quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A Cultura, o pré-sal e o Brasil

Antoni Tapies

Muito embora discorde da deposição de esperanças no advento do petróleo "pré-sal" como já manifestei neste blog (ver post de 11/setembro/2009 - aliás, que data, hein?) e não seja o melhor amigo do Vale-Cultura, concordo com praticamente tudo que o Ministro Juca Ferreira expõe no texto na seção de Tendências/debates do Estadão do dia 5 de Novembro com o mesmo título deste post.

De fato, acredito que o Brasil esteja vivendo sob uma perspectiva de grande avanço na área da Cultura e, ufanismos à parte, há uma evidente posição favorável nos circulos internacionais.

Como disse o Ministro, "não se assume um papel de liderança apenas porque se tem dinheiro. É preciso ter valores próprios e propostas exequíveis para todos. Nada disso será possível sem disponibilizarmos educação de qualidade e acesso pleno à cultura para todos os brasileiros... Daí o acerto em tratar a cultura como parte de um projeto de nação, como parte da preparação do país para enfrentar desafios e ampliar nossa capacidade de pensar e compreender o mundo contemporâneo, construindo um desenvolvimento sólido e irreversível."

O grifo é importante e necessário para ressaltar que esta frase encerra os principais problemas da Cultura. Um pouco mais à frente no texto, o Ministro conclui que "não há como pensar uma grande nação sem um desenvolvimento cultural intenso".
De fato. A Cultura é via de desenvolvimento e a grandeza das nações se mede pela maneira como são preservados os direitos dos seus cidadãos no acesso à educação, à saude, à cultura e ao meio ambiente em equilibrio. Estes são direitos inseparáveis e interdependentes por serem a razão manifesta do outro e, portanto, de caráter estratégico na construção de uma nação.
Isto tudo sugere uma reflexão.
Todas as questões relativas ao pensamento - abrangência, conteúdo e modelo - passam pelos graus de "alfabetização" do indivíduo e a Cultura erudita se apresenta como proposta de excelência para favorecer este aprendizado uma vez que dá vazão a formas de interpretação em diversos níveis como exercício permanente.
Não dá para pretender caminhos diferentes. É necessário investir pesado na produção da Cultura erudita. Isto não significa abandonar os esforços hegemônicos em torno da Cultura popular. Não. Pelo contrário, todos os esforços para entender e expor a nossa ainda desconhecida e complexa identidade cultural são necessários. Mas é preciso entender com urgência que investir na Cultura erudita é investir em formação de mão de obra e de público.

Precisamos preparar o Brasil com urgência. É preciso incluir a Cultura erudita na agenda do Governo, das empresas e instituições.
Quando revelo minha displicência com relação ao Vale-Cultura é simplesmente porque vejo nele apenas mais uma medida - necessária diga-se - de facilitação do acesso. Isto e não mais que isto. É tão importante quanto as campanhas do tipo "Vamos ao Teatro" ou coisa parecida. Sou displicente, mas não inimigo.
Acho que Cultura como qualquer atividade economica, se desenvolve com mecanismos que favoreçam a produção. Não é assim quando cai o desemprego? Não é assim nas crises? Determinado setor entrou em declínio, investe-se - o governo diga-se - pesado na produção.
Pois é. O Vale-Cultura não é isto. É um instrumento de investimento no consumidor. Não se trata de discutir a validade disto. O fato concreto no Brasil é que surge uma nova classe média disposta a aprender, a valorizar seus ativos pessoais e a consumir cultura. Isto é fato. Mesmo que ainda este novo grupo não saiba disto, muito em breve, incluirá investimento pessoal em cultura como prática. É inevitável e é fantástico que isto aconteça.
Mas para que a equação dê certo, é necessário que produtos culturais de qualidade adequados à realidade brasileira, aos novos formatos e mercados que se formam possam ser viabilizados. Para isto, é necessário investimento em produção, parcerias concretas com instituições que possam viabilizar bons produtos culturais e que, atuando de forma sistemática, com princípios e valores voltados para a construção de uma nação solidamente desenvolvida, possam gerar empregos, formular programas e alimentar a ampla rede econômica que se forma.