sábado, 1 de novembro de 2014

Dilemas Contemporâneos da Cultura (91)

L'orchestre de l'opéra, quadro de Edgar Degas, 1870.
Em primeiro plano um musico toca o Fagote. (*)

Em “O amor pela arte – os museus de arte na Europa e seu público”, de Pierre Bourdieu escrito com Alain Darbel, destaco a seguinte citação no primeiro capítulo:
Deixem que as obras de arte manifestem sua eloquência natural e elas serão compreendidas por um número crescente de pessoas;  esse método será mais eficaz do que a influência exercida por todos os guias, conferências e discursos. (F. Schmidt-Degener)
E logo abaixo, identificada como uma citação originária da UNESCO, a conclusão de que O que era, essencialmente, um bastião aristocrático tornou-se, em nossos dias um espaço de encontro para as pessoas da rua.

Estes dois temas serviram de mote para estes Dilemas Contemporâneos de hoje.
A obra de arte é em si um instrumento para despertar a compreensão nas pessoas, seja uma obra de caráter museológico, seja um espetáculo de teatro, de ópera. A chave para que este relacionamento se estabeleça é o acesso. A obra fala por si.
Desta forma, basta, por exemplo, à ópera, que promova esta aproximação, seja trazendo pessoas ao seu espaço, seja, na linguagem que lhe é peculiar, criando espetáculos que possam ir às plateias por mais distantes que estejam.
A ópera ainda é encarada como uma “reserva das elites” o que é um erro de avaliação inclusive sob o ponto histórico.
No Brasil do século 18, foram criadas as Casas da Ópera em várias regiões do país que se estruturava. Nestes teatros, apresentavam-se óperas, grupos de teatro, concertos, leitura de poesias entre outras atividades culturais. As Casas da Ópera foram as primeiras manifestações de política cultural do Brasil, permitindo o acesso a informações culturais que até então eram privilégio das cortes portuguesas instaladas no futuro país. As duas principais motivações para a criação das Casas da Ópera foram de um lado a necessidade e interesse na Cultura dita profana, já que até então estas atividades eram restritas às igrejas, e de outro a crescente necessidade de socialização.
Assim, estes instrumentos culturais passaram a ser, como diz a citação do início deste texto, dirigidas aos homens comuns.

Esta reflexão nos permite avaliar o que está sendo feito na Cidade de São Paulo para atender esta natural demanda. Numa primeira análise, atendimento de demandas culturais na cidade estão muito distantes do que se pode considerar prática de política pública relevante. Mas isto é motivo de conversas futuras aqui.

(*) Conheça aqui a sonoridade do fagote, um instrumento interessante, num vídeo da Radio e Televisão Portuguesa. No exemplo final, a musicista toca a linha do fagote no Bolero de Ravel. Você também pode ver aqui, o Bolero, de Ravel, na íntegra, numa versão da Filarmonica de Viena, sob a regência de Gustavo Dudamel.