terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Dilemas Contemporâneos da Cultura (99)



Máscara "A ópera em São Paulo hoje"- por CP

Reflexões sobre as consequências e as inconsistências do que representa a acusação de desfalque de R$18 ou R$20 milhões do orçamento do Theatro Municipal amplamente difundida pelos veículos de comunicação em reportagens recentes. Qual a sua origem, seu significado e efeitos na percepção pública da nossa categoria?
Parte II

Algo está insustentavelmente errado nas atividades naturais do teatro. Quem acompanha o noticiário sabe que o TMSP (Theatro Municipal de São Paulo) tem sido permeado de denúncias em frequência indesejável, sempre relacionadas às práticas da área artística no relacionamento com artistas nacionais e estrangeiros, além de atritos no âmbito interno do teatro.

Dada a dimensão do “estrago” (processos e protestos) ao longo deste período, não pode ser esta a maneira correta de se relacionar com pessoas. Profissionais não devem ser desqualificados, mas a eles dar-lhes luz. Não se pode construir Cultura num ambiente de relacionamento tão desastradamente rudimentar e alicerçado na superexposição deste ou daquele individuo. Isto não dá. Não pode ser assim. 

Em mais de uma oportunidade fomos chamados de sociedade provinciana , quando não há nada mais provinciano do que se dizer isto, do que dizer-se belo quando estes juízos não são do sujeito, mas daqueles que o observa. Não há prazer renitente em si próprio. 

Chamar esta de sociedade provinciana é um desatino. Mas, pensemos um pouco. Se há provincianismo num determinado grupo e isto é ruim, não é exatamente o papel da Cultura fortalecer os processos de criação do próprio grupo para combate-lo? Se não há provincianismo e isto é bom, não é mesmo o papel da Cultura, ampliar e favorecer os espaços criativos para que a arte se sobressaia?

Esta é outra questão interessante. Nós, artistas que vivemos do espetáculo, da criação e da realização de obras de arte, nesta manifestação tão complexa que ora é vista como entretenimento, ora como reflexão identitária, sabemos que ópera é fruto de uma criação coletiva. Muito embora caiba a um diretor a criação conceitual o espetáculo, e agir para que, do regente e elencos ao operador de luz, todos entendam e trabalhem de forma sinérgica, também sabemos que o resultado final é derivado da intervenção individual em associação coletiva. Se não for assim, não acontece, não se aperfeiçoa, não há como desenvolver.

Esses fatos que ilustram o cenário do TMSP, em atos intermitentes, culminando com as atuais denúncias públicas de desvios de dinheiro feitas pela Controladoria Geral do Município e do Ministério Público Estadual, não pode ser assumida como uma sucessão de variáveis aleatórias independentes, como adorariam teóricos como Moivre ou Laplace ou seus sucessores Bernstein, Tchebyshev, Lyapunov e outros.