quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Diálogos Contemporâneos da Cultura (101)

Máscara "A ópera em São Paulo hoje"- por CP

Reflexões sobre as consequências e as inconsistências do que representa a acusação de desfalque de R$18 ou R$20 milhões do orçamento do Theatro Municipal amplamente difundida pelos veículos de comunicação em reportagens recentes. Qual a sua origem, seu significado e efeitos na percepção pública da nossa categoria?

Parte IV


Não quero passar dos limites, por que o exagero pode parecer desrespeitoso, maledicência, pode ser traduzido por inveja ou corruptelas de caráter que não me dizem respeito.

Mas, não passando dos limites, fica difícil acreditar que a ópera La Bohème, a ser reposta pelo teatro, venha a custar um milhão, novecentos e oitenta reais, como divulgado pelos veículos de comunicação, mesmo com moedas estrangeiras nas alturas. Por que, se o cenário* já construídorestringe-se a um quadrado de uns 4m x 4m ou 16 m², constituído de algumas peças de mobiliário, com um bonde cenográfico fixo em um dos atos, e alguns elementos de cena e, portanto, com reduzido custo de reparos, se necessários? Com cenários prontos, com luz possível de ser feita com os equipamentos que o teatro possui, com uma sonorização mínima, com sistema de legendas já pago, sem qualquer dificuldade na caracterização, com figurinos já executados, com eventualmente um ou outro ajuste realizado internamente, sem custo adicional de orquestra e de coro, sem necessidade de contratação  com elenco nacional de excelente padrão, perfeitamente contratável, por que um valor tão elevado?

Mesmo que justifiquem este orçamento, não é sadio para a atividade, não é criativo, não é inteligente, não é aceitável à luz das próprias dificuldades por que o teatro alegadamente passa.

Um amigo, contador, com quem conversei, ponderou que “como contabilista, não tenho por que, nem como julgar o interesse artístico, a qualidade – palavrinha abstrata – de um trabalho deste, mas como deve ter pensado o Controlador do Município, somando todos os números que se fala aqui e ali, a conta não bate. Alguém tem que explicar isto”.

Vamos ao ponto. Voltemos ao contrassenso com que comecei esta série de reflexões.

Não é um absurdo, um total contrassenso, um abuso da nossa capacidade de discernimento, que a Prefeitura venha a público dizer que só acionou a Controladoria Municipal depois que o Diretor Artístico do teatro, um empregado de altíssimo escalão, magnificamente remunerado para não criar nem levar problemas, comentou com o prefeito que havia algum problema na gestão? Soma-se a isto a Prefeitura afirmar ter agido, somente após o pedido de demissão de outro diretor quando este alegadamente disse ter saído por “divergências pessoais, interferências exteriores ou o embate entre visões distintas”?

Algo não bate, como diria meu amigo contador. 

(*) Quando vi o espetáculo, levei um susto quando a cortinas se abriram. Levei um cutucão "mediúnico" com a cenografia incrivelmente parecida com a que desenhei em 2010 para a produção de La Bohème na nossa Companhia itinerante. Por incrível que pareça, a mesma utilização do espaço delimitado por um quadrado, em medidas incrivelmente parecidas, com o mobiliário teatral utilizando os mesmos elementos que criei para nossa montagem. No nosso caso, um quadrado delimitador do espaço "não teatro" como desejei para o espetáculo. Sem pretender ser crítico, gosto mais da nossa encenação que, embora seja um texto "curto", possui uma dinâmica mais ao espírito da juventude com que vejo os personagens. Gosto também da maneira como os objetos de cena se transformam em outros numa dinâmica muito particular da nossa Companhia. Não sei quem criou o cenário da Bohème do Municipal e esta é uma demonstração de como uma boa ideia quando está no ar, pode ser utilizada por dois artistas que não se conhecem, mas que têm convergências criativas.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Diálogos Contemporâneos da Cultura (100)

Máscara "A ópera em São Paulo hoje"- por CP


Reflexões sobre as consequências e as inconsistências do que representa a acusação de desfalque de R$18 ou R$20 milhões do orçamento do Theatro Municipal amplamente difundida pelos veículos de comunicação em reportagens recentes. Qual a sua origem, seu significado e efeitos na percepção pública da nossa categoria? *
Parte III


As atuais denúncias públicas de desvios de dinheiro feitas pela Controladoria Geral do Município e do Ministério Público Estadual são muito ruins para o Theatro Municipal de São Paulo (TMSP). Como se trata de uma atividade realizada coletivamente, não dá para imaginar que os supostos desvios sejam calculáveis como probabilidade sujeita a variáveis aleatórias independentes, mas como resultado de mecanismos interdependentes.

Quem decide custos, negocia contratos, define elenco com agentes e produtores, não participa, não sabe dos processos de contratação como foi dito nos veículos de Comunicação?

Como assim? Um diretor artístico de qualquer teatro do mundo tem a responsabilidade – a obrigação – sob pena de ser dito incompetente e incapaz – de conhecer os custos que o teatro está pagando. Para isto, além das atribuições diretas, possui uma equipe que trabalhando sob normas, lhe oferece, na melhor dos modelos, alternativas confiáveis. É sua responsabilidade decidir o que será feito e até dizer quanto está disposto a pagar para ter este ou aquele resultado. Não se trabalha numa ilha criativa imaginando que tudo dá. É dá função trabalhar sob pressão de custos, fazer mais com menos, planejar, desenvolver, criar, negociar.

E não atribuam incapacidade de gestão a tamanho de ego. A ópera já teve, no passado, alguns poucos casos  de ególatras possessos que relativamente deram certo. Claro que isto, no passado.  

Não venham dizer que para fazer alguma coisa é preciso ser controverso, provocativo ou outros adjetivos desta natureza. Para ficarmos apenas na ópera, se usarmos esses adjetivos para alguns gestores, parodiando Suassuna, que adjetivo usar para aqueles que realmente têm feito a diferença nos seus teatros em outros países? Aqueles que além de provocação e controvérsia criativa, atuam com austeridade e rígido controle orçamentário, em situações de crise econômica, social e politica e, produzindo como nunca, sabendo que ampliar a ação cultural é desejável e necessário quando as ameaças à sociedade são visíveis. 

Temos que gritar no meio da arena: “Estamos no século 21”!

Como nos satisfazermos com um modelo que transforma um Teatro Monumento em algo circunscrito a pouco mais que uma ou duas quadras no centro da cidade, incapaz de ampliar suas possibilidades, de atender a missão de Estado servidor que um equipamento desta dimensão possui? Não é disfarçando sua ação com meia dúzia de bons cantores fazendo o melhor de si num terminal de ônibus que se fará isto. Está errado.

As matérias recentes, com anúncios de reduções e retomadas de temporadas, com menções de orçamentos diferentes, com projeções de custos inconsistentes entre si, não soam como algo sério, ou que deva ser levado a sério.

Não é possível imaginar que – transformados em fontes – os jornalistas responsáveis pelas matérias publicadas até aqui não sejam sérios e capazes de reportar corretamente o que ouviram. Estou com eles nisto e não acho aceitável que se atribua a especulação da mídia qualquer questão que contrarie os desejos pessoais dos envolvidos. Garanta-se sempre o direito de defesa - isto é inabalável, mas preserve-se a liberdade de investigação e de opinião, principalmente numa questão tão delicada e sensível para milhares de profissionais em todo o país. Ah, sim. A ópera possui no Brasil mais de 5.000 pessoas potencialmente envolvidas direta ou indiretamente na formação, criação e produção. É pouco. Por enquanto. 

O orçamento do TMSP divulgado gira em torno de cento e tantos milhões de reais, um número que não é preciso e variou conforme o aumento da crise econômica e alterações entre a expectativa x captação real de recursos via leis de incentivo. Na última versão, simultaneamente à venda de assinaturas, foi anunciado que a temporada de 2016 terá apenas 3 novas produções de espetáculos e uma reposição. Para quem não sabe, reposição é a retomada de uma produção pronta do passado e sua reapresentação na nova temporada. Como em 2015, antes do comunicado do desfalque, houve cancelamento de apresentações tendo problemas de orçamento como justificativa, a situação é agora mais grave.



(*) Quando comecei este blog há alguns anos, publiquei na apresentação que "entre outras coisas, escrevo sobre Cultura. Sempre que possível, ponho em discussão temas gerais da atividade cultural, estimulando a discussão sobre a Cultura erudita e os mecanismos de alfabetização para as artes. O foco profissional é a Ópera, a Música Erudita, o Teatro e a Difusão Cultural. Acredito na convergência entre as artes, na independência de pensamento, no diálogo, na negociação franca, na liberdade de expressão, no Estado franqueando direitos sociais e políticos, no direito universal de escolha do cidadão e particularmente na decisão de quais artes são de seu interesse. Busco estabelecer parcerias com as mesmas sensibilidades. Sempre com Rosana Caramaschi, companheira inseparável e norte verdadeiro. Meu blog comemora Carlos Gomes sem o exagero do fã-clube, mas como referência da universalidade da cultura." 
Não mudei a disposição original e, revendo algumas coisas escritas há tanto tempo, são raras as vezes que identifico coisas que mudaria se reescrevesse no mesmo contexto. Infelizmente, vários desabafos e "previsões" se concretizaram. Mas, tem sido um delicioso exercício, apesar de não haver tempo para a regularidade diária como gostaria. Gosto dos "Carlos Gomes no mapa do Brasil" e continuarão firmes. Já os "Dilemas" sempre foram as colunas mais representativas para mim. Chegamos ao número 100. À primeira série de 100. Espero fazer mais. Só lamento que o número 100 tenha sido motivado pelo epicentro de um problema tão grave. 

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Dilemas Contemporâneos da Cultura (99)



Máscara "A ópera em São Paulo hoje"- por CP

Reflexões sobre as consequências e as inconsistências do que representa a acusação de desfalque de R$18 ou R$20 milhões do orçamento do Theatro Municipal amplamente difundida pelos veículos de comunicação em reportagens recentes. Qual a sua origem, seu significado e efeitos na percepção pública da nossa categoria?
Parte II

Algo está insustentavelmente errado nas atividades naturais do teatro. Quem acompanha o noticiário sabe que o TMSP (Theatro Municipal de São Paulo) tem sido permeado de denúncias em frequência indesejável, sempre relacionadas às práticas da área artística no relacionamento com artistas nacionais e estrangeiros, além de atritos no âmbito interno do teatro.

Dada a dimensão do “estrago” (processos e protestos) ao longo deste período, não pode ser esta a maneira correta de se relacionar com pessoas. Profissionais não devem ser desqualificados, mas a eles dar-lhes luz. Não se pode construir Cultura num ambiente de relacionamento tão desastradamente rudimentar e alicerçado na superexposição deste ou daquele individuo. Isto não dá. Não pode ser assim. 

Em mais de uma oportunidade fomos chamados de sociedade provinciana , quando não há nada mais provinciano do que se dizer isto, do que dizer-se belo quando estes juízos não são do sujeito, mas daqueles que o observa. Não há prazer renitente em si próprio. 

Chamar esta de sociedade provinciana é um desatino. Mas, pensemos um pouco. Se há provincianismo num determinado grupo e isto é ruim, não é exatamente o papel da Cultura fortalecer os processos de criação do próprio grupo para combate-lo? Se não há provincianismo e isto é bom, não é mesmo o papel da Cultura, ampliar e favorecer os espaços criativos para que a arte se sobressaia?

Esta é outra questão interessante. Nós, artistas que vivemos do espetáculo, da criação e da realização de obras de arte, nesta manifestação tão complexa que ora é vista como entretenimento, ora como reflexão identitária, sabemos que ópera é fruto de uma criação coletiva. Muito embora caiba a um diretor a criação conceitual o espetáculo, e agir para que, do regente e elencos ao operador de luz, todos entendam e trabalhem de forma sinérgica, também sabemos que o resultado final é derivado da intervenção individual em associação coletiva. Se não for assim, não acontece, não se aperfeiçoa, não há como desenvolver.

Esses fatos que ilustram o cenário do TMSP, em atos intermitentes, culminando com as atuais denúncias públicas de desvios de dinheiro feitas pela Controladoria Geral do Município e do Ministério Público Estadual, não pode ser assumida como uma sucessão de variáveis aleatórias independentes, como adorariam teóricos como Moivre ou Laplace ou seus sucessores Bernstein, Tchebyshev, Lyapunov e outros. 

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Dilemas Contemporâneos da Cultura (98)


Máscara "A ópera em São Paulo hoje"- por CP


Reflexões sobre as consequências e as inconsistências do que representa a acusação de desfalque de R$18 ou R$20 milhões do orçamento do Theatro Municipal amplamente difundida pelos veículos de comunicação em reportagens recentes. Qual a sua origem, seu significado e efeitos na percepção pública da nossa categoria?
Parte I

Sem dúvida, há um contrassenso nos perseguindo.

Nós diretores, regentes, cantores, músicos, atores, bailarinos, cenógrafos, designers – artistas da ópera – deveríamos ir ao teatro iluminados pela sóbria alegria do trabalho (expressão que tomo emprestada de Merleau-Pointy).

No entanto, há três anos um sombrio desprazer nos envolve quando se fala do Theatro Municipal de São Paulo.

Criadores foram sistematicamente afastados e as consequências desta atitude não serão de fácil reparação. Instalou-se um modelo em curso indesejado e perdulário.

Sob uma retórica inaceitável alega-se: 1) A casa já possui vários artistas nacionais; 2) Gera empregos com remuneração elevada; 3) O presente organizou o passado (como se fosse desajustado); 4) Finalmente o pior: justificam-se as ações em curso como uma promoção do denominado teatro a uma maravilha mundial.

Quanto aos empregos e artistas da casa, como se diz no jargão, nada a subtrair.  Afinal, é de se esperar que assim seja num teatro que pretende ser capaz de traduzir em conteúdo as expectativas culturais de uma sociedade que sequer sabe concretamente o que lhes é de direito nesta matéria. Uma sociedade que entre leigos e versados, laicos e devotos, muitas vezes se protege criando um arrazoado de opiniões e princípios guindados à condição de absolutos, mas que, no fundo, são resultado apenas da falta de referências em situações extremas como as que acontecem neste horroroso momento histórico, do exercício de certo olhar para si, para um pouco do que se faz “lá fora”, para seu entorno, para sua cultura.

Não se viabiliza nenhum processo cultural de fora para dentro, pois afinal não é a Cultura a maneira de se trazer o diferente à luz? Não é a Cultura a manifestação mais prudente das forças que compõem a memória, a maneira de se perceber, a forma como se relacionam as pessoas na sua comunidade, e por extensão na sociedade inteira? A mecânica natural do processo de desenvolvimento Cultural não é tratar o externo como referência para se proteger e se projetar o que é próprio?

Pois bem. O incomodo e toda sua lista de sinônimos, o desagradável, o embaraçoso, o constrangedor, o impróprio, o descabido, é exatamente esta incapacidade de se produzir conteúdo, nesta visão estreita que se recusa a compreender – a querer compreender – que tudo o que vem sendo feito está errado, não interessa à Cultura Brasileira, não é a maneira adequada de se conduzir artisticamente a ópera nesta cidade superlativa, não pode ser nesta relação de custos, que algo está errado, algo está muito errado, algo está insustentavelmente errado. 

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Dilemas Contemporâneos da Cultura (97)

Mascaras "A ópera em São Paulo hoje"- por CP

Sabe quando você fica com uma coisa martelando na sua cabeça? Você ouve o Mahler inteiro e nada? Ouve três vezes a sexta sinfonia do Bruckner (edição de 1899) e a coisa fica ali tuc, tuc, tuc? 
Como sempre faço quando algo incomoda, escrevi uma longa reflexão sobre as consequências e as inconsistências do que representa a acusação de desfalque de R$18 ou R$20 milhões do orçamento do Theatro Municipal amplamente difundida pelos veículos de comunicação em reportagens recentes e quais os possíveis efeitos na percepção pública sobre a nossa categoria.
Sabemos que a maioria dos profissionais da área não possui qualquer envolvimento com estas denúncias, mas não podemos carregar o estigma de sermos criadores de um gênero caro, impagável, com estas fragilidades, quando sabemos que existem no Brasil todas as condições técnicas e criativas para se desenvolver a ópera de maneira saudável. Já demos provas disto várias vezes na história recente do gênero.
Que as atividades festivas e de confraternização deste final do ano sejam capazes de nos unir em pensamento para que a partir deste recomeço que será necessário, quaisquer que sejam os resultados, possamos seguir não cabisbaixos, entristecidos, mas firmes e fortalecidos.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Carlos Gomes no mapa do Brasil (46)

Nossa Senhora do Perpétuo Socorro - ícone de autoria desconhecida.

Os ícones são interessantes. A palavra e significado vêm do grego.
Em 330 d.C., o imperador Constantino fundou... Constantinopla e todo o Império Romano do Oriente. Em decorrência de guerras entre romanos e os povos bárbaros, e problemas no senado, a capital romana foi transferida para Constantinopla.
Bizâncio era uma colônia grega no antigo estreito de Bósforo e por esta localização privilegiada acabou sofrendo influências das culturas grega, oriental e romana. Com a derrota dos romanos pelos bárbaros, o Império Romano ficou circunscrito ao Oriente e mais conhecido sob o nome de Império Bizantino.
Esta mistura de culturas deu origem a uma arte religiosa singular caracterizada por motivos que contam passagens bíblicas e representações.
O Império Bizantino teve seu auge entre 527 d.C. e 565 d.C. , passando em seguida por um período denominado iconoclasta, caracterizado por conflitos entre imperadores e religiosos e a consequente destruição de imagens entre outros aspectos. Posteriormente, a arte Bizantina passa por uma Era de Ouro que dura até 1.400 d.C., quando os turcos conquistam o Império.  No entanto, as influências do Império Bizantino se estendem até a Rússia deixando o imenso legado da arte e da religião cristã ortodoxa.
Neste contexto, os ícones tiveram presença relevante, criando um tipo de arte singular, aplicada em madeira ou placas de metal, com aplicações de mosaicos, pintura, pedrarias entre outros elementos. Os artistas possuíam uma preparação técnica e religiosa para realizarem estes trabalhos e em alguns países do leste europeu, ainda hoje, autores de réplicas tem chancela de reconhecimento técnico como “selos de origem”.
Para se ter uma ideia, o ícone que ilustra este post é cercado de curiosidades.  Nossa Senhora do Perpétuo Socorro é um dos muitos títulos concedidos a Maria, mãe de Jesus, no cristianismo. Na Igreja Ortodoxa ela é a Mãe da Paixão, a Mãe de Deus da Paixão ou a Virgem da Paixão. Outros títulos também são atribuídos a esta representação: Mãe dos Missionários Redentoristas, Madona de Ouro, Mãe dos Lares Católicos entre outros. Atribui-se ao pintor grego Andreas Ritzos a criação deste ícone, multiplicado em centenas de exemplares espalhados em diversos museus e residências.
O ícone da Nossa Senhora do Perpétuo Socorro é recheado de representações. A imagem é de o Menino - representação de Jesus, assustado com uma sandália pendurada por fio. Ela sai do seu pé, quando ele, em fuga, por causa da aparição dos arcanjos Gabriel e Miguel segurando símbolos da paixão. Segundo uma leitura possível a sandália pendurada é um símbolo que relembra a fé necessária em momentos de crise, em que mesmo um pequeno fio une o crente à salvação. O Menino se aninha nos braços da mãe. A mão esquerda o protege como é esperado da Mãe e a mão direita dela cumpre duas funções: a primeira, a clássica em que a Madona olha quem observa o quadro e indica o Menino como sendo ele o caminho simbólico e, a segunda, a mão em que se pode confiar tanto quanto o Menino a pega com as duas mãos. O anjo Gabriel reconhecido por representações gráficas carrega uma cruz e Miguel outros instrumentos do suplicio da paixão de Cristo tais como a lança e a cana com a esponja embebida em vinagre e fel, como indica a Bíblia em João 19:29.  Há quem descreva os lábios cerrados da Madona como uma representação de sua discrição, do seu silêncio.
A história deste ícone é impressionante, desde que foi furtado na Grécia e...
Bem, tudo isto pode ser visto e aprendido em São João da Boa Vista, onde um exemplar do ícone pode ser visto numa moldura de vidro no altar da igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. 
Para chegar lá, é fácil. Basta ir até o final da Rua Carlos Gomes onde ela encontra com a Rua São Geraldo. Há um muro comprido na Rua São Geraldo que não impede a visão da Igreja.
Outra alternativa é ir ao belíssimo Theatro Municipal de SãoJoão da Boa Vista, na praça da Catedral s/n. O passeio é divertido. Após visitar o teatro,  atravessa-se a praça, entra-sena Catedral, depois à direita pega-se a Avenida Getúlio Vargas e segue-se porela até achar a Rua Carlos Gomes*. Entra-se á esquerda na São Geraldo e voilá!.
A dica é ir a São João da Boa Vista na próxima terça feira, dia 1 de Setembro de 2015, quando a Companhia de Ópera Curta, abre a Semana Guiomar Novaes, às 20:00. É bom chegar cedo para garantir os ingressos e aproveitar para rever Carlos Gomes, ainda que no mapa.


(*) sem qualquer intenção de trocadilho, use o ícone do "bonequinho" no mapa e arraste-o até a frente da Igreja. Você poderá ver, de um lado a Praça do Santuário e de outro a própria Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Bom passeio.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Dilemas Contemporâneos da Cultura (96)

Tarcísio Meira em foto de Gal Oppido
Nos "Dilemas...(95)" encerrei sugerindo no texto as várias formas de provocação. De origem latina, a provocação se transforma conforme sua natureza: se ato, palavra ou efeito. Pode ser uma atitude desrespeitosa e, por decorrência, vista como insulto ou ofensa. Ainda no âmbito das atitudes, pode parecer petulância, atrevimento, se usada como forma de irreverência. Pode ser uma simples tentativa de chamar a atenção, de provocar uma reação de rejeição ou afeto e todos os antagonismos relativos, inclusive aqueles de natureza sexual. Colocada em contextos específicos, provocar também pode sugerir um chamamento à briga, um desafio. 
Natureza complexa a desta palavrinha, não é? Coisa para os linguistas ampliarem um pouco mais. Eu cá limito-me a estas considerações - reflexões, melhor dizendo - sem tirar qualquer proveito dela que não seja evitar o uso desta atitude sugerida, pois corre-se o risco de se errar feio se não nos ativermos naquele simples objetivo de levar alguém a perceber alguma coisa que valha a pena ser vista. 
Considerando a gama de possibilidades que a palavra - o verbo - apresenta, melhor é, parece-me, considerar a hipótese de provocar como algo a ser mantido à distância para não se correr o risco de contaminação e transformar o que poderia ser um gesto eventual em vício.
Você talvez esteja se perguntando aonde quero chegar com isto. A pretensão é simples. Como sempre, procuro refletir acerca do fazer artístico. Acho admissível, por exemplo, que o artista use a sua forma de expressão para provocar seu espectador, seja para induzir a um estado de alma, uma perplexidade, ao êxtase, até mesmo à repulsa. Isto me parece natural da arte e é um dos aspectos que torna a arte legítima. 
Vejamos a foto que abre este post, por exemplo. Gal Oppido* fez a foto. A despeito da absurda qualidade do trabalho, o motivo também surpreende: o ator Tarcísio Meira** com sua personalidade exposta em todas as marcas do rosto. Duas formas de expressão e dois artistas em harmonia, garantindo ao observador várias "leituras" da mesma fotografia.
Observe o trabalho abaixo do mesmo artista:
Vista da Praça Roosevelt em São Paulo, a partir da SP Escola de Teatro - por Gal Oppido

São tantos elementos inseridos nesta visão singular já a partir do título que, revelado o autor, estamos certos de termos ao nosso alcance a obra de um artista reconhecido como poucos. 
Mas o importante desta reflexão é que, além do objeto cultuado, há o reconhecimento, a legitimidade de quem o produziu conquistada a duras penas, através de muitos anos de dedicação, do cumprimento de todos os ritos que asseguraram a exposição deste talento e a oferta do seus resultados a todos que tiverem acesso à sua arte.
Para não ficarmos somente na visão deste autor, vale como citação "Todo o complexo que comporta a produção, a difusão e a recepção das obras de arte por parte de um público colabora na determinação, enfim, da legitimidade de uma dada produção (material e/ou conceitual) como arte. Detalhes minuciosos, por vezes quase invisíveis estão neste tipo de validação " (Rosane Kaminski). Muito embora o sistema de circulação de bens culturais seja relativamente autônomo, há uma relação direta entre ele e os sistemas de produção. Isto é fácil de entender quando se percebe que a validação da arte se dá a partir da relação entre artistas e outros artistas com a intervenção de outros agentes e da relação com outras obras consagradas pela história da arte. Ratificando este pensamento com a mesma autora citada, "por um lado, há o olhar do teórico especialista em arte, capaz de detectar nas obras os elementos formais e temáticos coerentes com as poéticas do seu tempo. Enquanto estes teóricos desempenham a função de críticos ou mesmo de curadores, por outro lado se destaca também a atuação do historiador, cujo trabalho de documentação e análise colabora para preservar a memória e o sentido de patrimônio artístico dentro do grupo social". 
Ainda que se possa temer a dependência da produção artística e o temor desta dependência dos sistemas de mecenato e patrocínio como cita Pierre Bourdieu, não podemos conferir aos apoiadores, mecenas e patrocinadores a instância com poder exclusivo para legitimar a arte de determinado grupo, artista ou sistema de produção. Cabe a eles incentivar, estimular, propor a avaliação, auxiliar os processos de exposição, sem intervenção direta na produção artística em si. Se isto couber ao poder público, a seus gestores cabe a ação nos limites da sua competência de fomento, difusão ou formação de artistas, sendo esperado nestas relações, a adoção de princípios éticos e respeito aos mecanismos que reconhecem os artistas legitimados na forma de expressão artística requerida. 
Isto significa que não cabe diretamente ao poder público legitimar artistas, mas reconhecer em cada forma de expressão aqueles que reconhecidamente têm notória especialização em cada área e, caso a caso, integrar a rede de suporte às artes.
Ao artista, por sua vez, tendo interesse em difundir-se numa vertente de sua vocação e escolha,deve procurar desenvolver seu trabalho, obedecidas as "liturgias" ou subvertendo-as para tornar-se reconhecido e apoiado pelos agentes, curadores, críticos, historiadores etc. Lembremos sempre que as motivações internas do próprio meio artístico e da transformação da arte e sua produção é que consolidarão o que de fato permanece como instancias legítimas na história da arte.
Tudo isto, pode ser amarrado com uma situação recente no universo da ópera no Brasil. O mundialmente reconhecido diretor de cinema Fernando Meirelles dirigirá uma ópera. Após declarar que não conhece a linguagem, resumiu a inesperada situação como " Um convite feito por engano. Aceitei por irresponsabilidade", e mais, diz ainda “Nunca gostei de óperas. Conheço algumas árias famosas, mas só assisti a cinco montagens na vida”. Tirados os efeitos e, vá lá, o humor das frases (e o habeas corpus preventivo implícito), o que sobra de fato é a expectativa de que faça um bom trabalho e que sua investida no gênero deixe algum residual. Pode ser até que tudo faça parte de um jogo de cena desnecessário e que tudo isto esteja atrelado à intensa divulgação resultante. 
Por outro lado, não se pode atribuir ao cineasta a responsabilidade pela escolha do seu nome. Ele não se colocou à disposição do espetáculo e, tendo sido convidado, certamente viu ali um desafio a resolver e a perspectiva de colocar nos cinemas - sua tribuna conveniente - a sua versão da obra que lhe foi oferecida. Ao ofertar esta visão e possibilidade, atribuindo valor ao resultado cinematográfico, cumprindo os rituais de direitos de intérprete a cantores e músicos e todas as etapas para que se tenha acesso à obra, é possível até que se reconheça aí no futuro alguma contribuição à ópera.
Esta movimentação toda não agradou algumas pessoas que atuam na ópera inclusive levando a manifestações nas redes sociais contrárias à admissão de um neófito auto declarado sem qualquer ligação ou interesse neste tipo de teatro. Esta rejeição a Meirelles à frente de um novo espetáculo se deu muito mais pelo teor das entrevistas e por um grupo relativamente fechado. Possível discussão longa esta, já que vários cineastas internacionais bem sucedidos já se dedicaram à ópera com excelentes resultados e cumprindo os ritos de legitimação usuais. Mesmo no Brasil, em outros momentos, vários diretores já passaram pela ópera, com maior ou menor aceitação e quase sempre sem qualquer reclamação direta, quando muito observações veladas por um ou outro trabalho mal sucedido, pela imperícia na direção de cantores e de coro ou coisas parecidas. Também  são notórios diretores de teatro e ópera que se inseriram naturalmente no cinema e televisão, caminho que me parece até mais natural e seguro dadas as especificidades e dificuldades do teatro e da ópera. 
Finalmente, para o público em geral, me parece, este não é um tema que o motive. As plateias não são sensíveis a estes bastidores, parece-me. Talvez os puristas torçam o nariz para uma ou outra coisa no processo.
Certamente a questão toda não está no diretor em si, mas, por tudo isto que expus acima, pela natureza e origem do convite que foi feito, pelo difícil momento desfavorável para os criadores brasileiros na área e - não se pode ignorar isto - certo desprezo ou deboche que transpareceu na comunicação do novo trabalho. 
Não é fácil olhar a Cultura sob o ponto de vista do último segundo. Sempre a história. A história é que nos dará ou não razão. Felizmente.


* Gal Oppido é fotógrafo, arquiteto, músico e desenhista brasileiro.
** Tarcísio Meira é ator de teatro, cinema e televisão brasileiro. Vale a pena também conhecer o blog dedicado a ele.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Dilemas Contemporâneos da Cultura (95)

Einstein e Marilyn Monroe - cor digital e montagem Montagem Vírgula

Debate recente põe em pauta a necessidade de se preparar professores generalistas (os que dão aula no ensino fundamental de todas as matérias, normalmente formados em pedagogia). O raciocínio, pertinente, é que se um médico passa por estágios de aprendizado para se tornar um especialista, inclusive em clínica geral, estamos longe de oferecer aos nossos professores a oportunidade de se especializarem para o exercício de sua atividade. Confesso que não reúno conhecimentos suficientes nesta matéria e, apesar disto, aqui estou dando um pitaco neste tema. 

Somos assim. Os meios eletrônicos reúnem (desunem) para o bem e para o mal comentaristas em todas as áreas.Para evitar isto, tento não fugir do que me diz respeito.

Na Cultura, precisamos preparar gestores e isto sem qualquer comparação com os médicos ou mesmo com os professores. Não se trata simplesmente de termos pessoas com boa formação (jornalistas, pedagogos, historiadores, músicos, atores, diretores, sociólogos, cineastas etc.) ocupando cargos públicos, mas, independente da origem, profissionais preparados para colocar em prática modelos de gestão inéditos ou não.

Vamos refletir um pouco. Quanto mais próximos do topo, mais os cargos públicos são indicações políticas. Há, portanto, um componente de militância ideológica que é inseparável da natureza do cargo. Isto certamente provoca uma reação em cadeia a definir políticas e modelo de gestão. Nesta ótica, há muito a se ponderar sobre as diferenças regionais, sobre as formas de produção, formação técnica e artística e uma série de indicadores que podem determinar o grau de dificuldade que determinadas sociedades oferecem para a verdadeira apropriação da ação cultural pelos cidadãos.

Como reagir a situações em que decisões de cunho absolutamente pessoal interferem no que será oferecido à população? Afinal dirigentes não são autômatos e assumiram seus cargos com a missão de cumprir papéis que são esperados no poder público. O desafio é como estabelecer o equilíbrio entre programas e níveis de investimento em cada um deles. Assim colocado, parece uma afirmação fluida, sem maiores consequências que o seu conteúdo de leitura direta em si. 


Quero explorar isto um pouco mais. 


O que motiva as decisões tem relação obvia com a formação de cada gestor. Se no entanto, aos atributos do cargo não estiver somada ampla formação e domínio das questões que norteiam o universo contemporâneo da Cultura, teremos resultados aquém do que determinada sociedade poderia obter. Como resumo até aqui, pode-se afirmar que é urgente que se formem gestores e é também papel do Estado, dos partidos, investir nestes mecanismos de aperfeiçoamento no âmbito de seus interesses específicos, lembrando que ao Estado cabe aperfeiçoar servidores de qualquer cor política, digamos assim. E aos partidos preparar quadros que os representem quando a serviço do Estado. 


Trazendo o tema para nossa área foco, se pensarmos de maneira sistêmica, podemos imaginar que o reconhecimento da natureza da produção cultural (acadêmica e popular), dos artistas e grupos envolvidos, da capacidade técnica de realização, dos bens de valor daquela sociedade sejam de caráter material ou imaterial e das relações entre as forças sociais, é fundamental para um ponto de partida facilitador para a inovação.


Esta é a chave concreta. O Futuro não será como era antes* e práticas inovadoras são desejáveis. Se hoje falamos em economia criativa e em inovação, não é por acaso. Trata-se de um imperativo desta nova condição de prepararmos um futuro sabido, numa era em que as incertezas estarão colocadas de forma esmagadora e não se admitirão experimentações com a natureza humana sob o risco de seu extermínio, sem qualquer exagero retórico. 


O fracasso dos sistemas elevam as desigualdades, os extremos de miséria, a falta de acesso a mecanismos de justiça social e a altíssimos níveis de degradação ambiental com toda a sorte de ameaças letais para a humanidade. Some-se a isto a intolerância, a falta de aceitação do diferente e níveis de insatisfação crescentes.


Tal qual a foto colorida com tecnologia digital que ilustra este texto, é bom podermos olhar as mesmas coisas sob outros pontos de vista e com outros elementos que provoquem as nossas capacidades de abstrair. 


Estas provocações são necessárias e auxiliam nossa reflexão. Há limites para a provocação, entretanto. Provocação não é brincadeira com as percepções sociais, por exemplo.


Continuarei no tema amanhã.


* Paul Valéry


quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Dilemas Contemporâneos da Cultura (94)

Detalhe do mangá Gen -Pés descalços - de Keiji Nakazawa

Hoje, 6 de Agosto de 2015, comemoramos 70 anos do lançamento da Bomba em Hiroshima. Apesar da forte presença japonesa no Brasil e das nossas relações com a cultura norte americana, pouco se falou a respeito desta triste história.

O mangá Gen - Pés Descalços narrando os dias seguintes à bomba e, através da saga dos sobreviventes de uma família, a história de milhares, já possui centenas de edições, milhões de exemplares em todo o mundo e, entre nós, várias versões de formatos impressos. Gen inspirou inclusive a composição de uma ópera. 

Desde que conheci a primeira publicação (em 4 volumes) me apaixonei pela história, e, reconhecendo o altíssimo teor dramático, identifiquei ali um conteúdo próprio para o teatro e, claro, para a ópera. Quase que ao mesmo tempo, soube numa nota que Gen inspirara filmes, programas de televisão e - pasmem - uma ópera. Durante 16 anos, busquei as partituras sem sucesso. Sempre comentei com pessoas próximas que isto precisa ser olhado, ser encenado, que o teatro precisa dar uma resposta a esta ameaça absurda. Finalmente, em 2014, com a ajuda de uma amiga (*) consegui finalmente "falar" com o compositor Hiroshi Hoshina que, simpático, me enviou as partituras da ópera (criada em 1981, com libreto de Takanori Shimizu) e uma cópia da versão encenada da ópera. O maestro Hiroshi se dispôs a auxiliar no que fosse necessário para materializar o projeto de encenar Gen no Brasil, mas, apesar dos esforços de dois ou três anjos da guarda, não foi ainda desta vez que veremos este título por aqui, por exemplo com cantoras como Eiko Senda e Massami Ganev - naturais participantes pela origem e pela excelência vocal - entre outros tantos cantores brasileiros que poderiam compor este elenco. Talvez num futuro próximo. 

As reflexões sobre este triste episódio da história humana não pararam por aqui, entretanto (nem mesmo o desejo de montar a ópera). 

Precisamos ter a consciência da necessidade de paz. O mundo precisa de paz. Precisamos traçar caminhos com urgência para evitar que estes absurdos aconteçam novamente. Se olharmos tudo o que aconteceu até aqui e a força com que os regimes totalitários proliferaram no século XX, não podemos descansar. Bastaram 45 segundos entre apertar um botão e exterminar, de imediato, 80.000 pessoas, alguns simplesmente evaporados pela força aterradora do artefato. Mais de 150.000 morreram nos dias que se seguiram. Milhares sucumbindo pela dor, com sede, fome, com as peles se soltando do corpo, vagando ensanguentados pelas ruínas da cidade. Até hoje não se sabe ao certo quais os efeitos reais naquela população e os números, absurdos em si, variam para outros números ainda mais absurdos. 

A bomba, com cerca de 60 quilos de urânio, recebeu o carinhoso apelido de Little Boy. 

No dia 9 de Agosto de 1945, era jogada a segunda bomba. Desta vez, com plutônio e com o nome de código Fat Man. Era para ser Kokura, mas detalhes técnicos, anteciparam a ação para a cidade de Nagazaki. Daqui há três dias, os japoneses também chorarão os mortos de Nagazaki. 

Foi realmente necessário? Os equívocos de ambas as partes levaram a um resultado que melhorou a humanidade? Ou passamos a viver (conviver) com este monstro terrível que cumpre qualquer ordem e mata milhões com o dedo indicador? Que pessoas são essas que tiram vidas com um estalar de dedos? Qual o sentido de tudo isto?

A arte precisa refletir sobre este estado de coisas e, no Brasil, é necessário que estas discussões façam parte das agendas, mesmo porque sem exercitarmos esta, como conseguiremos ampliar a nossa autocrítica aos nossos próprios equívocos?


(*) mantenho-a incógnita por respeito à sua privacidade.