terça-feira, 11 de agosto de 2015

Dilemas Contemporâneos da Cultura (95)

Einstein e Marilyn Monroe - cor digital e montagem Montagem Vírgula

Debate recente põe em pauta a necessidade de se preparar professores generalistas (os que dão aula no ensino fundamental de todas as matérias, normalmente formados em pedagogia). O raciocínio, pertinente, é que se um médico passa por estágios de aprendizado para se tornar um especialista, inclusive em clínica geral, estamos longe de oferecer aos nossos professores a oportunidade de se especializarem para o exercício de sua atividade. Confesso que não reúno conhecimentos suficientes nesta matéria e, apesar disto, aqui estou dando um pitaco neste tema. 

Somos assim. Os meios eletrônicos reúnem (desunem) para o bem e para o mal comentaristas em todas as áreas.Para evitar isto, tento não fugir do que me diz respeito.

Na Cultura, precisamos preparar gestores e isto sem qualquer comparação com os médicos ou mesmo com os professores. Não se trata simplesmente de termos pessoas com boa formação (jornalistas, pedagogos, historiadores, músicos, atores, diretores, sociólogos, cineastas etc.) ocupando cargos públicos, mas, independente da origem, profissionais preparados para colocar em prática modelos de gestão inéditos ou não.

Vamos refletir um pouco. Quanto mais próximos do topo, mais os cargos públicos são indicações políticas. Há, portanto, um componente de militância ideológica que é inseparável da natureza do cargo. Isto certamente provoca uma reação em cadeia a definir políticas e modelo de gestão. Nesta ótica, há muito a se ponderar sobre as diferenças regionais, sobre as formas de produção, formação técnica e artística e uma série de indicadores que podem determinar o grau de dificuldade que determinadas sociedades oferecem para a verdadeira apropriação da ação cultural pelos cidadãos.

Como reagir a situações em que decisões de cunho absolutamente pessoal interferem no que será oferecido à população? Afinal dirigentes não são autômatos e assumiram seus cargos com a missão de cumprir papéis que são esperados no poder público. O desafio é como estabelecer o equilíbrio entre programas e níveis de investimento em cada um deles. Assim colocado, parece uma afirmação fluida, sem maiores consequências que o seu conteúdo de leitura direta em si. 


Quero explorar isto um pouco mais. 


O que motiva as decisões tem relação obvia com a formação de cada gestor. Se no entanto, aos atributos do cargo não estiver somada ampla formação e domínio das questões que norteiam o universo contemporâneo da Cultura, teremos resultados aquém do que determinada sociedade poderia obter. Como resumo até aqui, pode-se afirmar que é urgente que se formem gestores e é também papel do Estado, dos partidos, investir nestes mecanismos de aperfeiçoamento no âmbito de seus interesses específicos, lembrando que ao Estado cabe aperfeiçoar servidores de qualquer cor política, digamos assim. E aos partidos preparar quadros que os representem quando a serviço do Estado. 


Trazendo o tema para nossa área foco, se pensarmos de maneira sistêmica, podemos imaginar que o reconhecimento da natureza da produção cultural (acadêmica e popular), dos artistas e grupos envolvidos, da capacidade técnica de realização, dos bens de valor daquela sociedade sejam de caráter material ou imaterial e das relações entre as forças sociais, é fundamental para um ponto de partida facilitador para a inovação.


Esta é a chave concreta. O Futuro não será como era antes* e práticas inovadoras são desejáveis. Se hoje falamos em economia criativa e em inovação, não é por acaso. Trata-se de um imperativo desta nova condição de prepararmos um futuro sabido, numa era em que as incertezas estarão colocadas de forma esmagadora e não se admitirão experimentações com a natureza humana sob o risco de seu extermínio, sem qualquer exagero retórico. 


O fracasso dos sistemas elevam as desigualdades, os extremos de miséria, a falta de acesso a mecanismos de justiça social e a altíssimos níveis de degradação ambiental com toda a sorte de ameaças letais para a humanidade. Some-se a isto a intolerância, a falta de aceitação do diferente e níveis de insatisfação crescentes.


Tal qual a foto colorida com tecnologia digital que ilustra este texto, é bom podermos olhar as mesmas coisas sob outros pontos de vista e com outros elementos que provoquem as nossas capacidades de abstrair. 


Estas provocações são necessárias e auxiliam nossa reflexão. Há limites para a provocação, entretanto. Provocação não é brincadeira com as percepções sociais, por exemplo.


Continuarei no tema amanhã.


* Paul Valéry