quarta-feira, 31 de março de 2010

Dilemas contemporâneos da Cultura (8)

Personagens da peça (Kabuki) Matsutaka temari fujitsuroku - 1855

O financiamento à produção cultural é o principal dilema não resolvido na Cultura.
Não existe mágica.


De um lado há necessidade de politicas públicas e recursos também públicos para programas decorrentes.De outro consumidores de Cultura dispostos a pagar (com dinheiro privado) pelo que recebem: cidadãos, entidades e empresas. Nesta faixa, os interesses são distintos entre si e os volumes investidos idem. Para atender estes segmentos vale a lógica de mercado, ou seja , a adoção de ferramentas corretas de marketing para motivar adequadamente estas platéias para os bens culturais oferecidos. Isto signfica que há espaço e público para a maioria dos bens cuja lógica seja a bilheteria.


Existem inúmeros cases e relatos de bens culturais tanto "populares" quanto "eruditos" que tiveram recursos públicos e privados em percentuais distintos, ora prevalecendo um modelo ou outro.


Há, portanto, uma brecha, uma linha de raciocínio e de planejamento que pode orientar os planos de negócios da produção cultural.


Este é um caminho saudável para a sustentabilidade dos negócios.


Continuo com o tema amanhã e falarei das variáveis politicas no processo.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Carlos Gomes no mapa do Brasil (10)


Imagens da Praça Carlos Gomes - Curitiba - Paraná
por Joatan Berbel
"Isto, esta edificação com estas colunas leva o nome de stoa. Aquela parte interna ali, você vê? Era reservada aos comerciantes, aos banhos. Daqui da stoa se observa a ágora, esta grande área delimitada por estas construções. Uma espécie de praça, aberta, livre, para o cidadão e o debate democrático. Estas colunatas da stoa têm uma divisão, está vendo? A parte superior possui estes desenhos e a parte de baixo é assim mais lisa, porque nela as pessoas se encostavam, colocavam os pés. Sendo lisas, não eram deformadas pelo uso diário. Das stoas derivam os estóicos, os pensadores do logos (a razão universal) a ordenar todas as coisas e através do que o mundo é um todo harmônico (kosmos). Você vê ali a acrópole".
Com este ritmo acelerado, sábio e didático, olhando tudo e descrevendo além deles, com o mesmo entusiasmo* da primeira vez, vi e ouvi Cyro Del Nero descrevendo as maravilhas de Athenas, na Grécia. Numa de nossas viagens juntos à Bulgária, onde ele cenografava e eu produzia O Guarani, de Carlos Gomes, passamos pela Grécia no retorno ao Brasil.
Carlos Gomes teve um bom caminho na Bulgária** e certamente relembrado entre conversas que tivemos na ágora grega.
Não podemos dizer o mesmo da Praça Carlos Gomes em Curitiba, de onde, decepcionado, Joatan Berbel me enviou algumas fotos mostrando o descuido com coisas que são essenciais no espaço urbano.
Por mais sensível que o fotógrafo tenha sido ao encontrar no lixo um violino e declaração de amor, o entorno mantinha as lamentáveis consequências do descaso com o homem como já se tornou rotina no dia-a-dia das cidades.
Não se trata de responsabilizar apenas o poder público pelo mendigo enrolado nos seus trapos e dormindo sob uma árvore em tarde plena, ou pelos garotos consumindo crack, ou pelos consagrados carrinhos de pipoca de higiene suspeita.
São imagens corriqueiras que nos servem de espelho para o descaso da sociedade. O poder público é a ponta dinâmica deste processo. É sua responsabilidade tanto quanto é do cidadão ou cidadã que colocou as roupas para "quarar" na grama verde.

Lembro-me da Praça Carlos Gomes em Curitiba de alguns anos atrás. Uma como tantas, agradável, bem arborizada. Se hoje está degradada é compreensível, mas não aceitável.
As praças e os homens precisam de cuidados senão se deterioram, transmutam em outras coisas.
As praças deixam de ser espaços de convivência saudável, de diálogos de Cultura e - no caso da Carlos Gomes - de memória e homenagem. Os homens... bem, estes vão perdendo o brilho, a essência, a capacidade de ver o belo e, pouco a pouco, sem que percebam, passam a um estado de barbárie de dificil retorno.
* enthusiasmós - com deus interior
** Rosana Caramaschi e eu produzimos três títulos de Carlos Gomes em co-produção com a The Sofia National Opera: Il Guarany, Fosca, Maria Tudor.

Dilemas contemporâneos da Cultura (7)

Representation at the Theatre des Varietés
Jean Béraud

Bens Culturais são todas as formas de expressão da identidade de um povo e de sua humanidade.

Esta é uma definição para se repetir sempre. Milhares de vezes, rabiscando o que é forma, o que é expressão, identidade e por aí vai. Aliás, um exercício tentador.

A diferença entre arte erudita e arte popular reside no grau de alfabetização necessário para compreendê-las.

As artes populares trabalham com o universo conhecido, com a repetição, enquanto que as artes eruditas se orientam pela provocação de níveis alternativos e complementares de leitura e de abstração. Quanto mais uma determinada arte dita popular acrescentar de códigos de leitura, mais se aproxima da erudição.

Quando se fala em promover o acesso à Cultura Erudita comete-se um erro de origem: um cidadão não alfabetizado numa determinada linguagem não se aproximará dela. Considerando que o acesso existe uma vez que artes eruditas estão "expostas" nos seus lugares, a palavra "acesso" ganha o conteúdo de proximidade, facilidade de transito ou coisa parecida. Melhor seria usar como terminologia promover a iniciação à Cultura Erudita entendendo que isto significa promover o direito à alfabetização em determinada linguagem.

Ao insistimos na necessidade de formar pessoas e ensinar a pessoas o que música, pintura, ópera, dança, amplia-se o exercício dos seus direitos, inclusive de escolha.

Neste sentido, as instituições de comunicação de massa são cruéis, pois não avançam no direito ao conhecimento amplo e isto é cerceamento do direito.

Ora, se o cidadão não adquire outros níveis de leitura, ele jamais entenderá a importância de perpetuar as suas raízes culturais, um ciclo vicioso de difícil ruptura, já que não perceberá claramente sua realidade, seu papel social, terá uma visão limitada e corrompida na medida em que tenderá a desejar apenas o que o atende diretamente.

Convenhamos que seria uma lástima para o pais que deseja instituições sólidas, com valores sociais, políticos e econômicos que dêem sustentabilidade ao nosso futuro.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Dilemas contemporâneos da Cultura (6)

At the Loge
Mary Cassatt


  • Ano eleitoral no Brasil.
  • Para nós da Cultura será determinante a visão de cada candidato a respeito de nossa atividade e sua capacidade de apoiar de forma decisiva as nossas demandas futuras.
  • O financiamento da atividade cultural é dependente do poder público e o setor não conseguiu desenvolver mecanismos de sustentabilidade.
  • Várias pendências deverão ser resolvidas pelos próximos presidente, governadores, deputados e senadores: fortalecer e aperfeiçoar a Lei Rouanet, as PEC relativas às dotações orçamentárias, planos e programas estruturantes para os vários setores da Cultura.
Quatro frases que dão frio na barriga. Hora de abrir os olhos, pois a situação é grave.

terça-feira, 23 de março de 2010

Carlos Gomes no mapa do Brasil (9)

Estudo de Ópera - Lohengrin
by Arthur Thiele
Richard Vagner descreve na partitura de Lohengrin que uma pomba branca aparece anunciando a volta de Gottfried, irmão de Elza e principe de Brabanti. A tal pomba é omitida em muitas sinopses e sequer é mencionada em algumas montagens.

Quando dirigi a ópera Lohengrin no Teatro Municipal de São Paulo, sob a regência do Maestro Ira Levin, uma das decisões que tomei foi assumir a pomba como uma metáfora cristã do Espírito Santo.
Não importam aqui os detalhes de como cheguei a isto, mas o fato é ter percebido com maior força que o Espírito Santo tem uma íntima ligação com o cristianismo Português e, por extensão, praticado no Brasil com a mesma devoção. Esta prática, diferente do foco e até do credo em outros países cristãos, também caracteriza alguns modelos de comportamento, de relações, de entendimento dos seres à volta e várias outras coisas. Um exemplo disto são as festas do Divino que acontecem nos estados Brasileiros e nos países de língua portuguêsa com grandes semelhanças estruturais e até mesmo como um pingente reproduzindo a imagem do pombo/pomba, popularizado atualmente por uma novela de televisão.

Tão forte é a tradição da terceira pessoa da Santíssima Trindade no Brasil que um estado recebeu o nome de Espírito Santo.

Pois no Espirito Santo, em visita ao povoado de Cricaré, o Padre jesuíta José de Anchieta, no dia de São Mateus, levou à mudança do nome da que seria a cidade de São Mateus, onde ainda hoje se vêem as ruínas da Igreja Velha.
Traira, piaba, bagre, robalo, piau e cará, para quem gosta, são peixes deliciosos. Mas também são nomes de rua na cidade de São Mateus, no Estado do Espírito Santo.
Passando por qualquer destas ruas, é possivel chegar à Rua Pitu e, por ela, dobrando à direita ou à esquerda, dependendo do sentido de direção, toma-se a Rua Carlos Gardel.
Não me perguntem porque, mas é pelo tango que se chega às Ruas Villa-Lobos, Luiz Gonzaga, Franscisco Alves e também - claro - à Rua Carlos Gomes. Todas num condominio residencial muito agradável na simpática e histórica cidade.

O que tudo isto tem a ver com o início deste post?

Bem, em Napolis, na Itália, estreou Lohengrin, de Richard Wagner, na mesma estação em que FOSCA, de Carlos Gomes, estreou no Teatro Alla Scala de Milão e esta coincidência criou várias confusões para o nosso compositor. Para conhecer melhor esta história, é bom ler o livro do Marcos Góes "Carlos Gomes - uma força indômita". Se preferir, uma boa idéia é ir a Milão e comprar a edição italiana de "Carlos Gomes - un pioniere alla Scala, do mesmo autor. Boa leitura.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Carlos Gomes no mapa do Brasil (8)

Banda da Associação Lira Carlos Gomes
Estância - Sergipe - Brasil

É provável que o José Felix e Claudemiro Xisto tenham dormido pouco naquela noite. Às 5 da manhã do dia 3 de Outubro de 2010, o maestro Claudemiro já estava à frente da banda para iniciar as comemorações dos 130 anos da Associação Lira Carlos Gomes* que durariam o dia inteiro pelas ruas da cidade de Estância, no Estado de Sergipe.

Às 19 horas, foi celebrada uma missa na Igreja Nossa Senhora do Rosário e, em seguida, na sede da Associação, seu presidente José Felix e os demais sócios receberam os amigos para um coquetel em que todos projetaram os melhores desejos de continuidade para a banda, um dos orgulhos da cidade.

Tocar nas ruas de Estância em Sergipe é uma satisfação dos músicos da Lira Carlos Gomes.

Com toda a certeza, seria para eles motivo de muita satisfação poderem um dia tocar na Rua Carlos Gomes, na cidade de Estância Velha, no Rio Grande do Sul, onde os nomes se unem pela memória e reconhecimento ao compositor da ópera Salvador Rosa.

Estância Velha desenvolveu-se em torno do Rio dos Sinos com a instalação da Real Feitoria do Linho Cânhamo para a Coroa Portuguesa onde se produzia o cânhamo, matéria prima para os cordames dos navios. Como isto não deu muito certo, as terras acabaram distribuidas aos primeiros imigrantes alemães que chegaram ao Brasil e se instalaram inicialmente na cidade de São Leopoldo. Entre eles, Mathias Franzen - um sapateiro alemão - um dos pioneiros onde seria a cidade de Estancia, emancipada em 1959, deu origem à vocação de fabricar calçados da região.

E por falar em São Leopoldo, é bom lembrar que as primeiras 39 familias alemãs chegaram à cidade em 1824 formando o que se chamou de Colônia Alemã de São Leopoldo. A cidade é reconhecida como o marco inicial do Vale do Rio dos Sinos e, como seria natural imaginar, lá também a Banda de Estância no Estado de Sergipe, poderia se apresentar caminhando pela Rua Carlos Gomes, uma outra homenagem de São Leopoldo ao Tonico de Campinas - apelido pelo qual Gomes também foi conhecido.


*agradecimentos a Rossevanya Andrade, da Orquestra Sinfônica de Sergipe, que me contou e enviou material sobre a Associação Lira Carlos Gomes.

domingo, 21 de março de 2010

Dilemas contemporâneos da Cultura (5)

At The Opera
by Seymor Joseph Guy


Transcrevo aqui as palavras do prefeito Gilberto Kassab ao sancionar, na última sexta feira, dia 19/03/2010, a lei (publicada dia 22 no Diário Oficial) que concede isenção de pagamento de Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) às atividades de Cultura e de Lazer:

"A lei deve servir de referência para que possamos conquistar outras vitórias na área cultural. Os artistas precisam do apoio do Poder Público para desenvolver seus trabalhos e contribuir para a construção da cidade e da formação cultural das pessoas que vivem em São Paulo".

Desta maneira, a partir de hoje, estão isentos de pagar ISS os espetáculos teatrais, de dança, balé, ópera, concertos de música erudita e recitais de música, shows de artistas brasileiros, espetáculos circenses nacionais, bailes, desfiles (inclusive de blocos carnavalescos ou folclóricos), e exibição cinematográfica em cinemas situados fora de shopping centers. A lei não beneficia apresentações artísticas em bares, boates, danceterias, casas noturnas e não será estendida para artistas internacionais.


Esta é uma reinvidicação antiga do setor cultural em São Paulo.

A nova lei veio a calhar para a continuidade das proposições sobre o nosso "dilema".

Qual o papel adicional da produção cultural intrinseco às tarefas que já desenvolve para atingir seus fins no cenário projetável para os próximos anos? De que maneira se darão estas relações com o poder público?

Não há dúvida que prevalecerá o coletivo sobre o individuo. Isto significa que individualmente as pessoas (artistas, técnicos, agentes, produtores) deverão se organizar seja através de empresas individuais e cooperativas para que se consiga a regularidade fiscal. Em pouquissimo tempo, com a tecnologia de dados disponível, não haverá condições de se realizar nenhuma atividade sem a devida estatura jurídica. Isto significa fortalecimento do mercado e dos segmentos culturais.

Ao mesmo tempo, serão levados em conta os registros profissionais e esta exigência deverá ser universal. Da mesma maneira que músicos precisam apresentar o registro da Ordem, as demais atividades deverão passar por mecanismos semelhantes. Em alguns teatros nos grandes centros, exige-se o DRT e sindicalização para várias categorias.

Já é uma necessidade que os profissionais se organizem de forma coletiva através de Associações e Entidades representativas de classe.

O efeito práticos disto, se vê na nova lei do Isenção do ISS em São Paulo. Independente da sensibilidade do Governante para a questão, ela foi fruto de uma articulação entre várias entidades representativas das várias categorias com a Câmara Municipal e o próprio Executivo.
O resultado efetivo foi mais uma passo concreto e uma conquista para todos.

Em Março de 2009, algumas pessoas se reuniram e criamos a ACPOESP* - Associação dos Cantores e Profissionais de Ópera do Estado de São Paulo, uma entidade que, embora mantenha no nome o Estado em que foi criada, já possui membros associados de várias regiões Brasileiras e é aberta a cantores, músicos, técnicos, diretores, regentes e a todas as atividades relacionadas com o fazer operístico. O objetivo desta associação é promover o desenvolvimento profissional e a difusão do gênero de forma a fazer com a que ópera passe a integrar o discurso e agendas de governos e empresas.

Apresentei a ACPOESP como resultado desta nova dinâmica que já vem se estendendo a várias outras entidades.

O ponto de partida destas articulações está nos grupos primários de artistas nas cidades. Além do esforço individual, das categorias, o poder público precisa estar presente e estimular a formação destes coletivos uma vez que isto estimula a troca de experiências e facilita o diálogo, deixando a informalidade de lado.

O grande dilema contemporâneo da cultura é, como venho falando, encontrar formas de financiamento da atividade de forma a garantir o seu desenvolvimento sustentado e sustentável.

O primeiro passo é formalizar um segmento cuja aparência á a informalidade. Apenas a aparência.


*interessados em conhecer a ACPOESP podem se comunicar com o e-mail acpoesp@uol.com.br

quinta-feira, 18 de março de 2010

Dilemas contemporâneos da Cultura (4)

O Circo - Georges Seurat


Antes que o Joatan reclame com toda razão que minha visão de Cultura e dos seus dilemas são apenas resolvidos no âmbito do EStado, cabe antecipar a abrangência dos temas que pretendo abordar aqui. Na minha opinião, a Cultura não se resolve apenas na esfera estatal pela simples razão de se tratar de um complexo que envolve a criação artística, técnicos, entidades privadas, fornecedores de insumos e serviços, e os consumidores de bens culturais incluindo neste grupo empresas, entidades e pessoas físicas que os utilizam como forma de valorizar suas marcas, para cumprir estratégias de relacionamento, objetivos sociais e obter benefícios fiscais.

Mas vamos por assuntos e aos poucos.

É inegável a encessidade do Estado forte para garantir franquia de direitos e que os recursos financeiros disponíveis sejam utilizados em benefício da Sociedade, de forma republicana, permitindo a fruição de bens, o aperfeiçoamento da produção e geração de novos bens, a manutenção e ampliação de estruturas de difusão.

Dentro de algum tempo será voada a Proposta de Emenda à Constituição de nº 150 (PEC 150-2003) definindo percentuais fixos obrigatórios do Orçamento da União, Estados e Municípios para a Cultura.

Só para termos uma idéia, o Congresso Nacional vem gradativamente aprovando acréscimos no orçamento da União para a Cultura em volumes de dinheiro ainda aquém das necessidades (e possibilidades) reais do país. Saímos de um patamar em torno de 0,3% para 1% neste ano, o equivalente a algo em torno de 2,5 bilhões*.

Com a PEC 150, teremos, vinculado para a Cultura, 2% no orçamento da União, 1,5% nos EStados e 1% nos Municípios, sendo que o Governo Federal terá que disponibilizar parte dos valores que lhe cabe para ações integradas com os Estados. Para quem não sabe, vincular determinado valor a determinada atividade economica significa obrigar o gestor público a utilizar o recurso naquela atividade. Em acontecendo, viveremos um salto qualitativo impressionante no Brasil. Imaginemos a importância de cada municipio brasileiro ter pelo menos 1% do orçamento destinado a atividades culturais.

Há quem diga que é um absurdo obrigar o administrador público a trabalhar com recursos predeterminados para a Cultura quando há carências em várias áreas, ou que é inaceitável ver um governante não podendo colocar em prática suas idéias porque estará engessado pela vinculação do orçamento da Saúde, Educação e agora Cultura... Pois o conceito é exatamente este: evitar que determinado gestor, sem qualquer interesse por determinada atividade, faça o que bem entender com o dinheiro público.

As forças políticas que possibilitam a governabilidade são muito complexas e os interesses são os mais variados possíveis. Muitas vezes o Governante culto, com visão de futuro é obrigado a ceder nas questões orçamentárias aos interesse políticos que o levaram ao poder. Neste caso, a vinculação o protege e permite que desenvolva programas de interesse da sociedade e a favor de suas convicções. Na contrapartida, o Governante inculto ignorante também será obrigado a obedecer a lei e convencer-se da necessidade de destinar os recursos previstos para a atividade cultural que, em primeira análise, é do interesse de toda a sociedade - a grande beneficiária da vinculação. Imaginemos o aprendizado para todas as forças que compõem este xadrez.

Apesar da lei, a União, Estados e Municípios não devem se restringir a estes percentuais. Espera-se que os números aumentem na medida do entendimento dos significados economicos da atividade cultural.

É bem provável que a votação desta emenda e outras em curso esteja ainda distante, mas o processo é inevitável, pois as demandas públicas são claras, há um bom consenso entre as várias correntes políticas e, mais dia, menos dia, veremos sua aprovação.

Enquanto isto não acontece, a sociedade precisa se preparar para isto.

Discutir e propor caminhos é o objeto deste espaço.


*fonte Ministério da Cultura.

terça-feira, 16 de março de 2010

Carlos Gomes no mapa do Brasil (7)

O Visconce de Taunay, como indica o Maestro Roberto Duarte, teve uma expressiva atuação no cenário musical Brasileiro durante o Império, em paralelo a sua atividade multidisciplinar como político, historiador, engenheiro militar, artista plástico, escritor, professor e socióloco.

Além de um apaixonado pela música do Padre José Maurício, foi amigo, conselheiro e incentivador de Carlos Gomes que lhe dedicou a ópera Lo Schiavo. Não por acaso, Taunay foi quem sugeriu o tema a Carlos Gomes no momento em que o país vivia uma atmosfera acirrada de discussões sobre a abolição da escravatura.

Ao Visconde de Taunay coube ser o patrono da cadeira nº 17 da Academia Brasileira de Música ao lado de Carlos Gomes (cadeira nº 15) hoje ocupadas respectivamente pelos compositores Guilherme Bauer e Almeida Prado.

No mapa do Brasil, na Praia Grande, em São Paulo, algo por volta de 10 minutos separam os dois acadêmicos. Uma visita é fácil. Saindo da Rua Alfredo D'Escragnolle Taunay, no Trevo, toma-se a Via Expressa, entra-se à direita para a Presidente Kennedy e, finalmente, chega-se à Rua Carlos Gomes, em Cidade Ocian.

Carlos Gomes leva ao mar na Praia Grande. E em boa companhia, pois, em paralelo, lá estão as Ruas Dom Pedro II, José de Alencar, Emilio de Meneses, Monteiro Lobato, Mário de Andrade, Guimarães Rosa.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Dilemas contemporâneos da Cultura (3)

Tanzerinnen ihre Shuhe bindend - Degas
Dançarinas amarrando sapatilhas
Nosso "enigma ancestral" , como disse no último post, é como fazer para que a produção cultural brasileira seja inserida - mais do que isto - seja percebida como uma contribuição estratégica e essencial para nossa economia, com reconhecimento internacional equiparada ao que se faz nos grandes centros produtores.
As industrias criativas respondem por mais de 15% do PIB*. Se levarmos em conta o crescimento economico indicado em todas as perspectivas apontadas por respeitáveis analistas nacionais e estrangeiros, o equivalente a este percentual em moeda corrente deverá aumentar proporcionalmente de forma estupenda nos próximos anos.
Permanece o dilema. Como fazer para que os municipios respondam de forma adequada a este novo salto de desenvolvimento? Como preparar as máquinas do Estado para aproveitarem esta oportunidade de forma inteligente?
Os impactos economicos nas familias têm efeitos rápidos. As pessoas aprendem depressa a conviver com mais recursos e se inserem sem muita dificuldade no mercado de consumo.
Superada a demanda reprimida por celulares, televisores de plasma, lcd, led (qual é o melhor mesmo?), computadores, esta nova classe média buscará satisfazer suas expectativas de consumo de cultura.
Se este raciocínio lógico na aparência for verdadeiro, o Brasil viverá uma demanda muito forte de produtos culturais e, considerados os resultados do investimento que estão sendo feitos na educação, uma, no mínimo razovável, compreensão dos direitos indiividuais de acesso à cultura.
Ainda no campo das hipóteses, é razoável supor que em paralelo o cidadão aprenderá a fazer exigências proporcionais à contrapartida do voto.
Esta maldita herança das mazelas políticas escancaradas - esta a verdadeira herança maldita - dará ao País a oportunidade de um novo pacto ético.
Inspirações de Eleanor H. Porter à parte, acredito - e nisto estou em ótima companhia - que daremos certo e que a produção cultural será reconhecida como mais um motor de desenvolvimento.
O dilema persiste. Entretanto, uma pista: o voto será determinante do futuro. Portanto, senhores da política, empresários, senhores que detém o poder, preparem-se. A matriz do seu desenvolvimento passa por um novo olhar sobre a questão social e, em especial, pela ação cultural. Quem tiver respostas práticas, viverá crescendo.
Alguém duvida? Sempre haverá quem duvide. Mas, pelo que me contaram até hoje, o mundo muda por quem acredita.
*Para quem quiser e não souber onde achar, posso enviar algumas informações recentes que demonstram a fatia ocupada pelas chamadas indústrias criativas no bolo da economia Brasileira. Basta solicitar aqui mesmo no blog.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Deus acuda! (2)

Geraldão
por Glauco*


A morte em si não me preocupa. É um processo que só nos diz respeito na medida em que possamos construí-la da melhor maneira possível dada sua inevitabilidade.

Entretanto, a morte banal me deixa perplexo e abismado. A imagem é esta: abismado, à beira do precipício onde se quer deixar instalada a raça humana.

Não dá. É penoso admitir que somos impotentes para evitar a violência.

É o trânsito que mata porque a bebida mata, a droga mata, o tráfico mata, as torcidas nos estádios matam, os maus exemplos na politicam matam, o desamor mata, a inveja mata, o desprezo pela vida humana mata.

Não mais falamos da morte pelo desespero, pela fome, pela última possibilidade. Não. É da morte trivial que nos ressentimos. Aquela morte estúpida, cotidiana que nos lembra o quanto o ser humano pode ser deplorável, ignorante, temível.

Nós falhamos. A humanidade falhou. Não sabemos lidar com isto.

Estamos todos à beira do abismo, border line e a chance prática é a intervenção sistemática do Estado, irreversível, sem negociação, preservando os Direitos da Pessoa, mas batendo pesado com as ferramentas que o planejamento, a tecnologia colocam à nossa disposição. Não dá mais.

Mortes como a do Glauco, quaisquer que sejam as motivações, só podem ser a exceção, da exceção, da exceção e, mesmo assim, olhe lá.

Não dá mais para aceitar que algumas dúzias de marmanjos usem o esporte para brigar. Ou que um imbecil qualquer de cara cheia faça o que quiser com um carro. Ñão dá mais morrer por causa de trocados, ou por um par de tênis, por uma bobagem qualquer.

Já nos basta a boa morte, a que vem anunciada sem dizer quando.

É tempo de recolhimento, de prece no credo de cada um. Tempo de mudar a frequência. É tempo de fé.

*O cartunista Glauco Villas Boas (Glauco -1957-2010) foi assassinado na sua residência hoje, 12/03/2010, por dois homens.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Carlos Gomes no mapa do Brasil (6)

Carlos Gomes

Próximo ao Hospital São Lucas, na cidade de Diadema em São Paulo, na Rua São Jorge, 160, fica o Estopim da Fiel, sede de torcida organizada do Corinthians, onde os torcedores, entre outras coisas, podem compar os ingressos do próximo jogo do "Timão".
E o melhor de tudo isto é que não muito longe dali fica a Rua Carlos Gomes: uma ruazinha pequena, mas que não deixa de ser o registro da homenagem ao compositor.
O que pouca gente sabe, entretanto, está na nota que me enviou o Maurício Chiavatta, de São Paulo.
Segundo consta na história do time de futebol, 13 pessoas sacramentaram a fundação do Sport Corinthians Paulista. Entre elas Miguel Bataglia, um alfaiate de renome à época e o primeiro presidente. Lá no bairro do Bom Retiro, ainda à luz de lampião de gás, o grupo discutiu meia dúzia de nomes para o novo time que surgia. Entre as idéias, passaram por Santos Dumonte , vejam só: Carlos Gomes e até Guarani (o título da ópera mais famosa de Gomes).
Por sugestão de José Ambrósio (um dos 13 fundadores) decidiu-se homenagear o famoso time inglês Corinthian Football Club que excursionava no Brasil. Assim mesmo. Corinthian sem "s". Como a torcida e a imprensa chamavam a equipe de "Corinthian's Team"...
De qualquer modo, por pouco um dos times de futebol mais populares do Brasil não se chamou Carlos Gomes.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Dilemas contemporâneos da Cultura (2)

Bahia, 1971
de Hector Júlio Páride Bernabó (Carybé)


Se a reorientação econômica consequente ao golpe militar de 64 de fato implicou no crescimento do parque industrial brasileiro e do mercado interno, de direito, com a supressão das liberdades individuais e da livre expressão do pensamento, criou-se um monstrengo alienado em que a base do mercado de bens culturais estabeleceu-se a partir do favorecimento da cultura de massas em detrimento da chamada produção cultural erudita, gradativamente relegada a segundo plano.
Pobre direito este que privou a nação do aprendizado de música nas escolas e lhe garantiu o acesso ao sofá das tardes de domingo sonolentamente embaladas pelos intermináveis programas de variedades, enlatados de validade vencida e tragicomédias destituídas de valores críticos que não aqueles permitidos pela ordem vigente.
É neste aspecto que reside a crueldade do modelo que exclui o conteúdo. Valoriza a quantidade e a forma que se desenvolva em certo padrão de qualidade aqui assinalado pelo seu caráter asséptico e de "identidade universal" na contramão da Cultura como manifestação dos aspetos particulares de uma determinada sociedade.
A opção é capitalista no seu sentido mais avançado de apropriação da informação e deformação dos bens culturais em si, na medida em que se tornam meros apêndices de uma estética construída por tecnologia.

Na televisão, por exemplo, usando uma linguagem aparentemente de valores nacionalistas e de integração nacional, deixa-se de lado qualquer hipótese do pensamento regional, das diferenças, das formas de pensamento, da Cultura do diverso. O pensamento regional é manifestamente um suporte exótico para a experimentação da forma. O mesmo vale para as apropriações do pensamento estrangeiro.

Estabelece-se um padrão gerado a partir de São Paulo e Rio de Janeiro que perdura, bastando para isto observarmos as vozes dos jornalistas em rede nacional em que se busca eliminar qualquer sotaque ou acentuação própria. Não fosse esta a menor questão no problema, poderíamos discutir o quanto é prejudicial para a nação a falta desta consciência crítica que surge a partir da padronização da fala*.

Não deixa de ser curioso o Brasil ser um exportador de televisão, ter ganho prêmios mundiais pelo alto padrão de qualidade, ser reconhecido como um país de excelência na criação e cinema publicitários. Isto significa na prática ser um país detentor de tecnologias e de profissionais numa área de ponta da cultura da imagem.

Entretanto, nossa herança não nos dá um cinema produzindo com qualidade em quantidade, porque o modelo implantado não privilegiou o conteúdo e coibiu toda e qualquer prática que viesse a permitir a prevalência do pensamento e sua distribuição republicana.

Herança que nos impede de avançar concretamente no mercado global de bens culturais em atividades fundamentais e estratégicas de cultura.

Este enigma ancestral exige rápidas medidas corretivas.

A primeira delas é a consciência de que o problema existe e é grave. A segunda e, em seguida, é preciso repensar a organização para a ação tanto no âmbito do poder público (nos níveis Municipal, Estadual e Federal) quanto da própria sociedade (Consumidores e Produtores de Cultura: artistas técnicos e realizadores). Esta ação deve reformular o pensamento.

Volto ao tema amanhã.


*em parte dos Estados Brasileiros, na defesa da chamada "cor local" - esta demagógica, corrupta e xenófoba forma de gestão - criam-se programas que abrigam toda forma de apaniguados, de estruturas de favores, reproduzindo nos organismos de cultura microcosmos similares aos de outras instâncias de governo. Isto é péssimo principalmente por criar a ilusão de qualidade e aprendizado. Não há aprendizado sem troca de experiências e sem mestre. E o que é ainda pior, acaba por não desenvolver estruturas criativas e de produção de forma adequada, em sintonia com as necessidades e perspectivas economicas do país.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Carlos Gomes no mapa do Brasil (5)

Edição Histórica de Maria Tudor (1998)
realização São Paulo ImagemData

A cadeira de nº17 da Academia Brasileira de Letras leva o nome de seu fundador Silvio Romero. Crítico literário, ensaista, poeta, filósofo, professor e político, Romero (1851-1914) foi um estudioso importante do folclore brasileiro com extensa obra neste foco de estudos. Em 1879, muda-se para o Rio de Janeiro no mesmo ano que Carlos Gomes compunha sua Ópera Maria Tudor na Itália.
Silvio Romero era do Estado de Sergipe.
Indo a Aracajú - capital do Estado - antes ou depois de uma apresentação da Orquestra Sinfonica de Sergipe no Teatro Tobias Barreto, visite os logradouros que levam o nome de Carlos Gomes.
São duas ruas, uma na Farolândia e outra no Ponto Novo.
Na região que fica no "meio" entre as duas ruas, uma Avenida também leva o nome do compositor ligando a Cecília Meireles com a Tancredo Neves, num bairro que mistura divindades gregas com personalidades brasileiras tais como Oswaldo Cruz, Euclides da Cunha, Mário de Andrade e Rui Barbosa entre outros.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Carlos Gomes no mapa do Brasil (4)

Choro Guarani - 1942-1952
Alvinópolis - MG

Dr. Cesário Alvim foi governador do Estado de Minas Gerais e, do seu nome saiu a cidade: Alvinópolis.
Pouco mais de 15.000 habitantes que vivem num território fazendo fronteira com várias outras cidades, entre elas Mariana e Santa Bárbara.
Alvinópolis, hoje, guarda na memória o Choro Guarani, um grupo musical que, entre outros, tinha o saudoso Darcy Carvalho e o Micaré, respectivamente o pai e o tio de Marina Carvalho.
O Choro Guarani foi criado sob a inspiração da vida e obra de Carlos Gomes e existiu de de 1942 a 1952. Foram apenas 10 anos.
Ficam deste curto período várias lições importantes. A primeira é que se não houvesse um Conservatório e se não houvesse uma bolsa de estudos para o melhor aluno da escola, como aconteceu com Carlos Gomes na segunda década do século 19, não existiria um grupo musical inspirado naquela tragetória em meados do século 20 e hoje, já no século 21, não estariamos relembrando este episódio.

Não é interessante refletir um pouco sobre isto?
Nós criadores, produtores, pensadores precisamos criar mecanismos para sensibilizar pessoas e demonstrar que o desenvolvimento se dá na medida em que conseguimos entender pequenas histórias e a partir delas encontrar soluções para o futuro.
Na cidade de Alvinópolis funciona a Casa de Cultura e fica aqui a sugestão para que a comunidade se una e recomponha o grupo. Música e memória andam juntas e ambas são fundamentais para que se reconheça a identidade de um povo.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Carlos Gomes no mapa do Brasil (3)

Igreja Matriz de Sant'ana
Carlos Gomes - Rio Grande do Sul - Brasil


Os Babinski, Stodulski, Osowski, Stawinski, Grzybowski, Wosinski, Sztormowski e várias outras familias polonesas foram as primeiras a ocuparem uma região de pouco mais de 80 km2, por volta de 1907, no Noroeste do Rio Grande do Sul.

Os primeiros desbravadores dedicaram-se à agricultura. Era natural que o nome da primeira comunidade fosse Sede dos Polacos. Depois Rio do Peixe, Ribeirão do Torto, Nova Polônia. Passa à categoria de Vila como um dos distritos de Erechim e, finalmente, ao se emancipar em 1944, a nova cidade passa a se chamar Carlos Gomes, uma homenagem ao compositor e uma referência à banda de música de mesmo nome, uma das marcas de qualidade e paixão da comunidade.

Se você quiser saber mais, visite o site oficial da cidade http://www.carlosgomes.rs.cnm.org.br/ enquanto não marca um passeio ao Rio Grande do Sul.

A cidade de Carlos Gomes me foi apresentada pelo Maurício Chiavatta em contribuição para o blog.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Dilemas contemporâneos da Cultura (1)

foto por Sérgio Righini

Não é de hoje a preocupação de como promover a produção cultural de forma sustentável e isto ganha contornos de urgência como se as necessidades atropelassem os fatos, tornando inevitável o ajuste dos processos de gestão. É hora da eficiência e eficácia.

No passado recente chegou-se à chamada Lei Rouanet com um tripé fazendo todo o sentido se a prática tivesse favorecido sua implantação. O sistema híbrido com o Estado desenvolvendo políticas com o Fundo Nacional de Cultura, o mecenato atrelado à renúncia fiscal e o empreendedorismo ativado por mecanismos acionários, parecia ser a solução mais adequada, não se deixando de lado os empréstimos bancários a juros subsidiados e variações. As questões econômicas do período inicial impediram que o sistema avançasse desta maneira e ainda hoje não temos uma solução satisfatória colocada em prática.

O dilema permanece portanto. Como produzir Cultura atuando em equilibrio com as demandas políticas do Estado e da Sociedade, modificando o caráter tutelar e ao mesmo ampliando os níveis de inclusão para a Cultura e na Cultura? Qual será o modelo adequado, consideradas as experiências nacionais e as práticas internacionais?

Não há dúvida que os Fundos Nacionais são necessários para estimular repostas às demandas do processo de formação e da franquia de direitos. É também certa a necessidade de uma participação maior das empresas e a compreensão do caráter estratégico de se produzir cultura de qualidade uma vez que isto se reverte para o próprio mercado na medida em que favorece o desenvolvimento humano, aperfeiçoa os sistemas de consumo. Nesta mesma linha, é importante a ação cinérgica do Estado com a concessão de incentivos escalonados, tendo em vista a própria rede produtiva da Cultura, a participação das atividades criativas no PIB, entre outros aspectos. Finalmente, as fontes regulares de financiamento e o desenvolvimento de canais consistentes e alternativos de obtenção de recursos (supressão ou garantias alternativas nos empréstimos, seguros, modelos compensatórios de negócios etc.).
Resta ainda uma questão operacional complexa, consideradas as dimensões e peculiaridades do território nacional, as desigualdades entre os Estados (de carater econômico, de infraestrutura instalada, de recursos humanos e mesmo da compreensão da amplitude do problema) e os perfis multiplos entre os Municipios.
De um lado a própria Sociedade exige maior participação, transparência pública, reformas e melhorias dos sistemas de políticas Educacionais, Sociais, Ambientais e de Cultura e de outro a Produção Cultural reivindica justo reconhecimento face aos crescentes entendimento e constatação de sua dimensão econômica.

Estas demandas são específicas e afetarão em maior ou menor teor a condução das políticas públicas a partir dos municipios, sendo necessários mecanismos urgentes de adequação sob o risco de não se construir as bases sólidas que o país e o bom senso exigem.

Na maneira como os Municipios se prepararão e se articularão com os Estados está a o selo estratégico de bons resultados futuros. Cabe aos Estados desenvolver programas que universalizem e estimulem o Desenvolvimento Cultural sendo a força motriz e integradora dos Municipios no processo. Estes por sua vez, precisam fazer a lição de casa.

Voltarei ao tema.

terça-feira, 2 de março de 2010

Carlos Gomes no mapa do Brasil (2)

Relógio Patek Phillipe pertencente
ao Maestro Carlos Gomes
Nesta semana o canal Globo News exibiu um programa especial sobre o compositor Carlos Gomes. Apesar da pesquisa e captura de imagens em várias locações no Brasil e na Itália, infelizmente a abordagem se manteve numa tristeza de fazer dó, como se Gomes tivesse vivido em desgraça todo o tempo. Ora, Carlos Gomes saiu do Brasil em 1863 e viveu 33 anos na Itália e, seguramente, não foi em regime de mendicância. Teve as dificuldades de um homem do seu tempo. Foi criativo, viril, reconhecido e deve ser lembrado principalmente pela qualidade de sua obra que incluiu operas, cantatas, missas e mais de uma centena de canções e modinhas. O mais é uma inversão de valores.

Mas vamos ao Mapa.

O Rio Grande do Norte é um belissimo Estado Brasileiro. Sua capital, Natal, possui vários municípios vizinhos e entre eles São Gonçalo do Amarante. A população de São Gonçalo é tão religiosa que a cidade possui 42 santos padroeiros.

A Rua Carlos Gomes em São Gonçalo do Amarante possui 10 quadras bem traçadas ao lado da BR 101. E está lá como uma memória permanente do autor de Uma paixão amorosa, sua primeira composição para piano.

Em breve falarei sobre o "Choro Guarani", em material inédito que me manda Mariana, de Alvinópolis-MG.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Nota de Rodapé (1)

CARMEN
espetáculo baseado na ópera homonima de G. Bizet
Santos - Janeiro de 2010


Está em curso a análise do Sistema Único de Cultura, uma proposta de emenda à Constituição que prêve um sistema de compartilhado de gestão da atividade cultural no Brasil.

Veja as propostas e acompanhe a movimentação na Câmara dos Deputados em Brasília através do site http://www2.camara.gov.br/agencia/noticias/EDUCACAO-E-CULTURA/145273-COMISSAO-DO-SISTEMA-NACIONAL-DE-CULTURA-DEFINIRA-PLANO-DE-TRABALHO.html . Nele você encontrará os detalhes da PEC-416-2005 e todo o seu andamento até aqui.

Esta é mais uma questão polêmica que envolve a participação conjunta do Ministério da Cultura e os organismos correspondentes nos Estados e Municipios.

O fato positivo é que estão sendo discutidas ações que poderão ser estruturantes para o investimento e criação de fontes de financiamento para a produção cultural.

Não deixe de ver.