quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Dilemas Contemporâneos da Cultura (60)

Maske
Escultura em casca de ovo de Alexander Volk (*)

Nada mais natural do que não gostar de alguma coisa que se vê: de um filme, um espetáculo, uma exposição. 
Mas como dizer "não gostei" para algo que críticos, amigos, disseram que é "muito bom"?
Este é um dos dilemas mais complexos. 
Um cantor "brega" vira cult se chamado a participar do show de uma estrela da MPB. Não é assim que história tem apresentado?
O fenômeno "não sei se posso gostar" não é recente. De um modo geral, são os chamados formadores de opinião que indicam o que é o bom da vez e as pessoas assimilam isto com relativa facilidade. Antes eram as gravadoras que diziam o que era bom em cada segmento da música. Hoje, com a multiplicidade de canais de difusão, os novos modelos de produção, o que é bom é determinado pelas redes. 
Mesmo nestes casos, as pessoas ainda não sabem dizer se "podem" gostar disto ou daquilo. Só o fazem depois de se certificarem que suas referências também gostaram. 
O que não deixa de ser um fenômeno engraçado, já que a possibilidade de escolha é uma direito individual transferido para o coletivo e não o inverso.
O 'não sei se posso gostar" está associado também a certa malícia. Muitas pessoas, por não quererem se expor frente aos seus grupos, preferem não omitir qualquer opinião até que tenham a certeza de que não serão diminuidas junto a seus pares. Nestes casos, o direito de opinião, não é respeitado ao pé da letra. 
O que fazer?
Não se deixar enganar por estas falsas perspectivas coletivas, perceber o jogo de poder reduzido (isto mesmo: reduzido) a este contexto e deixar-se levar por suas próprias emoções.
Se, junto com isto, os "em dúvida" resolverem ler mais, se informar mais, ficará mais fácil rir com vontade, chorar de felicidade. 




(*) Escultura em ovo é "brega", kitsch? E daí? Gostei.