sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Tudo por um novo pacto civilizatório!

O artigo "Música no Brasil é prisioneira das canções" (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2310200927.htm ) do professor Vladimir Safatle, evidencia a grave condição por que passa a cultura erudita no Brasil.

Os bens culturais - formas de expressão da identidade de um povo e provas de sua humanidade - passaram a ser tratados no domínio das mercadorias e dos estoques, por políticas públicas relativizadas pelos projetos de poder, pela ausência de planejamento e de estratégias de formação.

A audição de uma peça de Reich, Penderecki, de Almeida Prado, ou uma visita a uma exposição numa Pinacoteca, tornaram-se entendidas como experiência de entretenimento, pois esta é a leitura rasa de cultura vigente.

A Cultura erudita deixou de ser um ativo das elites pela mesma lógica mercantil que dita os destinos da comunicação de massas, do acúmulo de bens, da velocidade de projeção pessoal e uma inversão do papeis das lideranças seja nas artes, no pensamento, na política etc. É lamentável que valha mais a forma que o conteúdo, a aceitação dos modelos prontos ao debate pela construção, a resenha à investigação e observação pessoal.

É necessário um novo pacto com urgência. Nós, geração que escreve, lê, pensa, decide, precisamos ter consciência imediata da obrigatoriedade de se pactuar um novo futuro. Perdemos muito nos últimos anos pela inércia com que a atividade cultural vem sendo tratada e isto precisa ser corrigido e se transformar numa espécie de agenda civilizatória.

A constatação de Gilberto Mendes de que "a música erudita de nosso tempo não existe para a classe culta brasileira" é reflexo deste distanciamento das elites intelectuais que têm o relevante papel de pensar, formular propostas e cobrar resultados de governos, entidades e de empresas.