domingo, 20 de março de 2011

Dilemas Contemporâneos da Cultura (64)

Plantu d'aprés Hokusay
capa do Le Monde, 15/3/2011

Continua na Folha a discussão sobre a pertinência da charge de Montanaro (Dilemas... (63) na Folha de São Paulo. 

Felizmente, para referenciar o trabalho do jovem ilustrador, a Ombudsman da Folha, Suzana Singer, acrescenta a informação de que três dias após o Le Monde, um dos principais jornais do mundo, austero e consistente, publica idêntica idéia em charge também comentando na sua capa o episódio do maremoto de graves proporções que ocorreu no Japão. 

Jean Plantureux , cartunista francês que assina Plantu (divirta-se com alguns de seus desenhos), nasceu em 1951 em Paris. Seu texto e desenhos são ácidos, mordazes. Plantu assina seu trabalho com a frase Plantu d'aprés Hokusai, numa designação clara da fonte que utilizou para executá-lo.

Montanaro também deu a dica quando acrescenta "xilogravuras japonesas". 

Segundo o texto do Ombudsman da Folha, Spacca, do time de cartunistas da casa, achou a charge pertinente, mas não publicaria um desenho como o de Montanaro hoje. "Estou mais maduro. Cabe ao artista se refrear".

É provável que Spacca, quando ficar ainda mais maduro, talvez aos 60 como Plantu, tenha a perspectiva de não se limitar, de buscar ousadias, referências inéditas, soluções modificadoras. 

Ousadia não tem idade. pelo contrário, quanto mais maduro, mais o criador se deveria permitir inovações. Afinal de que adianta viver se não buscar novas formas de enxergar a humanidade, de justificar seus erros, de compreender seus infortúnios, de admitir a finitude do homem?

Montanaro foi ousado, numa idade em que se confunde ousadia com arrogância, inovação com anarquia. Para o bem da criação, torço para que a Folha continue se permitindo soluções originais. Isto é bom, é o que contribui para desenvolvimento.

Leitores não gostaram? Se refletiram a respeito, o resultado já foi pertinente.

Não podemos esquecer que tudo o que vemos nos funciona como espelho e que cada um vê ali o detalhe que mais lhe interessa. Ás vezes, enxergamos com os olhos embaçados.