quinta-feira, 5 de maio de 2016

Dilemas Contemporâneos da Cultura (106)

Projeto Tamar - Divulgação

Tartarugas são engraçadas. Raros são aqueles que não gostam destes bichinhos de casca grossa, olhar plácido, obrigados pela própria natureza a carregar sua casa por onde andam. O Tarugo (personagem da turma da Mônica, do Maurício de Souza) se apresenta como tartaruga, mas é um jabuti (dizem). Deve ser mesmo uma tartaruga disfarçada ou ter um probleminha de identidade que não nos cabe explicar. O fato é que na sua casca-casa ele guarda um monte de coisas.
Quem não conhece o clássico da Tartaruga e o Coelho? A Tartaruga é conhecida por viver muito e andar devagar. Talvez por isto, ganhe sempre do coelho nos desenhos animados, nas fábulas infantis. 
Também são clássicas as imagens (quando não o próprio bichinho) das tartarugas indo para o mar. E a desova que precedeu este fenômeno mágico do nascimento? Tudo isto é lindo e os projetos de preservação deste ser maravilhoso estão por aí para quem quiser contribuir, apoiar etc. O projeto Tamar é o mais conhecido. A WWF (a entidade que tem a cara de um ursinho panda) e tem inclusive um app muito legal (apps para o planeta Terra) que também fala das tartarugas, da arara azul, ursos e outras espécies. 
A Tartaruga não me saiu da cabeça hoje, porque neste momento caótico, tanto político, quanto econômico com suas consequências nas relações sociais, que estamos vivendo, vê-se de tudo. Até tartarugas em árvores. 
Tartarugas em árvores? Este é outro clássico, porque todo mundo sabe que tartaruga não nasce, nem sobe sozinha em árvore. Se está lá, é porque alguém colocou. Para quê? Por que? Talvez a história nos ajude a perceber os autores destas façanhas dentro em pouco. Aguardemos. 
Isto tudo remeteu de forma análoga ao anúncio pelo Ministério da Cultura de um crédito de milhares de reais disponíveis no Banco do Brasil para financiar a atividade dos pequenos empreendedores principalmente.
Esta notícia não é apropriadamente uma tartaruga em cima da árvore, nem tampouco lembra a tartaruga em sua casca, exceto pela lentidão com isto foi anunciado. A exemplo da regulamentação ou aperfeiçoamento do conjunto de possibilidades reais da Lei Rouanet que caminharam minimamente, a passos de tartaruga, demorou muito, mais de 12 anos para que algo aparentemente óbvio e totalmente previsível nas possibilidades de financiamento tenha sido anunciado. 
Mas - sempre tem um mas, infelizmente a nova linha de crédito (se é que existirá e que será colocada em prática) está lastreada em recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador - do BNDES) que, ao que parece, possui problemas enormes de déficit ou coisa parecida. E ninguém falou, ou perguntou, quais serão as garantias exigidas do pequeno empreendedor (aquele que todos sabem não possui garantias para o crédito) para que tenha acesso à maravilha financeira de juros baixos pelo Banco do Brasil.
Em sã consciência, dá para levar isto à sério? No meio de um processo de impeachment? Ás vésperas da data fatal do "velho" governo? E o que é pior, sendo este suposto crédito liberado uma semana depois da provável data de afastamento da equipe que hoje já não comanda o país? E o dinheiro do pre-sal para a Cultura que não acreditei quando foi dito que viria e nos salvaria pra sempre? E o Vale Cultura, como anda esta ferramenta que injetaria milhões na economia do setor? 
Estou cansado disto. Muita gente está cansada disto. Estou com uma Tartaruga enorme na cabeça (juro que não fui eu quem a colocou). Muito semelhante às tartarugas que o Jasper Danckaerts encontrou nas tribos americanas sustentando o mundo.