terça-feira, 3 de novembro de 2009

Cultura e Poder

by cepê
" A Cultura é uma maneira de enxergar o que acontece no país". Com esta frase, a atriz Dina Sfat, numa antiga entrevista para um canal de televisão, repetia o que já virara um bordão conhecido de todos os que trabalham na área da cultura, educadores, pensadores, intelectuais.
Ora, esta transparência que a Cultura favorece não interessa a todos os governantes.
Esta é uma questão de fundo complexa.
Quantos são os de fato democratas que aceitam financiar um determinado programa, uma peça de teatro que fala mal de determinado gestor, de grupo ou categoria empresarial, ou prática de governo? A ópera, cuja base criativa é o comportamento humano e suas peculiaridades afetivas, políticas e sociais é um instrumento que interessa promover? E a pintura? A dança?
Como vivemos de fato uma democracia relativa já que experimentamos realidades muito diversas em todo o país, que expectativa podemos ter de unidade? O Brasil tem em torno de 5.500 municípios, com uma cadeia de poder extremamente complexa.
O conjunto de formas de expressão da identidade de um povo é aquilo que constitui aquilo que chamamos de Cultura. Isto significa que todas as formas de expressão sejam ditas populares ou eruditas têm o mesmo peso na constituição da identidade de uma nação. A Cultura popular - as formas de expressão populares - tem um caráter repetitivo e de transmissão pela repetição, é de fácil compreensão e com acesso estimulado pelos veículos de comunicação de massa, data sua fácil assimilação e alto poder capacidade de gerar entretenimento rápido e de baixo custo. A Cultura erudita, por sua vez, exige outros graus de "alfabetização" já que permite niveis de "leitura" diferentes. Qualquer forma de expressão artística permite vários níveis de leitura e esta é uma característica essencial da arte e não arte. Mas o acesso a estes níveis diferentes é parte do grau de alfabetização de cada consumidor da arte.
O acesso à Cultura, mais precisamente a inclusão cultural - a "alfabetização" para a Cultura - é um dos direitos fundamentais do homem, da mesma maneira que o direito à Educação, à Saúde e ao Meio Ambiente sustentável.
Ao nos preocuparmos com a maneira como os diferentes níveis do poder político e empresarial se relacionam com a Cultura, estamos de fato chamando a atenção para a necessidade de articulação da sociedade através de suas entidades representativas constituídas para a preservação de um direito inalienável. É preciso ativar as consciências, estimular a reflexão e a discussão para estes problemas e questões que influenciam o fazer cultural.