sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Virada Cultural no Theatro Municipal de São Paulo?

Ópera Pedro Malazarte - TMSP       Fev. 2012                    foto by Sylvia Masini

A matéria de capa da Folha Ilustrada de 1 de novembro de 2012, sob o titulo Virada Cultural? não esconde o pessimismo da dúvida sobre os futuros da Cultura na gestão do prefeito Haddad.  É também com apreensão que vemos na página 3 uma síntese da proposta do governo para a Cidade de São Paulo, especificamente no que diz respeito ao Theatro Municipal de São Paulo.
Segundo o jornal, o programa tem como proposta “Requalificação e Democratização do uso do Theatro Municipal” e, como solução apontada, a “abertura das salas para Festivais de teatro e poesia, além de dança e música”.
Toda redução pode levar a erros de avaliação. Pelo bem da cidade, espero que haja aí um erro desta natureza (segue).
O Theatro Municipal é um organismo complexo, cuja qualificação prevê a realização de espetáculos de ópera, de dança, de música de concerto e recitais. Para isto, o TMSP conta com duas orquestras, dois coros, o balé da cidade, seu museu e a infraestrutura adequada para viabilizar estas atividades, além das escolas correlacionadas como a escola de bailado e a de música. Estamos falando da Orquestra da Cidade (Orquestra Sinfônica Municipal), da Orquestra Experimental de Repertório, do Balé da Cidade. São grupos da Cidade de São Paulo, da maior cidade do país, da maior cidade da América Latina, uma das cinco maiores cidades do mundo. Sem qualquer ufanismo, não estamos falando de pouca coisa. É um tema de extrema importância para a cultura do país. O Theatro Municipal é um bem a ser preservado de maneira íntegra.
Todos que atuam nos segmentos relacionados à musica clássica e ópera sabem que além do público que lota os espetáculos, há uma demanda latente na cidade, com amplas possibilidades de desenvolvimento de plateias para os gêneros que, em primeira análise são essenciais para a formação intelectual da sociedade, para ampliação do seu reconhecimento de valores.  Não é uma citação banal dizer que o “homem melhora quando a cultura melhora”.
O Theatro Municipal é em si um espaço democrático e, como em qualquer teatro (público ou não) a admissão de plateias é feita sob venda de ingressos.
Claro que é uma leitura rasa imaginarmos que tornar um espaço democrático seja criar gratuidades, ou reduzir preços de ingressos.
A questão exige larga reflexão. Do mesmo modo que requalificar não deve significar modificar as funções do teatro, extinguindo, por exemplo, seus profissionais e passando a desenvolver outras atividades que não aquelas a que o espaço se destina, democratizar não deve significar autorização de uso daquele equipamento público para outras atividades que não aquelas adequadas à infraestrutura instalada.
Concordo plenamente que ao Theatro Municipal de São Paulo caiba um espectro do tamanho desta cidade.
Em primeiro lugar, é necessário e consequente estabelecer-se uma relação mais abrangente com São Paulo. O Theatro, ao contrário do que se projeta, precisa estar mais presente na vida da metrópole. Dentro dele há muito talento, muito gente qualificada, profissionais de altíssimo nível em condições de dar a contribuição exata que esta cidade precisa.
Tenho várias vezes comentado que a cidade deseja mais um ou dois teatros municipais para levar aos bairros este conhecimento acumulado e as produções apresentadas na praça Ramos já que os seus pouco mais de 1500 lugares são insuficientes para atender  a todos que gostariam de frequentar o teatro. Deve ser sua função social criar mecanismos que ampliem o acesso de mais pessoas à sua produção. Tarefa desafiadora que implica em novos orçamentos, na participação de novos agentes (privados e públicos) no processo.
Não é necessário um exercício muito complexo para se admitir a necessidade de se estabelecerem novas relações de custo de produções, de melhor aproveitamento do repertório constituído, da criação de corpos fixos de solistas, do estimulo ao surgimento de novos “ensembles” na casa (além do já excelente Quarteto de Cordas fundado em 1935 por Mário de Andrade e em permanente renovação artística), da ampliação da formação de mão de obra técnica estendendo a ação institucional a outros organismos parceiros, de estimular a publicação de literatura específica, de desenvolver o Museu do Theatro em padrões adequados, de posicionar o Theatro de maneira abrangente na comunidade internacional, notadamente rever seu papel na América Latina e a sua contribuição para a consolidação dos mecanismos de intercâmbio de produções e de pessoas,  de ampliar significativamente a presença do teatro na comunidade.
Sem dúvida, este é um desafio de gestão importante para a nova Prefeitura e somo a minha expectativa positiva à dos profissionais, da plateia constituída e do publico latente.  Afinal, estamos tratando de franquia de direitos constitucionais: acesso à Cultura.