Dia destes já no final da Rua Diógenes Ribeiro de Lima, em direção
ao centro, vi, imponente, o edifício projetado pelo Ruy Ohtake. Magnífico,
contraste retumbante com o céu azul daquela tarde.
Os exageros na adjetivação apenas lembram o que pensei quando vi o
prédio com os vidros avermelhados naquela estrutura inusitada que se projetava
algumas dezenas de metros acima do chão. Uma combinação instigante de curvas,
projeções, vidros e cerâmicas.
Aí está um exemplo de construção que não envelhece e o que explica
meu desejo (e necessidade) de me dedicar ainda mais ao estudo da arquitetura.
Alguns arquitetos como Ruy têm a coragem da ousadia.
Ou alguém duvida que, para colocar na estrutura de um prédio uma
fruta como a carambola numa estilização implausível, não precisa de uma grande
certeza do conceito? Ou ainda, construir um hotel cuja forma sugere uma grande
fatia de melancia, tendo ainda na fachada algumas pareces retorcidas em
concreto com uma leveza e habilidade construtiva pouco vista?
A contribuição de Ruy Ohtake para esta maneira de olhar os espaços
é incomensurável e tudo se resume – sem a pretensão de reduzir – na vocação
árdua de criar.
A obra de Ohtake me foi entregue pelo acaso quando buscava
refletir um pouco sobre certas questões evidentes em eventos culturais Brasil
afora e me questionava sobre a importância de continuar aqui, depositando certo
tempo no comentar certas questões que para mim são Dilemas. Dilemas da Cultura.
Parei 1 ano. Pouco mais de 370 dias para ser mais preciso ou pelo
menos 200 textos não escritos.
Descobri o que move esta contínua vontade de comentar, opinar e
criticar: uma inevitável esperança de que a atividade cultural no Brasil se
consolide de forma regular, perene, com os setores criativos interagindo de forma
madura, com recursos de fomento compatíveis com excelência, com a formação
realizada de forma profissional, contínua e com a correta franquia de direitos
à população.
Estas inquietações estiveram presentes o tempo todo neste ano
sabático. O acúmulo de bobagens entrelidas (como não existe a palavra no
Aurélio, lembre-se de entreouvidas o
que é quase a mesma coisa) me deixou várias vezes irritado pela impotência de
não poder corrigir rumos tão previsíveis, ou propor um debate a respeito e,
principalmente, não poder ouvir outros que conhecem melhor determinados temas e
aprender com eles, juntar-me aos experts para modificar.
Fiquemos assim por hoje.
Textos curtos. Textos curtos.