A morte em si não me preocupa. É um processo que só nos diz respeito na medida em que possamos construí-la da melhor maneira possível dada sua inevitabilidade.
Entretanto, a morte banal me deixa perplexo e abismado. A imagem é esta: abismado, à beira do precipício onde se quer deixar instalada a raça humana.
Não dá. É penoso admitir que somos impotentes para evitar a violência.
É o trânsito que mata porque a bebida mata, a droga mata, o tráfico mata, as torcidas nos estádios matam, os maus exemplos na politicam matam, o desamor mata, a inveja mata, o desprezo pela vida humana mata.
Não mais falamos da morte pelo desespero, pela fome, pela última possibilidade. Não. É da morte trivial que nos ressentimos. Aquela morte estúpida, cotidiana que nos lembra o quanto o ser humano pode ser deplorável, ignorante, temível.
Nós falhamos. A humanidade falhou. Não sabemos lidar com isto.
Estamos todos à beira do abismo, border line e a chance prática é a intervenção sistemática do Estado, irreversível, sem negociação, preservando os Direitos da Pessoa, mas batendo pesado com as ferramentas que o planejamento, a tecnologia colocam à nossa disposição. Não dá mais.
Mortes como a do Glauco, quaisquer que sejam as motivações, só podem ser a exceção, da exceção, da exceção e, mesmo assim, olhe lá.
Não dá mais para aceitar que algumas dúzias de marmanjos usem o esporte para brigar. Ou que um imbecil qualquer de cara cheia faça o que quiser com um carro. Ñão dá mais morrer por causa de trocados, ou por um par de tênis, por uma bobagem qualquer.
Já nos basta a boa morte, a que vem anunciada sem dizer quando.
É tempo de recolhimento, de prece no credo de cada um. Tempo de mudar a frequência. É tempo de fé.
*O cartunista Glauco Villas Boas (Glauco -1957-2010) foi assassinado na sua residência hoje, 12/03/2010, por dois homens.