quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Carlos Gomes no mapa do Brasil (22)

Il Guarany - SNO/SPID
por Cyro del Nero

Relutei muito em escrever nestes dias, pois queria fazer um registro do falecimento de Cyro Del Nero. O que dizer quando um amigo deixa este plano?

Cyro foi o primeiro cenógrafo da nossa (minha e de Rosana) trajetória em ópera. Aliás, o Cyro foi primeiro em tanta coisa... Um desbravador, afável, carinhoso, de cultura ímpar, bem humorado, sério, honorável.

Ele desenhou nosso primeiro Il Guarany, de Carlos Gomes. Aquele Guarany da Bulgária, com um palco giratório inclinado ao centro, cercado de bananeiras desenhadas em painéis gigantes que se moviam, ora dando a ilusão de floresta, ora as paredes de um castelo, as frágeis defesas de um quarto.

Rimos muito, Cyro, Julio Medaglia, Rosana e eu. Rimos. Temos histórias comuns que nos fazem rir até hoje. Cyro era um bom gozador. Daqueles de humor sutil, da do muxoxo irônico, nunca ofensivo, jamais arrogante, pretensioso. Humor de riso largo, grave, daqueles em que se balança o corpo todo.

Conheci Cyro muito antes de tudo isto. Observando seu trabalho, aprendi muito da arquitetura promocional e, de certo modo, quando passei a projetar estruturas na minha empresa à época, confesso que imitei Cyro nos acabamentos, nos volumes. Cyro foi um mestre insuperável. Reparei nestes dias que tenho à minha cabeceira um de seus livros. Daqueles que se folheia para lembrar alguma coisa sempre e, a partir de agora, para rever um parceiro. Fomos parceiros, menos do que gostaria, mas fizemos bons trabalhos. Pena que nestes últimos tempos tudo esteja tão magro que pouco se pode fazer com Cyro.

Foi com ele minha primeira viagem à Grécia, país de quem Cyro, mais do adido que era, foi um embaixador incansável da história - da sua própria paixão. Algum tempo depois retornei a Atenas e lá pude repetir muito do que aprendera com ele, naquela viagem de apenas 2 dias.

Tem mais, mas deixa assim. Fica o registro, a boa lembrança. Se Cyro não botou de fato Carlos Gomes no mapa do Brasil, pode-se dizer que ele foi quem deu a forma e dimensão no palco para uma obra do compositor que foi uma nova fase na difusão do seu trabalho. Sem aquele Guarany, provavelmente tantas outras energias não teriam se juntado e tantas perspectivas não se abririam.

Cyro nasceu em São Paulo, no bairro italiano do Brás. Uma cidade aberta como ele.