quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Não há nada mais antigo...

... do que cowboy que dá 100 tiros de uma vez...

Minha geração nasceu da mídia - com a mídia de massa - embalada pelos 100 tiros do cowboy do Nelsinho Motta e Marcos Valle. De fato não assistia ao programa de televisão que tocava este tema de abertura, mas não há ninguém da minha idade que não se lembre da música e, claro, do tal cowboy atirador com seu cavalo invariavelmente branco, preto de crinas longas e brilhantes.

Não consigo tirar da cabeça a frase do Paul Valèry cunhada no final do século XIX: o problema do nosso tempo é que o futuro não é o que costumava ser.

Sem apelar para o saudosismo fora de hora, os olhares mais atentos percebem que alguma coisa mudou há pouquíssimo tempo e nós - antenados blogotas e adultos com macacos no sótão - não estamos mais claramente posicionados sobre os novos rumos.

Não é como costumava ser.

Tenho invocado todos os oráculos e, ao que parece, tudo sinaliza para uma nova realidade distante do que projetávamos nos anos 70.

Entre o comunista que comia criancinha e a mídia como máquina controlável como querem alguns hoje, há um processo perverso e nivelador em távola rasa que modificou as demandas populares para pior. Não dá para atribuir ao gosto do povo esta ou aquela escolha. Também não sejamos ingênuos ao imaginar que o povo é uma figura manipulável o tempo todo. Não se trata de um filme em que nós, os documentaristas, do alto da grua, olhamos longe e vemos "O Povo".

Não é isto. É uma questão mais complexa. Quem nunca comeu jiló e só ouviu dizer que é ruim e amargo, jamais provará a iguaria. Se não lhe foi oferecido regularmente, o prazer desta degustação jamais acontecerá. No seu túmulo estará escrito: Aqui jaz quem nunca comeu jiló. Foi infeliz e não sabia.

Está certo: dirão que é cultural. Não tratemos pois da cultura do jiló, nem da cultura de comer jiló. Mas da Cultura segundo os jilós. Homens e mulheres amargos como o fruto, mas saborosos e apreciáveis.

Ah, sim: para quem não sabe, jiló é fruta.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

A solução no Petróleo? Ora, faça-me o favor...

Hoje noticia-se na Folha de São Paulo ( http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1109200915.htm) que o Ministério da Cultura conseguiu 1% do petróleo do pré-sal para a Cultura o que pode significar até 10 vezes mais o orçamento atual. Não há dúvida que deveríamos comemorar isto, não fosse lastimável o estado de abandono da música erudita e da ópera.

Não vou entrar no mérito de como andam estas áreas, porque teremos muito espaço aqui para isto. Apenas registro, como primeira nota neste primeiro blog, a sensação de vazio que tenho quando ouço falar de pré-sal. É provável que eu esteja enganado. Espero estar enganado. Mas não deixo de pensar que esta história é uma balela e uma inversão de valores. Quando todos sabemos que o que interessa para as pessoas e para o planeta é a busca de uma matriz energética limpa, verde ou nome que o valha, falar em petróleo, com investimento de alto risco e resultado idem, me parece uma posição tão frágil que sequer arriscaria qualquer palavra de elogio.

Há dois anos em Paris, andei num táxi movido a energia elétrica. Há dois anos. Confesso que não entendo porque não se investe este montão de dinheiro na pesquisa de novas fontes e se aplica desde já parte dos recursos existentes na produção cultural. Quando se fala no Brasil em desenvolvimento, crescimento, melhoria da economia, imediatamente investe-se na produção com subsídios, redução de impostos etc. Menos na produção cultural que tanto pode gerar recursos, empregos, desenvolvimento, conhecimento, saber.

Lamento constatar, mas o modelo que aí está não interessa ao Brasil. Não interessa aos Brasileiros. A Cultura é a nossa fonte de riqueza, é o que pode eliminar o que existe de miséria no país, é o que pode gerar recursos de curtíssimo prazo. Não é uma aventura, nem anda na contramão do que se espera de qualidade para o planeta.