sábado, 3 de novembro de 2012

Virada Cultural no Theatro Municipal? (II)


               Cena do Espetáculo Andradianas no hall do TMSP*

O editorial Cultura na Periferia da Folha de São Paulo de hoje (3 de Novembro de 2012) me leva a retomar o tema.
Ainda que seja natural e necessário se falar em descentralização e ampliação da oferta de bens culturais na periferia de São Paulo, recuso estas expressões por acha-las não abrangentes o suficiente.
Imagino a Cidade como uma grande balança de pratos e pesos desiguais dispostos numa rede de braços comunicantes cheia de gargalos e torniquetes. Não há uma periferia. São várias periferias de si mesmas, com formas e culturas próprias, maneiras de pensar diferentes entre si, com demandas particularíssimas. Neste sentido, estamos acostumados a ver a cultura do SESC, do SESI, da Cidade, do Estado, das Associações e Clubes de Serviço.(segue) 
Cada força buscando soluções próprias, tentando cumprir seu papel nas suas possibilidades e com seus focos específicos.
Ora, o desafio de qualquer governo que chega é de forma legítima admitir o que funciona nas políticas públicas propostas pelo governo anterior e mantê-las em andamento, se possível aperfeiçoando maneiras de executar, ampliando seu escopo, criando formas de satisfazer seus próprios programas sem excluir ou limitar as virtudes do modelo antecessor, sem qualquer receio de mudar ou manter pessoas, de implementar melhorias.  Ao mesmo tempo, por em prática as ideias próprias agregando valor à gestão da cultura na cidade, de modo a criar o “mesmo problema” para gestões futuras.
O que se espera, portanto, é que se crie um ciclo virtuoso de larga permanência utilizando a sinergia criadora da Cultura para estabelecer novos e consistentes parâmetros de sustentabilidade.
Sabemos que o prefeito Haddad é um homem sensível e durante sua gestão no Ministério da Educação patrocinou iniciativas na área da música clássica. Independente deste e outros gestos semelhantes, o prefeito possui esta abrangência na sua história pessoal e, ao lado dele, sabemos que são muitos os bons intelectuais dos vários partidos que constituem a sua base política com a visão alargada nesta matéria.
Mas, retomo o tema, não por isto. Acho importante que se mantenha esta discussão em alta. Precisamos discutir a Cultura na Cidade de São Paulo independente de cores partidárias e desejos pessoais. Afinal temos 4 anos pela frente, com dois enormes espetáculos esportivos internacionais, uma eleição para Presidente e Governadores e, com isto, todos os elementos para que passemos em banho-maria na área.
No Editorial de hoje, a Folha é contra faixas fixas de Orçamento para a Cultura.
Sou a favor. Explico.
Concordo com a criação de Fundos destinados ao Fomento, Formação e à Difusão Cultural, muito embora tenha também várias dúvidas quanto aos mecanismos mais adequados para distribuição de recursos e bom uso dos recursos públicos. Definidas as políticas, é quase natural a definição dos programas e creio ser mais eficaz a definição por "micro" áreas de ação, mas isto carece de debate.
Há alguns anos, conversava com um prefeito de uma cidade com mais de 150.000 habitantes, quando estava no auge a discussão da famosa PEC 150. Dizia ele “ser um absurdo obrigar o prefeito a destinar dinheiro para a Cultura, pois, deste jeito (sic) não dá para o executivo criar nada, pois está tudo amarrado. Educação, saúde, vá lá, mas Cultura?”. Com todo o cuidado para não arrumar um inimigo mortal, conversamos longamente e disse a ele que determinadas áreas como a Cultura, em minha opinião, precisam ser preservadas mesmo que seja com valores mínimos além da atividade meio (pagamentos de alugueis, salários do funcionalismo, estruturas das Organizações Sociais etc.), pois obriga a Prefeitura a destinar esforços para uma área que, no entendimento da maioria dos políticos, não rende voto (acho isto outra fábula).  Também argumentei que, longe de engessar o executivo, permite dar ao governante a perspectiva de ser criativo elegendo prioridades, colocando em prática as relevâncias de seu programa, mantendo e aperfeiçoando o que já funciona, inclusive dando a ele a oportunidade de demonstrar publicamente o que colocou de recursos além daquilo para o que foi obrigado legalmente, seja por aumento de arrecadação, por parcerias que tenha realizado com o setor privado ou ainda recursos obtidos dos demais poderes.
Não parece lógico?
Quanto à afirmação do editorlal de ser “descabida” (sic) e “pueril” (sic) a proposta de “democratizar” o Municipal, como explicito no programa de Governo do prefeito Haddad, já me manifestei no post anterior.

*foto obtida com dispositivo móvel, com performance envolvendo cantores do Coral Paulistano, bailarinos do Balé da Cidade, músicos e figurantes, no espetáculo "Andradianas", comemorativo da Semana de Arte Moderna de 1922, no saguão do Theatro Municipal de São Paulo, demais dependências e incluindo a Praça Ramos de Azevedo, em fev. de 2012.