quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Dilemas Contemporâneos da Cultura (56)

Pandora - 1896
John William Waterhouse (1830-1905)

Tenho um amigo que há muitos anos quando começa a desenvolver um tema muito amplo cita a frase de abertura de  antigo vídeo de treinamento: "No princípio era o Caos".

Pois é, parafraseando este amigo, no princípio era isto mesmo. Do Caos grego tudo foi criado e lá pelas tantas , Hefesto (deus do fogo, dos metais e da metalurgia) e Atena (deusa da guerra, da civilização, da sabedoria, da arte, da justiça e da habilidade) auxiliados por todos os deuses e sob as ordens de Zeus, criam Pandora, a primeira mulher.  Cada um lhe deu uma qualidade. Recebeu de um a graça, de outro a beleza, de outros a persuasão, a inteligência, a paciência, a meiguice, a habilidade na dança e nos trabalhos manuais. Hermes, porém, pôs no seu coração a traição e a mentira. Feita à semelhança das deusas imortais, destinou-a Zeus à espécie humana, como punição por terem os homens recebido de Prometeu o fogo divino e por aí segue a lenda ora contemplando a mulher com predicados absolutos, ora punindo-a pelos sujeitos a quem teve que se associar. 
Não tivesse Pandora casado com Epimeteu e este não tivesse em casa uma caixa fechada que ganhara dos Deuses contendo todos os males(*), talvez os homens fossem diferentes. 

Pandora tinha muitas qualidades e uma delas, a curiosidade, foi o comportamento manifesto que levou-a a abrir a caixa e deixar que todos os males escapassem. Não vou entrar no mérito da lenda e a discussão sobre a esperança. 

O valor simbólico oriundo desta prosa está na capacidade que os homens têm de destruir o que poderia ser muito bom ( a inveja de si próprio como procuro propagar ).

Há outra explicação que não a caixa de Pandora a justificar o desrespeito aos direitos autorais, a omissão de créditos de autoria, ao não cumprimento de contratos, à demora e até mesmo o não pagamento por trabalhos realizados, às ameaças veladas para não se comentar publicamente o furto de idéias, a prática desleal de cópia de projetos, a fragilidade das relações comerciais na atividade cultural?

Como justificar a falta de ética nas relações sem lembrar dos gregos?


(*) Fico sempre me perguntando por que raios os tais deuses teriam dado a Epimeteu uma caixa com todos os males? 
Está certo. Este tema dá margem a mais algumas semanas de texto.