sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Dilemas Contemporâneos da Cultura (42)




Qual é a cor de nossa humanidade?
Esta pergunta ficou martelando hoje à tarde, cutucando, cutucando, sendo elaborada de várias formas, cutucando, cutucando... Qual é a cor da humanidade? Não. Não é a cor da humanidade, mas a cor desta característica do homem, o que o ressalta como diferente dos demais seres vivos. Qual a cor desta humanidade?

Qual é a cor da nossa humanidade?

Esta abstração se transformou em cores vermelhas, azuis, fúcsias incandescentes, amarelos, verdes, marrons, nos pigmentos dourados de Klint, no acaso de tintas jogadas sob um pedaço de cristal sobreposto por telas de arame, pedaços de madeira, casquinhas de sorvete usadas, sobras de tecido do último figurino, latas de chocolatado vazias, tampas de latas de graxa, uma tesoura, livros sem capa, capas de chuva, um chapéu furado no cocuruto. Imagens e borrões frenéticos trocando atenções, disputando a insensata batalha por quem mais deixa passar luz.

Esta volúpia luminosa, princípio de uma aberração cósmica, presente toda a tarde enquanto dedos e teclados se misturavam para produzir mais um trabalho, para cumprir mais uma agenda.

É sexta feira, 15 de Outubro de 2010. Dia em que descobri por acaso ou conveniência que a humanidade, esta, a característica, não tem cor.

Tem um brilho único, ofuscante, uma centelha de emoção e de esperança de ser parte de uma mesma tessitura.

Se ausência de cor, um brilho. Se ausência de som, uma infinita ausência.

A Cultura é forma de atestar ao homem sua humanidade, de demonstrar-lhe que é capaz de se emocionar por amor, de ver sem medo, te ter esperança. É o brilho que ratifica a humanidade do homem. E não tem cor, não se curva às dislexias intelectuais, às veleidades políticas. Chamar a Cultura de processo é diminuí-la, muito embora sejam os processos a aproximar dela as pessoas. Sua intangibilidade só está na arrogância de quem a vê como propriedade, para poucos, ou naqueles que se imaginam capazes sozinhos de levá-la a todos.

O oposto deste brilho são cores e quanto mais se transformam em cores, mais essencialmente se aproximam desta pigmentação crua, menos amor, menos esperança, mais rancor, raiva, ódio, medo, mais distanciamento da humanidade. Mais o homem perde da sua humanidade, mais triste, mais próximo da ignorância e da barbárie.