sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Direitos e inclusão em debate.

Eleanor Roosevelt e cópia da Carta.
Direitos Humanos - 1948



"Os Direitos do homem e as liberdades fundamentais são um direito adquirido pela pessoa humana; a sua protecção e promoção constitui a primeira responsabilidade dos Governos".

Temos urgência no entendimento destas questões, principalmente no que se refere à inclusão cultural no Brasil.

A meu ver a grande oportunidade de debate e ação que se estabelece está no equilibrio entre os canais clássicos de inclusão e os novos canais decorrentes de uma maior percepção do espectro dos direitos principalmente culturais.

Se os canais clássicos - os sistemas públicos (de transporte, saúde, moradia, segurança, seguridade social e, entre outros, também educação e cultura) - deram conta até aqui em determinados limites, serão as novas possibilidades que garantirão a ratificação plena da cidadania.

Os novos canais referem-se à ação a partir de politicas economicas, sociais, culturais e ambientais, com maior controle social, seja sobre o "mercado", seja sobre o próprio Estado. Isto é inevitável em condições normais e republicanas, referenciando-se como processo natural de desenvolvimento social.

É perceptível no Brasil uma espécie de nova ordem econômica em que indivíduos passam a ter maior acesso a receita e renda, ampliando de forma ainda inquantificável as perspectivas de consumo em vários níveis, inclusive, e principalmente, de bens culturais.

Os investimentos em Educação e as decorrências são irreversíveis. Não dá para sequer imaginar o inverso e me recuso a sequer cogitar outras hipóteses.

O Brasil terá uma população melhor educada e com maior capacidade financeira de acesso aos bens culturais, buscando, como é de se esperar, ampliar seus horizontes através de maior leitura, do consumo de cultura erudita, das artes.

O entendimento de como será o novo sistema de políticas sociais e culturais, de que maneira deverá o Estado (nos âmbitos Federal, Estadual e, principalmente, Municipal) se organizar e rever seus sistemas burocráticos e de valores é a nova agenda.

O novo dilema contemporâneo extrapola a extensão dos direitos à simples (veja só!) questão econômica como vista até recentemente: o problema se amplia à construção de laços sociais, da responsabilidade das empresas (futuro em risco!), da multidisciplinaridade no âmbito da gestão pública, da democratização e transparência do acesso à informação.

Os municipios, e a partir deles, precisam se organizar com urgência. Esta visão estratégica será necessária para a sobrevivência dos gestores atuais. Lembremos que o processo é irreversível. Sempre haverá novas lideranças em gestação com novos parâmetros e a própria sociedade se alimentará neste processo. Portanto, o mais saudável é que se busque o aperfeiçoamento conjunto.

É fundamental que se tomem medidas para reversão das desigualdades e este processo se dará pela compreensão dos direitos e pela ação na busca de soluções que permitam uma maior integração das políticas públicas nas areas de convergência.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Sistemas de valores às avessas!

Le tricheur a L'as de carreau
Georges de la Tour


Sem exagêros, alguma coisa está errada além daquelas que já estão muito erradas.

Vamos lá. O que me interessa - e a você leitor - o que acontece com a vida privada de um famoso jogador de golfe? Não é esquisito ver uma intimidade que não nos diz respeito exposta a outras milhares de pessoas em todo o mundo "sob o patrocínio" da marca que empresta milhões de dólares ao esporte? Parece haver aí uma demonstração descomunal de forças e uma submissão desumana.

Não me venham com teorias de marketing para explicar o processo todo, pois as conheço muito bem e de cabo a rabo. Não me interessa, mas um olhar mais aprofundado, em outros tempos, concluiria que isto empresta mais valores negativos do que o inverso.

Da mesma maneira, acreditar em excesso de divulgação de doações humanitárias tem o mesmo peso quando se imagina um velhinho de barbas brancas, de roupinhas vermelhas descendo pela chaminé. Traduzindo: acho muito estranho celebridades internacionais em festejos de Momo, se meterem a divulgar que estão arrecandado ou doando fundos para instituições. Desconfio destas coisas, pois vejo valores na doação anônima ou no mecenas que não manda a fatura.

Não é um absurdo torcidas* organizarem brigas de rua com toda a sorte de violência, num momento em que o mundo inteligente pede paz? Ou um jogador (por acaso brasileiro) ser ameaçado de morte porque mudou de time na Sérvia? Não dá.

A Áurea, que me escreveu sobre este tema, e você, leitor, poderão, sem dúvida, levantar mais uma tonelada de exemplos na história recente.

No que nos diz respeito, precisamos ter consciência de que vivemos uma batalha dificílima contra valores que pouco a pouco criam forma, misturam-se devagar com nossos cabelos, pensamentos e, quando nos damos conta, resultam numa massa alienígena nos engolindo pelas tripas.

Se a imagem acima é digna de um filme de terror B, nossa reação a isto precisa estar em outro patamar.

Temos que usar a unica ferramenta de que dispomos: nossa capacidade de pensar e dissernir sobre o que nos interessa e que legado pretendemos para nossos descendentes.

Só há saida pela educação e cultura. Precisamos de união em torno de idéias e valores éticos. Devemos enfáticamente negar a decadência. Só devem nos interessar o respeito, a confiança, a qualidade, a lealdade, o diálogo, a ética na vida e nos negócios.

De outro jeito precisaremos prestar contas do que bebemos, comemos, como dormimos, como pensamos.

E isto, não interessa.


*este blogueiro sempre torceu para o São Paulo, gostando de ver o Ronaldo nos jogos do Corinthians, os valorosos "meninos" do Grêmio de Porto Alegre, o Cruzeiro em Minas, o Botafogo no Rio. Doravante, não mais torço para time nenhum. Não dá para encarar a mediocridade que cerca o esporte.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Carlos Gomes no mapa do Brasil (1)

Rua Carlos Gomes em Milão- itália
by Rosana Caramaschi



Esta foto é emblemática. Carlos Gomes* é nome de rua em Milão.

E no Brasil? Quanto de Carlos Gomes está na nossa memória urbana?

Levantei pouco mais de 150 logradouros, entre praças, ruas, vilas, avenidas, alamedas e travessas em praticamente todos os Estados Brasileiros (somente 3 não "conhecem" o compositor).

A partir desta terça-feira, sempre no mesmo dia da semana, farei um convite para uma visita a um destes lugares.

Proponho ainda que os leitores do blog enviem material iconográfico (fotos, reproduções de desenhos e documentos relativos a Carlos Gomes, sua obra e as ruas que levam seu nome) para o email spimagemcadoper@uol.com.br.

Fica o convite para a participação nesta história.

Hoje, 23 de fevereiro, fica a sugestão para quem visitar o Rio Grande do Sul, dar uma passadinha em São Borja. Na cidade, o mais antigo município do Estado, fundada em 1682, a Rua Carlos Gomes está localizada entre as Ruas Castro Alves e Pedro Américo. Aproveite para conhecer mais sobre São Borja o primeiro dos sete aldeamentos que compõem os Sete Povos das Missões.

*se quiser saber mais sobre Carlos Gomes, visite o site www.casadaopera.art.br .

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Sem saudades!

The Adrenalin by MissAniela
Nada mais oportuno do que reiniciar as atividades do blog após mais do que merecidas férias, revendo o que foi o ano que passou.


Ainda embalado pela doce preguiça do ler, ler, olhar, refletir, debater, ler, ler, ler, prefiro reapresentar o texto que escrevi, publicado na edição de Janeiro da Revista Concerto.


Trata-se de uma revisão concisa do ano de 2009 - aquele que não deixou saudades. Vamos lá:




Os livros de Lauro Machado Coelho, Sérgio Casoy, do João Luiz Sampaio, do Marcos Goes, do Márcio Páscoa, a reformulação desta Concerto (a revista chegou às bancas com novo formato) são uma desmonstração aprcial do vigor por que passa o segmento da ópera e da música erudita que se amplia nas áreas de suporte e de pensamento. Mesmo raciocínio vale para a reformulação do Prêmio Carlos Gomes.


Estes esforços de memória são muito necessários para o que quremos ser e ver.


As produções das óperas Macbeth e Menina das Nuvens em Belo Horizonte destacaram-se como atividades de grande porte no ano. É bom, mas é muito pouco em termos nacionais.


Incluindo a crise, os teatros em reforma (Municipal de São Paulo e Municipal do Rio de Janeiro), as dificuldades de patrocinio, os problemas institucionais, adiamentos de programas, a indefinição de políticas nacionais para a ópera, os recursos minguados, para ficarmos apenas nisto, não dá para enxergarmos 2009 como além do razoável.


Ano com tudo para ser de horizontes curtos. Entretanto, para alargar perspectivas, algumas pessoas se uniram e criamos a ACPOESP-Associação dos Cantores e Profissionais de Ópera do Estado de São Paulo que, ao ganhar corpo, acabou abrigando nomes de vários estados dispostos a debater das questões profissionais de ordem prática à percepção do papel do segmento na formulação de políticas públicas. Esta agenda permite, na mais estreita das hipóteses, a discussão da importância do caráter associativo para a Cultura e iniciar um novo processo de abordagem da atividade.


Quanto aos rumos, somos fortes o suficiente para acreditar que temos profissionais capazes de formular programas, encontrar soluções criativas e produzir Cultura no Brasil. Afinal, tudo indica que estamos a um passo do desenvolvimento, não é isto?


Com este texto exorcisei 2009.


Não há escapatória daqui para a frente. São necessários investimentos maciços na Educação, na produção Cultural e sua fruição integrando de forma cientifica as àreas correlatas. Sobre isto pretendo expor e debater muito (Muito!) a partir daqui.


Nós, criadores na área da Cultura, temos muito a contribuir para o desenvolvimento, pois integramos uma matriz revolucionária capaz de modificar pessoas, seu meio ambiente, a maneira como se processam as relações sociais. Somos agentes importantes e nosso conhecimento é precioso e estrátégico.


Somos bemvindos ao futuro.