quarta-feira, 7 de abril de 2010

Dilemas Contemporâneos da Cultura (10)

Ópera Rigoletto - Festival de Ópera do Theatro da Paz
Leonardo Neiva e Sergei Dreit


Sempre se fala em financiamento, incentivo, liberação de recursos, patrocínios, mecenato, doações à Cultura.

Mas vamos pensar um pouco: do que é que se está falando?

Vamos inverter o olhar e entender claramente que a produção da arte, seja ela qual for, é uma atividade de interesse coletivo, de interesse público porque auxilia os cidadãos na reflexão sobre a sua identidade, lhes acrescenta uma visão dos seus pares, dos seus vizinhos distantes. Dá ao indivíduo uma consciência crítica que lhe permite perceber seus horizontes pessoais, sociais e políticos. Trata das relações sociais sob uma ótica crítica, seja na familia, no trabalho, na religião etc. Permite uma constatação do Belo. A arte não é necessáriamente contra ou a favor, mas pode e deve posicionar pessoas de forma a serem contra ou a favor.

A arte tem uma função educadora quanto justapõe ética e estética.

Ao mesmo tempo em que modifica de forma inteligente o meio ambiente a seu favor, através da arte o homem recebe os indicadores de seus erros e acertos.

Isto tudo tem um preço.

Por isto Governos devem promover e garantir a produção cultural e se não o fazem estão agindo contra os interesses da sociedade que representam. A questão não é partidária, muito embora seja dada à orientação política a prerrogativa de eleger atividades que se correlacionem com seus principios, sem entretanto criar hiatos de continuidade no interesse coletivo.

Por isto as empresas têm obrigações e responsabilidades com a produção cultural uma vez que utilizam da força de trabalho e se viabilizam pela via de consumo de seus produtos e serviços. Se necessitam de comunidades sólidas, devem contribuir para que seu desenvolvimento se dê de forma saudável. Não basta às empresas a lógica de mercado, uma vez que o mercado não se sobrepõe ao pensamento e à liberdade de formulação do pensamento criativo.

Da mesma forma, a propria sociedade, o cidadão, tem a obrigação de dar sustentabilidade aos seus artistas também investindo seus recursos na proporção de suas possibilidades e demandas particulares.

À produção cultural, por sua vez, cabe a imensa responsabilidade de transformar, indagar, aguçar, investigar, inferir, superar, demonstrar, persistir, resistir, de possibilitar que homem veja no Belo a sua essencialidade, a sua aproximação e semelhança à Divindade.

Nota de Rodapé (2)

Hoje saiu na Sonia Racy (O Estado de São Paulo) a seguinte nota:

GOGÓ
O Metropolitan Opera de NY convidou e Paulo Szot disse OK. Participará da opereta O Morcego. Também no Met, o barítono brasileiro foi confirmado para Carmen, na temporada do ano que vem.

Esta informação complementa o post Dilemas da Cultura (9), de 5/3/2010.