferecer o mundo como espetáculo constante, a ser consumido e descartado a cada novo momento, propicia a falta de reflexão, a imitação de padrões às vezes inadequados às necessidades sociais do grupo ou pessoais, a confusão entre realidade e ficção. Como exemplo, podemos citar a eleição a cargos públicos de tantos profissionais do entretenimento, sejam eles cantores, atores de cinema, ou apresentadores de programas sensacionalistas de rádio ou de televisão, como o caso de Afanásio Jazadi (eleito deputado estadual por São Paulo em 1986) que se promoveu à custa de exibir o mundo do crime.


Os textos continuam valendo?



Toda segunda feira, publicarei alguns sobre idéias a respeito da Cultura de forma a promover a reflexão sobre os múltiplos assuntos tais como cultura letrada, cultura oral, cultura regional, cultura e arte e por aí vai, sem qualquer pretensão enciclopédica.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Dilemas Contemporâneos da Cultura (76)


Peter Paul Rubens é um pintor intrigante (saiba mais sobre ele clicando aqui). 
Seu estúdio produziu mais de 2000 obras num modelo de trabalho em que ele fazia os drafts iniciais e seus assistentes trabalhavam a pintura até o ponto de finalização em que Rubens fazia sua intervenção - a arte final. 
Rubens pintou os principais expoentes da aristocracia de sua época e sua obra foi reconhecida em toda a Europa à sua época tornando-o uma referência da pintura barroca. 
Pintou reis, rainhas, duques, esbanjando cores e alegorias na escolha dos seus motivos. Rubens morreu em 1640 rico, bem sucedido, tendo vivido muito bem e em paz consigo.
Pietro Paolo Rubens como assinou na sua versão "italiana" está sendo utilizado no post de hoje como uma reflexão a respeito do fazer artístico.
Todos nós artistas sabemos o quanto são complexas as conquistas para a vida toda. 
O cantor lírico, por exemplo, passa anos de sua vida estudando, tanto quanto um bom médico, um engenheiro de excelência, um administrador, mas dependendo da sua voz - um instrumento especialíssimo, delicado, sensível - para a manifestação de sua arte. 
Não há estrutura que ampare este profissional numa idade mais avançada, a não ser aquela que conseguiu construir ao longo de sua carreira quando teve condições e a orientação de preservar recursos para o futuro. De um modo geral, é o que acontece com o artista nas várias áreas. 
Em termos práticos, este assunto delicado fica aqui registrado como algo a ser pensado para que na sua plenitude artística e humana os profissionais possam ter mecanismos de sustentação individual que lhes garanta um resultado perene na velhice. 
Fazendo uma associação com Rubens e seu Hércules ébrio, proponho uma visita a uma divertida performance (clique aqui) para que, rindo e respeitando o nosso próprio trabalho, possamos refletir sobre a importância de preservar o artista.
De certo modo, é como um salto no escuro sem paraquedas (quem tem trabalhado comigo sabe do que estou falando), mas com a certeza de que há lá embaixo, em algum lugar, uma base que lhe dá sustentação.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

A Ópera é Pop (1)

imagem do comercial "os poneis malditos" para a Nissan
Criação Lew Lara\TWA
A maldição do pônei pega. Não tem jeito. 
O pior de tudo é que quando ouvi da primeira vez tinha a absoluta certeza de que já ouvira aquilo em algum lugar. Para a geração dos anos 1980, aqueles cavalinhos coloridos com glitter e florzinhas foram companhia constante das meninas e motivo de brincadeiras para a molecada, consumidores que agora estarão com seus 20 anos ou mais, prontos para comprar seu próximo carro etc. 
A publicidade tem destas coisas. Sempre aparece uma forma nova de dizer aquilo que todo mundo pensa que já sabe. Com a velocidade da comunicação nas redes sociais, quando conectei hoje à tarde o comercial do pônei (clique aqui) já atingira 11.806.558 (isto mesmo: quase doze milhões) de acessos. Um viral, como se diz, de propagação exponencial. 
A publicidade tem esta força de deixar para as pessoas a sensação de intimidade com produtos e, sem que os consumidores se deem conta, utilizando aquilo que já faz parte do seu universo cognitivo.
A ópera está sempre presente na publicidade. Quando aparece a imagem clássica de uma platéia lotada e as cortinas vermelhas de um palco monumental, não há quem não associe aquilo a erudição e bom gosto. A música é emocionante, acrescenta um movimento interno de tirar o folego de qualquer um. Mesmo quem não conhece o gênero sabe que ali sempre irá acontecer algo apoteótico, impossível de ser reproduzido pelos seres humanos normais. 
Com estas idéias, a partir desta semana, toda quarta - sempre que possível - postarei A Ópera é pop com comerciais que utilizem a ópera como trilha ou mote. 
É comum termos que responder à pergunta se a ópera é popular. Já falei sobre isto algumas vezes no blog (e continuarei falando, claro), mas, neste caso, a ópera é pop mesmo já que entendo que a cultura pop é típica da comunicação de massa. 
Então vamos ao lado pop ópera e, para demonstrar a longevidade do gênero, vamos a dois filmes.
O primeiro, um comercial dos anos 60, divertidíssimo e usando um ícone da história da ópera: La Traviata. (clique aqui)
E outro, o comercial de lançamento de 2012 de um modelo de automóvel também utilizando um clássico da ópera: Turandot (clique aqui)
Como veremos daqui para frente, a publicidade tem na ópera uma matéria prima constante. É as vezes conservadora, outras vezes edita sem o menor pudor. E como a ópera, é irreverente, crítica, ousada, esperta, alegre...

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Carlos Gomes no Mapa do Brasil (38)


Por ter-se colocado contrário a certas idéias atenienses, Sócrates, o filósofo grego, foi condenado a escolher entre o exílio e a morte. Sócrates preferiu a morte. A morte por cicuta: um veneno poderoso que gradativamente imobiliza os órgãos até atingir o coração.

Em 30 de Agosto de 1748, nasceu, em Bruxelas, Jacques-Louis David que se tornaria o pintor oficial da Corte Francesa e de Napoleão Bonaparte.
A Morte de Sócrates foi exibida em 1787. No quadro, Platão está sentado de costas, entristecido. Críton(*) um dos discípulos está sentado com a mão no joelho de Sócrates que aponta para os céus. Outro oferece a taça com cicuta para o filósofo. Os demais demonstram sua angustia e discordância pela decisão do filósofo.
A Rua Sócrates**, em São Paulo, termina há duas quadras da Praça Contendas, na Av. Nossa Senhora do Sabará, uma continuação da Rua Borba Gato que corta a Rua Carlos Gomes**, no Bairro de Santo Amaro.

*recomendável a leitura de Críton, um dos Diálogos, de Platão, uma narrativa crítica sobre a decisão pela morte e de Fédon onde Sócrates expõe sobre a morte.
** a partir de hoje, por sugestão do Tomé Borba, no Facebook, estou incorporando os mapas dos logradouros denominados "Carlos Gomes" e outros, quando necessário. 

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Dilemas Contemporâneos da Cultura (75)


Em artigo recente, Daniel Piza comenta o suposto declínio americano. 
Concordo com ele: não veremos tão cedo esta mudança.
Alguns apressados continuarão vendo esta perspectiva de derrocada americano com óculos embaçados o que certamente lhes deturpa o resultado. 
Muito embora estejamos cansados dos americanos empaturrados de hambúrgueres, da crônica mundana de uma sociedade incrivelmente caipira e muito conservadora, somos realmente apaixonados por sua imensa capacidade de gerar pensamento. 
Aí está a questão que, no meu entender, neste século e nos próximos, se manterá como o diferencial de supremacia: quanto mais for capaz de produzir pensamento, maior será a capacidade de uma nação se manter à frente entre as lideranças mundiais. 
A questão que se avizinha é até quando a China,sem que produza saber compartilhado, evita que sua economia entre colapso? Manter uma sociedade faminta sob rédea curta deve ser um problemão proporcional à necessidade de produzir a cada vez mais. Mantê-la calada só às custas de amarras complexas. 
Há quem diga que o Brasil é o pais da vez, o futuro império...
Premissa errada. 
A geração de pensamento, a criação, não podem visar soberania já que esta não deve ser uma questão imposta, mas assimilada ao longo da história. O equilíbrio, ao que tudo indica, não mais se dará pela força física e, provavelmente, menos ainda pela questão econômica dada a fragilidade acelerada da chamada economia virtual e seus efeitos na economia real. 
A próxima vertente é cultural, pela capacidade de gerar e compartilhar formas de expressão, aquelas que dão ao homem a concreta visão de si próprio.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Dilemas Contemporâneos da Cultura (74)

by PEDRI ANIMATION BV

Não há melhor caminho para conhecer um teatro do que uma boa conversa com os técnicos. A pior coisa é quando o técnico nada tem a dizer. 
É preciso fazer um reparo antes de se crucificar o técnico.
A caixa preta é uma espécie de sacrário de uma categoria e não vai aí nenhum exagero ao qualificar o espaço com que sendo uma aproximação com o Divino, pois para quem vive e gosta de teatro ali há certa magia, certo romance e poesia. Por razões naturais, quem ali reside não vai abrindo os detalhes assim sem mais nem menos. Nada pior que um estrangeiro falando mal da casa alheia. 
Portanto, para saber do teatro é preciso conversar com os técnicos e fazer-se reconhecer por eles. Não há nada pior que um visitante que não conheça a liturgia do templo. Para ouvir dos técnicos o que é necessário também é preciso ter experiência. 
Superada esta etapa, se o técnico nada tem a dizer, a coisa é grave. 
Lembro que há muitos anos atras, fui a uma gráfica com um trabalho urgente e o proprietário chamou um técnico já velhinho e pediu a ele que tirasse as "provas com qualidade". As tais provas, vim a saber depois,  eram fruto de uns palitinhos de fósforo colocados estrategicamente no ajuste da chapa de off-set e que só o velhinho conhecia. Tirando o aspecto folclórico, imaginemos o risco e o tipo de resultado da tal gráfica no dia-a-dia. Isto é hoje impensável com as gráficas digitais e outros requintes que se espalham rapidamente condenando os equipamentos mais antigos à obsolescência.
Muito bem. Comete-se um erro grave quando não se mantém técnicos fixos nos teatros e isto acontece às duzias. Ou ainda quando se adota o regime de "um faz tudo". Os "factótum da cidade" ficam bem nas óperas como o Fígaro, em Il Barbieri di Siviglia, uma deliciosa comédia.
A preparação de novos técnicos é essencial não apenas para a operação correta dos equipamentos do teatro, mas também para sua manutenção. 
Imagine um teatro entregue a mãos estranhas (o visitante) por pessoas (os técnicos) que não conhecem a linguagem daquelas cordas, varas, refletores, panos e tecidos que se misturam com cabos de aço, fitas adesivas, sargentos,  parafusos, lâmpadas, refletores, gelatinas, cabos elétricos. 
Ainda que pareça um procedimento normal, em várias cidades brasileiras, isto ainda acontece numa frequência assustadora colocando em risco não apenas o patrimônio, mas principalmente artistas, os próprios técnicos e as platéias que utilizam os equipamentos.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Carlos Gomes no Mapa do Brasil (37)


Vista aerea do parque Ibirapuera em São Paulo, no dia da inauguração. 
Foto: Oswaldo Luiz Palermo/Estado

O Parque do Ibirapuera é uma referência paulistana, com museus, pistas de atletismo, quadras de esporte, uma vegetação exuberante, shows, restaurantes, teatro. Completa 57 anos com o vigor maduro desta idade.
Inspirado pelos Bois de Bologne (Paris), Central Park (Nova Iorque) e no Hyde Park (Londres), o prefeito de São Paulo João Pires do Rio, já na década de 1920 previa a transformação da área alagadiça num parque. 
A região conhecida como Ibirapuera, "árvore velha, podre" do tupi ibirá (árvore) e puera (o que já foi), transformara-se de uma aldeia indígena numa área de pastagens e chácaras. Manequinho Lopes, que dá nome a um viveiro de plantas do parque, foi o responsável por plantar eucaliptos  para drenar  a umidade do solo. Esta providência foi o que indiretamente possibilitou ao arquiteto Oscar Niemeyer e ao paisagista Roberto Burle Max serem contratados pelo Governador Lucas Nogueira Garcez para desenvolverem o projeto do parque que se tornaria uma das estrelas das comemorações do 4º Centenário de São Paulo, com a abertura da Feira das Indústrias em 21 de Agosto de 1954, apesar das obras em atraso.
Três dias depois da sua inauguração, sem nenhuma relação direta, claro, com um tiro no peito suicida-se Getúlio Vargas, que dá nome a várias ruas e avenidas no Brasil (exceção na cidade de São Paulo, onde apenas denomina um pequeno quarteirão num bairro da Zona Oeste).
É exatamente na Avenida Presidente Vargas onde termina a Rua Carlos Gomes na cidade de Belém, no Estado do Pará, uma homenagem ao compositor que faleceu naquela cidade em 1896 e que também dá nome ao tradicional Conservatório criado para que fosse seu diretor. 

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Dilemas Contemporâneos da Cultura (73)

Bandeira equivalente à Letra T (Tango)
É péssimo que aconteçam acidentes em espetáculos de qualquer natureza. 
Não se pode atribuir ao acaso, às circunstâncias ou a forças do além o fato concreto de um acidente. Nada é ruim até que aconteça uma coisa grave.
No post 71, comentei exatamente a necessidade de se trabalhar com estruturas equilibradas e tendo o risco como a principal questão a ser minimizada nos trabalhos que realizamos. 
Todos sabemos o quanto estamos dispostos a fazer com que nosso trabalho aconteça da melhor maneira possível.  
Nisto reside uma questão importante: se a "melhor maneira possível" contraria princípios elementares de segurança, é melhor tirarmos da expressão a palavra possível.
O esforço artístico só faz sentido se expresso da melhor maneira.
O fato é que muitas vezes, por razões que podem ser compreendidas em várias situações, são negligenciadas algumas providências que poderiam reduzir a zero as possibilidades de acidente. 
Do mesmo modo que um gestor acredita que extintor de incêndio em ordem não faz falta, um técnico de luz pode subir numa estrutura sem equipamento de segurança e achar isto normal como sendo da "sua profissão", um outro pode pendurar uma determinada parte de um cenário numa vara e presumir que ela aguenta o peso correspondente, ou utilizar um arame que diz ser tão forte quanto um cabo de aço, ou um diretor pode achar que determinada solução brilhante pode ser encontrada já que o ator entusiasta  topou correr o risco. 
São estas bobagens que provocam acidentes. Cinco ou 6 pessoas a mais pulando num camarote podem significar 400 ou 500 quilos justamente naqueles dois metros quadrados danificados na emenda da estrutura.
Todo cuidado é pouco.
É preciso treinar pessoas, qualificar técnicos, gestores ou colocar bandeiras (*) do lado de fora dos teatros.
Volto ao tema.

(*) bandeira do Código Internacional de Navegação Marítima correspondente à letra T (tango), cujo significado é mantenha-se afastado de mim.  No curioso Código, juntar duas bandeiras da letra P (Papa), por exemplo, significariam fique muito longe de mim (usada em navios pesqueiros por causa das redes), o que sem dúvida poderia também valer para alguns teatros e casas de show.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Dilemas Contemporâneos da Cultura (72)

Brighella - personagem da 
Commedia dell'arte


Tem palhaço, não é circo, vira Commedia dell'arte.
Este é um tema recorrente. Volto a ele sempre porque acho extremamente relevante que não nos esqueçamos da necessidade da alfabetização para as artes.
Pegando como referência a própria commedia dell'arte, na vida real fora dos palcos, dos teatros, dos museus, das galerias de arte, somos, a grosso modo, também divididos em zanni, vecchi e innamorati: os servos (de classes sociais mais baixas), os abastados de classe social mais alta e os amantes apaixonados que querem se casar. Todos personagens com dinâmicas próprias, com altos níveis de improviso, pois, afinal, não dá para saber antecipadamente o que acontece amanhã, ou daqui a pouco. Mas, há um roteiro. Ou deveria haver uma diretriz que nos encaminhasse melhor ao final sabido e esperado em que tudo, de um modo ou de outro se resolve.
Na Cultura é a mesma coisa. Precisamos fazer todos os esforços - criar alguns roteiros - para ampliar as relações da população com as artes eruditas. 
O raciocínio é simples. As artes populares são manifestações espontâneas do povo, confundindo-se conceitualmente com aquelas artes que se firmam via comunicação de massa, mas ambas já são de acesso facilitado pela origem (vindas do povo) ou estimuladas pela indústria cultural de massa. 
As artes eruditas demandam um tipo de aprendizado específico e uma das principais razões se concentra na sua característica essencial de propor vários níveis de leitura para os quais se referem os tais patamares de alfabetização para as artes e a convivência com os gêneros é a mais viável forma de alfabetização.
Não se trata de definir o que é melhor, mais isto ou aquilo, porque tudo se resume no principio de escolha. Ou seja, o cidadão tem o direito de optar pelo tipo de manifestação artística que lhe interessa. 
Cabe a nós artistas (e ao Estado) oferecer uma produção diversificada e culta contribuindo para que mais e mais pessoas, no exercício do seus direitos, conheçam as mais diversas formas de expressão e possam optar por aquelas que mais lhes dizem respeito. 

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Dilemas Contemporâneos da Cultura (71)

Ilustração de incêndio no Teatro Baquet
Porto - Portugal - 1888
Recentemente comentei da necessidade de se equiparem os teatros de forma a que com melhor infraestrutura se possam realizar espetáculos em melhores condições.
Quanto melhores as condições técnicas, maiores serão as possibilidades de utilização e, por consequência, maiores serão as probabilidades de espetáculos também melhores.
A questão não é meramente de caráter estético. 
Não se pode fechar os olhos para a segurança. São inúmeros os casos de acidentes decorrentes de teatros mal equipados ou mal dimensionados para suas atividades. 
Sem ser alarmista, corre-se muito risco no que diz respeito ao uso de equipamentos elétricos. Fazem parte da nossa realidade teatros e salas de espetáculos com emaranhados de fios nas coxias assustadores. Sem contar aqueles que, não tendo estrutura adequada, vivem do improviso de varas cênicas e varas de luz. 
Há mesmo gestores que se gabam de estarem a frente de determinados equipamentos não sei a quantos anos e, no entanto, as condições de trabalho deles e de suas equipes são miseráveis. O mérito deixa de ser o que se conseguiu trazer de melhorias para quem no teatro trabalha e nos níveis de segurança e conforto para o público e passa a ser o quanto não se fez para favorecer todos os interessados e a própria expansão da atividade cultural. 
Ora, sabemos que trabalhar em condições inadequadas não é demérito para ninguém, nem serve de desculpa para não se fazer um trabalho artístico sólido. No entanto, toda atividade cultural deve perseguir aperfeiçoamentos - principalmente técnicos e estruturais - para que a própria atividade em si seja ampliada e valorizada. 
Este diálogo entre artistas, gestores de cultura e administradores públicos deve ser permanente para que todos entendam e atuem na correção de problemas.
Caso não aconteça, a cultura para se uma atividade de alto risco. Apenas como lembrete, é só olharmos na nossa história, inclusive na história recente, quantos teatros no Brasil pegaram fogo. Não interessa a ninguém ver repetidos estes acidentes.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Dilemas Contemporâneos da Cultura (70)

Mesa de luz digital - Teatro Municipal de Araraquara
Os teatros têm um papel secular na socialização de pessoas. 
O ato simbólico de sair de casa e se reunir com outros para assistir determinado espetáculo tem uma importância muito maior do que o próprio ato em si. 
Trata-se de uma oportunidade de observar as pessoas em volta, encontrar conhecidos, compartilhar preferências, constatar a inclusão em determinados grupos, assemelhar-se a outros, viver experiências.
Em especial, as chamadas Casa da Ópera do passado em São Paulo e no Brasil colonial cumpriam este papel ao serem locais criados para a reunião de pessoas em torno da ópera em produções adaptadas às condições de cada um, do teatro de prosa, dos recitais, saraus, leituras de poesia. Com o passar dos anos, as antigas casas da ópera deram origem ou estimularam o surgimento dos teatros de maior porte.
O teatro como espaço tipicamente urbano preserva as funções originais sendo imprescindíveis nas cidades por seu caráter agregador.
Por esta razão, e considerando a nova dinâmica da Cultura encarada como um direito do cidadão, o reconhecimento de suas capilaridades e seu valor econômico, é muito oportuno que as prefeituras, através dos seus Secretários e Diretores de Cultura, passem a buscar mecanismos para dotar os seus teatros, auditórios e espaços correlatos da estrutura necessária para a recepção e produção de espetáculos de natureza compatível. 
Muitas vezes, um espaço fica anos sem receber uma revisão adequada dos seus ativos técnicos, ou mesmo um acréscimo ou substituição de equipamentos fora de uso. 
Existem, evidentemente, aspectos de legislação que não permitem muitas vezes a agilidade necessária. Também é certo que, ainda havendo certo desconhecimento - pouco ou nenhum interesse de conhecer- os benefícios reais da Cultura, não é simples se obterem recursos no âmbito dos município.
É recente, mas a Cultura passa a integrar o discurso político e ser vista como via de desenvolvimento. Incluir a melhoria de infraestrutura nos teatros, formação e aperfeiçoamento de mão de obra técnica nos orçamentos é um bom começo.