segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Reflexão II - Ginástica para ouvir Carmen...

fitas
Cinco garotas alemãs, figurinos exageradamente coloridos, nas mãos intrigantes bastões com longas fitas. Não todas.

Uma delas usa uma corda o que levou a uma longa explicação de uma comentarista durante a transmissão da Copa do Mundo de Ginástica Rítmica.

Muita gente gosta de Ginástica Rítmica e é raro quem não goste da precisão dos movimentos, das apresentações de conjunto, das performances solistas, da maneira como criam soluções para as trilhas sonoras. Cheguei ao ponto.

Entre um zap e outro parei quando reconheci alguns acordes da ópera Carmen. Um trecho - um pedaço da famosa "Habanera" em arranjo techno, rápida, com interrupções ritmicas, uma recriação engraçada, mas muito adequada à apresentação das alemãs.

Ficou uma questão desta experiência. Não é maravilhoso poder ver uma sessão de ginástica e saber que a trilha criada foi baseada na ópera Carmen? Embora seja uma indagação simples, como fazer para possibilitar a todos a perspectiva da abrangência, do conhecimento amplo, da perspectiva de olhar para coisas simples do cotidiano e poder fazer ilações, tirar outros tipos de prazer além daqueles habituais? Como difundir novas dimensões?

Isto ficou martelando na cabeça enquanto outras meninas se esmeravam nas voltas de pivot 010 - aprendi isto ontem - ao som de um arranjo de Adiós Nonino, de Astor Piazzola, ao som de salsa. Depois disto, silêncio. Vai começar Besame mucho com castanholas, cantado em Russo.

E aquela indagaçãozinha martelando, martelando, martelando...

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Reflexões - I


Pablo Picasso - Mains aux fleurs


Apenas uma rápida reflexão.

Não é mais fácil pensar no bem comum? Se conseguirmos um resultado que seja bom para todos, certamente estamos incluidos no processo, não é verdade?

Então, é mais lógico pensarmos coisas que beneficiem o maior volume possível de pessoas.

É, dirão os realistas, mas a natureza humana é terrível. A história da humanidade está coalhada de exemplos em que alguns fazem o possível para prejudicar outros numa tentativa de obterem benefícios próprios. Ora, ora, senhores... Estes que assim agem, o fariam de qualquer modo, pois sua natureza não admite contrapartidas comuns. São mesquinhos, invejosos, maldosos, vis.

E o que fazer então?

Não sei. Cada um age sob os designios da sua formação, das suas relações, das suas fraquezas.

Do lado de cá, pois lados opostos existem, procura-se o bem estar coletivo, a edificação sólida e duradoura. Pode ser mais dificil, é verdade, mas é tão bom quando se vê o jardim pronto...

Qual o significado disto tudo?

Não sei. Mas acho que vale pensar a respeito.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Banco bom é o da praça...

design by Pablo Reinoso

"Banco bom é o da praça onde até beijo é de graça..."*
Os bancos mudaram de perfil no Brasil. Não passam de meia dúzia - incluidos aí os estatais - os tradicionais bancos brasileiros. Onde foram parar o Bamerindus, Sudameris, Nacional, BCN, Mercantil, Noroeste, organizações bancárias que tinham um compromisso com o país e se preocupavam em patrocinar diretamente as atividades de cultura?
Sem saudosismos e olhando o passado exatamente como tal, percebemos claramente que houve uma grande mudança nas características dos patrocínios nos ultimos anos. A Cultura perdeu patrocinadores tradicionais entre os bancos, a indústria automobilistica e, claro, na indústria de cigarros.
A presença de empresas globais no Brasil ainda não alterou o quadro de patrocinios à Cultura, muito embora a grande maioria delas tenha presença ativa no segmento nos seus paises de origem.
Certamente teremos um período de adaptação e os produtores de cultura precisarão se preparar para atender à demanda de qualidade que certamente virá no curto prazo. Há alguns, quando participei como debatedor ao lado de vários personagens da produção cultural num Encontro Nacional, lembro-me que um deles, dono de uma das maiores agências do país disse com todas as letras que as empresas do setor não se entusiasmavam com os projetos culturais. Complementou dizendo que isto se dá pela intangibilidade e pela dificuldade de mensurar resultados que o meio possui e que dificilmente uma agência deixaria suas receitas convencionais para apostar num produto criativo sobre o qual não tinha nenhum controle.
Esta avaliação até hoje não me sai da cabeça. Como demonstrar às agências e empresas que investir em Cultura é bom sob o ponto de vista das marcas e bom para o desenvolvimento do país? Basta explicar que Cultura Erudita é via de desenvolvimento? Que a Economia da Cultura alimenta uma rede imensa?
A questão permanece.
(*- by cleberpapa)

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Uma agenda para ópera.

Cleber Papa - 2008


Cada um monta como quiser sua companhia de ópera, não é verdade? Para isto existe a livre iniciativa.

Por outro lado, como é minha proposta pensar a Cultura no Brasil a partir da visão mais abrangente possível da nossa realidade, não posso deixar de refletir e questionar o projeto de ópera lançado nas edições de hoje da Folha de São Paulo e o Estado de São Paulo. Afinal, no lançamento estavam reunidos o Exmo. Sr. Ministro da Cultura e o maestro que empresta seu prestígio ao projeto.

Não fosse a presença do Ministro, não despertaria nada além da minha eventual curiosidade profissional, uma vez que seria um lançamento de um produto cultural qualquer, no caso, uma série de eventos sob o guarda-chuva de uma provável companhia de ópera, com certo cacoete mercadológico.

Não fosse a figura do polêmico maestro, provavelmente esta conversa não sobrevivesse a pouco mais de algumas linhas considerando inclusive o que foi apresentado comedidamente pelos veículos de comunicação. Primeiro, vamos a isto.

Com é prática nos veículos sérios, as aspas dizem muito. Como por exemplo, vender o tal produto com um desenho animado projetado no fundo do palco que "produzirá efeitos cênicos de grande comicidade e teatralidade inalcançáveis em encenações convencionais" (Revista Concerto -http://www.concerto.com.br/contraponto.asp?id=373http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20091113/not_imp465668,0.php).

Respeitado o direito de opinião, de criação e de julgamento dos donos do projeto, acho lamentável que uma companhia que se propõe de formação ou coisa parecida, negue de saída a essência da própria ópera que é a capacidade ilimitada de criação dos encenadores. Esse ranço autoritário da supremacia do saber me parece incompatível com os interesses das artes no Brasil. A citação em referência e o próprio contexto que envolve algumas afirmações do projeto conforme explícito nas matérias dos principais jornais, também soam de análise demasiadamente curta.

O que está em torno desta questão é muito mais complexo, entretanto. Considerando a abrangência da Cultura Erudita e sua condição de instrumento de formação por excelência, sua capacidade de estimular o pensamento e de criar mecanismos de entendimento do sentido de nossa identidade, estamos discutindo - e é isto o que interessa para o país - quais são os modelos e formas de inclusão, de que maneira vamos criar parâmetros sustentáveis para a rede econômica da Cultura, de que forma as empresas privadas podem e desejam contribuir para este processo.

Em 10 anos o Brasil mudou. A dinâmica é outra. Estamos projetando, desejando, instituições modernas, sem ranços individualistas, sem autoritarismo ou paternalismo. Nosso exercício diário é perceber onde os modelos antigos se repetem e isto não nos interessa. Precisamos construir a confiança nas pessoas e nas instituições.

Citando o economista Partha Dasgupta (Economia - Ed. Ática), "a falta de cooperação não requer tanta coordenação quanto a cooperação. Para cooperar as pessoas precisam não só confiar umas nas outras como também organizar-se por uma norma social que todos compreendam. É por isto que é muito mais fácil destruir uma sociedade do que construí-la". A Cultura vive este desafio tanto no plano macro, quanto no micro-econômico. Aliás, no post anterior, refleti um pouco sobre outros aspectos desta questão.

Ficarei somente nisto po renquanto. Volto ao foco e interesse deste texto.

A presença do Ministro é justificada pela frase "estamos sim devendo uma política sistemática para o setor" (O Estado de São Paulo http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20091113/not_imp465668,0.php ).

Aqui reside o seu mérito pessoal nesta história e a ópera fazendo parte da agenda de governo, muito embora ainda convivendo com certa ópera "Made in Brazil" (http://www.cultura.gov.br/site/2009/11/12/opera-made-in-brazil/).
Ressalte-se também que a Funarte, com Sérgio Mamberti e seu diretor de Música Cacá Machado já têm dado muitos sinais de uma intensa preocupação com o segmento da música erudita e ópera e possuem um canal de diálogo aberto com o setor.

Porém de fato, falta ao Governo Federal um programa estruturante para a área da ópera.

Volto a insistir na necessidade urgente de se discutir uma política consistente para a ópera no Brasil. Volto a cobrar posições sólidas do Ministério nesta área como já expressei em várias cartas e pessoalmente em reunições em alguns Estados.

Não nos basta fazer eventos que acontecem aqui e ali para sobrevivência do setor. Tenho comentado nos últimos posts as posições recentes do Ministro Juca Ferreira e minha concordância com vários argumentos e perspectivas que são do nosso interesse como artistas, produtores e platéia. E continuarei fazendo isto.

O Brasil mudou, está mudando. Buscamos qualidade, respeito aos artistas, queremos pensar o futuro. Somos sérios, orientados para o bem estar público, queremos um Estado que nos dê respostas e que discuta processos, mecanismos. Não somos um só. Somos um grupo, uma sociedade, cidadãos preocupados com o caráter associativo, organizacional de base. Estamos prontos para discutir e - aonde não estivermos - prontos para nos prepararmos para este futuro que virá, que já bate nas nossas janelas.

Ao contrário do que disse o maestro, segundo o jornal O Estado de Sâo Paulo, o Ministério da Cultura precisa criar políticas, precisa pensar programas. O papel dos artistas, criadores, produtores é colocar isto em discussão e de forma republicana, desenvolvendo e propondo práticas sintonizadas com o interesse coletivo.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Meu nome não é Johnny.

The dance of youth - Pablo Picasso

O papel das artes eruditas é principalmente favorecer a reflexão. No post anterior, neste blog, lembrei a afirmativa do Ministro da Cultura de que "é necessário preparar o país e ampliar nossa capacidade de pensar e compreender o mundo contemporâneo".

Este é sem dúvida um grande desafio.

Neste sentido, o filme, lançado em 2008, Meu nome não é Johnny - vivas a Selton Mello e Cleo Pires - como todo bom fazer artístico sugere uma enorme possibilidade de reflexão.

O que levou um jovem carioca, de classe média, com todas as condições culturais, sociais e financeiras para viver dentro de um padrão acima da maioria no Brasil, a se tornar o Rei do Rio? As ilações são as mais diversas possíveis e cada um faz sua leitura conforme lhe parece o espelho.

Não é assim nas relações humanas?

Terão sido a droga, as associações com o tráfico, o dinheiro fácil, a maneira como este ambiente parece favorecer a arrogância, o exibicionismo, a idolatria por dependência ou exclusão - coisas rasteiras da natureza humana - os mecanismos que delinearam aquele destino, modificando uma história que poderia ser traçada num modelo de equilíbrio e de menor desperdício daquelas qualidades individuais?

Muito bem. Trazendo esta mesma questão à área da Cultura, devemos estar atentos ao futuro.

O Brasil se prepara para o seu próximo passo em busca da qualidade, do aperfeiçoamento contínuo e desafiador das instituições, da continuidade das reformas estruturais e, principalmente, pelo inevitável e necessário fortalecimento das atividades de produção de Cultura.

Parece-me que há um incontrolável movimento de estruturação do saber, do acesso, da disponibilização dos "ativos" culturais. A sociedade aprende a cobrar novas posições do Estado e da produção cultural e os valores do conhecimento estão a cada vez mais explícitos.

Estes tempos colocam a arte em foco e sob holofotes. A arte e seus artistas.

Cheguei ao ponto. Nestes tempos que virão, criadores, produtores, pensadores, precisamos estar atentos ao novo pacto - digamos civilizatório - que está em curso sob a égide da ética, das relações cooperadas e associativas, da troca de informações, do compromisso com a qualidade, do respeito aos indívíduos, à criação, à formação de novos profissionais. Temos um papel importante na preparação do país e isto somente será possível se levarmos em conta a dinâmica do diálogo, da sensibilidade, da contribuição coletiva.

Afinal, que país queremos, que politicas culturais e formas de participação desejamos?

É bem provável que seja pensamento dominante a certeza de que desejamos políticas estruturantes e programas decorrentes desta nova ordem plural. O Brasil é um país de diversidade ímpar, constituído de coletivos hoje plenamente identificados, com condições institucionais que permitem avanços rápidos e seguros. Isto significa que precisamos ter clareza - e certa dose de idealismo - na condução dos próximos passos para vivermos uma verdadeira experiência republicana.

Não dá para aceitarmos o convívivio com a arrogância, o autoritarismo, nem às custas de manobras de poder, aspectos freqüentes em maior ou menor escala em algumas áreas da Cultura.

A arte é anárquica e é ótimo que seja, mas as condições para que se estabeleçam o criar e o questionar precisam de certa ordenação. Hoje - citando Paul Valèry - estamos ameaçados por duas calamidades: a ordem e a desordem.

São necessárias instituições sólidas, isentas, éticas, orientadas para o futuro, sem ocasionalidades e com status político aberto para a prática e proposição de novos temas e abordagens sob a ótica determinante do interesse público e transparência.

A tirania e a construção na mentira não devem ter espaço.

Esta é a clareza necessária ao pacto. O diálogo é a forma de construção e os corpos artísticos devem estar prontos para alimentar expectativas de cidadãos deste futuro próximo: cidadãos com aguda percepção crítica.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A Cultura, o pré-sal e o Brasil

Antoni Tapies

Muito embora discorde da deposição de esperanças no advento do petróleo "pré-sal" como já manifestei neste blog (ver post de 11/setembro/2009 - aliás, que data, hein?) e não seja o melhor amigo do Vale-Cultura, concordo com praticamente tudo que o Ministro Juca Ferreira expõe no texto na seção de Tendências/debates do Estadão do dia 5 de Novembro com o mesmo título deste post.

De fato, acredito que o Brasil esteja vivendo sob uma perspectiva de grande avanço na área da Cultura e, ufanismos à parte, há uma evidente posição favorável nos circulos internacionais.

Como disse o Ministro, "não se assume um papel de liderança apenas porque se tem dinheiro. É preciso ter valores próprios e propostas exequíveis para todos. Nada disso será possível sem disponibilizarmos educação de qualidade e acesso pleno à cultura para todos os brasileiros... Daí o acerto em tratar a cultura como parte de um projeto de nação, como parte da preparação do país para enfrentar desafios e ampliar nossa capacidade de pensar e compreender o mundo contemporâneo, construindo um desenvolvimento sólido e irreversível."

O grifo é importante e necessário para ressaltar que esta frase encerra os principais problemas da Cultura. Um pouco mais à frente no texto, o Ministro conclui que "não há como pensar uma grande nação sem um desenvolvimento cultural intenso".
De fato. A Cultura é via de desenvolvimento e a grandeza das nações se mede pela maneira como são preservados os direitos dos seus cidadãos no acesso à educação, à saude, à cultura e ao meio ambiente em equilibrio. Estes são direitos inseparáveis e interdependentes por serem a razão manifesta do outro e, portanto, de caráter estratégico na construção de uma nação.
Isto tudo sugere uma reflexão.
Todas as questões relativas ao pensamento - abrangência, conteúdo e modelo - passam pelos graus de "alfabetização" do indivíduo e a Cultura erudita se apresenta como proposta de excelência para favorecer este aprendizado uma vez que dá vazão a formas de interpretação em diversos níveis como exercício permanente.
Não dá para pretender caminhos diferentes. É necessário investir pesado na produção da Cultura erudita. Isto não significa abandonar os esforços hegemônicos em torno da Cultura popular. Não. Pelo contrário, todos os esforços para entender e expor a nossa ainda desconhecida e complexa identidade cultural são necessários. Mas é preciso entender com urgência que investir na Cultura erudita é investir em formação de mão de obra e de público.

Precisamos preparar o Brasil com urgência. É preciso incluir a Cultura erudita na agenda do Governo, das empresas e instituições.
Quando revelo minha displicência com relação ao Vale-Cultura é simplesmente porque vejo nele apenas mais uma medida - necessária diga-se - de facilitação do acesso. Isto e não mais que isto. É tão importante quanto as campanhas do tipo "Vamos ao Teatro" ou coisa parecida. Sou displicente, mas não inimigo.
Acho que Cultura como qualquer atividade economica, se desenvolve com mecanismos que favoreçam a produção. Não é assim quando cai o desemprego? Não é assim nas crises? Determinado setor entrou em declínio, investe-se - o governo diga-se - pesado na produção.
Pois é. O Vale-Cultura não é isto. É um instrumento de investimento no consumidor. Não se trata de discutir a validade disto. O fato concreto no Brasil é que surge uma nova classe média disposta a aprender, a valorizar seus ativos pessoais e a consumir cultura. Isto é fato. Mesmo que ainda este novo grupo não saiba disto, muito em breve, incluirá investimento pessoal em cultura como prática. É inevitável e é fantástico que isto aconteça.
Mas para que a equação dê certo, é necessário que produtos culturais de qualidade adequados à realidade brasileira, aos novos formatos e mercados que se formam possam ser viabilizados. Para isto, é necessário investimento em produção, parcerias concretas com instituições que possam viabilizar bons produtos culturais e que, atuando de forma sistemática, com princípios e valores voltados para a construção de uma nação solidamente desenvolvida, possam gerar empregos, formular programas e alimentar a ampla rede econômica que se forma.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Cultura e Poder

by cepê
" A Cultura é uma maneira de enxergar o que acontece no país". Com esta frase, a atriz Dina Sfat, numa antiga entrevista para um canal de televisão, repetia o que já virara um bordão conhecido de todos os que trabalham na área da cultura, educadores, pensadores, intelectuais.
Ora, esta transparência que a Cultura favorece não interessa a todos os governantes.
Esta é uma questão de fundo complexa.
Quantos são os de fato democratas que aceitam financiar um determinado programa, uma peça de teatro que fala mal de determinado gestor, de grupo ou categoria empresarial, ou prática de governo? A ópera, cuja base criativa é o comportamento humano e suas peculiaridades afetivas, políticas e sociais é um instrumento que interessa promover? E a pintura? A dança?
Como vivemos de fato uma democracia relativa já que experimentamos realidades muito diversas em todo o país, que expectativa podemos ter de unidade? O Brasil tem em torno de 5.500 municípios, com uma cadeia de poder extremamente complexa.
O conjunto de formas de expressão da identidade de um povo é aquilo que constitui aquilo que chamamos de Cultura. Isto significa que todas as formas de expressão sejam ditas populares ou eruditas têm o mesmo peso na constituição da identidade de uma nação. A Cultura popular - as formas de expressão populares - tem um caráter repetitivo e de transmissão pela repetição, é de fácil compreensão e com acesso estimulado pelos veículos de comunicação de massa, data sua fácil assimilação e alto poder capacidade de gerar entretenimento rápido e de baixo custo. A Cultura erudita, por sua vez, exige outros graus de "alfabetização" já que permite niveis de "leitura" diferentes. Qualquer forma de expressão artística permite vários níveis de leitura e esta é uma característica essencial da arte e não arte. Mas o acesso a estes níveis diferentes é parte do grau de alfabetização de cada consumidor da arte.
O acesso à Cultura, mais precisamente a inclusão cultural - a "alfabetização" para a Cultura - é um dos direitos fundamentais do homem, da mesma maneira que o direito à Educação, à Saúde e ao Meio Ambiente sustentável.
Ao nos preocuparmos com a maneira como os diferentes níveis do poder político e empresarial se relacionam com a Cultura, estamos de fato chamando a atenção para a necessidade de articulação da sociedade através de suas entidades representativas constituídas para a preservação de um direito inalienável. É preciso ativar as consciências, estimular a reflexão e a discussão para estes problemas e questões que influenciam o fazer cultural.