terça-feira, 30 de novembro de 2010

Carlos Gomes no Mapa do Brasil (30)

Berlim virtual (*)

Quando comentei ontem no Facebook que hoje era dia de Carlos Gomes no Mapa do Brasil, questionando para onde seria a nova viagem a querida amiga e cantora Silvia Klein, no mineirês característico, brincou dizendo: "Berlim, uai...", obviamente puxando a sardinha para a cidade onde mora. 

Aceito o desafio, fui para Berlim, Silvia, e entre strasses e platz fuçei sem êxito. De antemão sabia que dificilmente teríamos uma homenagem desta natureza a Carlos Gomes em Berlim. Não há dúvidas quanto às proximidades de Gomes com os compositores alemães, notadamente Wagner, mas daí a ter seu nome cravado num bracinho de rua, numa vielinha sequer, a distância é grande. Não que lhe faltassem méritos para isto, talvez faltem ruas. Melhor pensar assim.

De todo modo, desafio é desafio. Pelo menos aqui no Brasil não faltam referências. Pensando assim, lá fui de novo para Berlim. Desta vez em Goiânia, onde temos duas Berlim: a rua e a avenida. Ambas na região sul da cidade em contraponto com a Rua Carlos Gomes na periferia norte. 

Pelo menos em Goiânia, Berlim e Carlos Gomes estão juntas. 

Como isto tudo é aprendizado sobre o Brasil, mantendo viva a memória de Gomes, aprendi mais uma: na região metropolitana de Goiânia, no município de Aparecida de Goiânia - uma cidade com 570.000 habitantes, há uns dois quilômetros da Avenida Berlim, em Goiânia, está a Avenida Carlos Gomes. 

Aí está. Duas cidades praticamente uma dentro da outra, com Rua e Avenida homenageando Gomes, distantes de Silvia e Stephen, mas próximos de Berlim - pelo menos da Rua e também Avenida.

(*) você pode fazer uma visita virtual a Berlim através do Google Earth em imagens 3D da cidade como esta acima. 

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Dilemas Contemporâneos da Cultura (47)

A bola de Cristal (com a caveira) - 1902
John William Waterhouse

Nestes próximos dias serão definidos quais serão os Secretários de Cultura dos Estados e o Ministro da Cultura. Como conseqüência disto, todos aqueles que trabalham em escala nacional ou mesmo apenas nos Estados renovarão suas esperanças de colocar em prática os seus projetos.
Este é provavelmente o mais complexo Dilema Contemporâneo da Cultura porque não há nenhuma garantia de continuidade dos programas até aqui implantados ou mesmo perspectivas concretas de melhoria no cenário da produção cultural. Em resumo, não há garantia de que haverá investimento concreto na produção cultural favorecendo o desenvolvimento de idéias em programas de formação e de difusão da artes. Somente o tempo nos dirá.
Pode parecer vago, mas enquanto nada acontece, vamos nos dedicar a este 47 º Dilema. Isto mesmo, são 47 textos propondo discussões na Cultura. 
Nada mais concreto que a ausência de qualquer certeza e quando caímos no reino da especulação, nada melhor do que uma olhada nos oráculos. Pelo menos ali podemos encontrar respostas ou nos divertirmos um pouco.
Vejamos: 4+7= 11. Muito bem. Os dois 1 somados dão 2. Portanto, temos um par de 1 e um número 2 neste simbólico Dilema.
Pitágoras foi um pensador importante por configurar a matemática para os séculos seguintes a ele. Segundo Nicômaco, os números devem ser estudados à luz da Aritmologia (estudo metafísico, filosófico dos números) e da Aritmética que trata do estudos científicos e abstratos, absorvendo inclusive uma técnica (Cálculo) que permite avançar na concretude dos números. Confuso? Nem tanto. A coisa pode ficar mais complicada se associarmos o 2, por exemplo, ao conflito original da dualidade. O 2 é eco, reflexo, conflito, contraposição e Imobilidade momentânea que se produz quando as forças opostas são iguais. Atribui-se a Moderato de Cádiz, matemático espanhol, esta certeza velada: “O 1 a idéia de identidade, de unidade, de acordo e simpatia no Mundo; o 2 a idéia do ‘outro’, a discriminação e a desigualdade.” 
Se ficarmos nesta linha, podemos dizer que com o 2 (do 47), estamos "lascados". Mas, como todo oráculo tem seu lado "A" e o seu "B" (observe que os oráculos são regidos pelo 2), temos que pensar nos aspectos negativos e positivos do número
Os aspectos negativos do nº 2 são a dúvida, submissão, passividade, dependência e insegurança. Em se tratando de Cultura, isto é péssimo.
Já os positivos nos dão certo alento: tato, diplomacia, paciência, cooperação e companheirismo. Melhorou muito e este é o 2 que queremos...
Os números mestres (aqueles que vêm aos pares) nos dão outras informações. Vejamos o 11.
Seus aspectos negativos são a desonestidade, fanatismo, mesquinhez, desorientação e preguiça. Os positivos intuição, simpatia, paciência, perfeccionismo, humanitarismo, espiritualidade e percepção.
Na bíblia o 2 é o par perfeito. Dos animais puros, Noé levará para a arca sempre pares (Gn 7,2).  E perfeição é o que precisamos.
De um modo ou de outro, fica a dica: vamos ficar de olho, porque tudo pode ser o que quisermos que seja. 
Dois dedos cruzados, um galhinho de arruda atrás da orelha e um vazinho de espada de São Jorge podem ajudar.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Dilemas Contemporâneos da Cultura (46)

La traversée difficile
René Magritte - 1926

Em continuidade ao post anterior e na esteira do comentário do Gabriel, vale ressaltar a proposta de formação de gestores em patamar universitário. 

Ora, um dos aspectos críticos é a falta de profissionais com formação na área da Cultura. 

Parece óbvio que um jovem de 22 anos recém formado em qualquer área de atividade não terá condições de assumir cargos de alta gerência imediatamente ao sair de sua faculdade sem um dose, digamos, fatal de risco. Isto não significa que este jovem profissional não tenha idéias boas e que não tenha condições de passar pelos processos de gerenciamento da sua atividade fim. Aliás, espera-se isto mesmo com as encubadoras universitárias, com laboratórios de gestão, estágios e outras soluções de mercado. 

A atividade cultural é muito elástica no seu escopo. Como se tratam de práticas próprias do comportamento humano, com fortes componentes de planejamento quando se trata de desenvolver políticas e programas, de pesquisa, das relações socio-políticas, dos efeitos da história na formação das sociedades e outros fatores além dos artísticos, é natural que a Cultura seja ainda gerenciada nos escalões superiores, por profissionais de múltiplas formações. 

É nesta hora que se dá o hiato já que não podemos supor que um engenheiro, um advogado, uma socióloga, historiadora ou agrônoma brilhantes na sua vida profissional e com múltiplos interesses na área da Cultura sejam capazes de trazer sua experiência, maturidade, conhecimentos científicos e vivências pessoais como futuros gestores sem pagar (e nos fazer pagar) alto preço por esta proeza, 

No entanto - observe-se que não estou tratando de nenhuma reserva de mercado - acho perfeitamente possível que cursos possam capacitar estes profissionais a assumir a gestão de áreas da Cultura. Permanece a ressalva de que a estes cursos não basta uniformizar a linguagem sob o ponto de vista da história, geopolítica etc., mas também é fundamental que se dê uma visão de aspectos práticos da operação dos equipamentos artísticos, da linguagem da área. dos riscos e problemas de gerenciamento entre outros aspectos. Infelizmente, não existem manuais práticos como nas rotinas de auditoria ou coisa parecida e esta é uma das razões da necessidade de se pensar esta área com mais cuidado.

Esta resposta deve ser trazida para a sociedade pelo mercado o mais breve possível.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Dilemas Contemporâneos da Cultura (45)



A falta de mão de obra qualificada é um fator de inibição para o crescimento do país que se obriga a fabricar técnicos em série para suprir as mais diversas necessidades. 

Na Cultura não é diferente e faltam generalistas - gestores que tenham a visão global dos processos culturais e que conheçam as linguagens e distinções técnicas.

Não é que que os profissionais da área devam conhecer tudo. Não se trata disto, mas quando um espetáculo entra num teatro o que se espera é que os gestores daquele equipamento conheçam a linguagem relativa àquela atividade. O que se depara muitas vezes na prática é que pessoas com habilidades ou conhecimentos relacionados à determinada atividade seja empossados em determinados cargos sem a qualificação técnica (e conhecimento artístico) necessário para cumprir adequadamente seu papel.

Geralmente, um bom técnico em determinada área - e isto é apenas um exemplo - não reúne as características necessárias para administrar um teatro por mais qualificado que seja para gerenciar a sua própria atividade. Perde-se um tempo enorme para se obter os resultados e a visão do conjunto necessária para uma boa gestão.

Sofre-se também com a promoção de pessoas em determinados patamares para outros para os quais não estão absolutamente preparados. É o caso de um produtor que é promovido a diretor de um determinado espaço cultural sem a devida experiência ou qualificação, um aderecista que se torna figurinista porque leva jeito... Há poucos dias, ouvi uma explanação de um excelente designer de luz para um novo assistente. Dizia ele: "você é muito jovem e está começando na área. Primeiro, você precisa carregar estes equipamentos. Se você gostar e desejar, daqui a pouco irá subir nas escadas e pendurar refletores nas varas de luz, depois aprenderá a afinar, mais tarde a anotar e fazer os mapas de luz, depois operar e, quem sabe um dia, se você estudar e se dedicar muito, você aprenderá a desenhar a luz e assinar o trabalho, entendendo os fundamentos do teatro, as teorias de cor, as necessidades. Mas se você for um bom técnico já será suficiente e um caminho importante para a vida toda". Sábio e óbvio, não é? Mas o gestor precisa conhecer este caminho e especificidade para não errar na avaliação dos profissionais com quem trabalho. Um bom técnico não é um bom iluminador, da mesma maneira que um bom iluminador não é um bom diretor de palco.

Um diletante de música, por mais conhecedor que seja da história do gênero a que dedicou boa parcela de sua vida, não possui os conhecimentos necessários para transformá-lo em profissional da área. Comprar quadros, ir a museus, freqüentar shows de rock, gostar de ler poesias, colecionar dvds de ópera, estudar piano em casa, ir a teatro, ser assinante das mostras de cinema, não transforma as pessoas em pintores, marchands, poetas, diretores de teatro, pianistas de concerto, cineastas ou mesmo em críticos de qualquer destas atividades artísticas e, menos ainda, em gestores de pinacotecas, teatros, centros culturais, entidades de formação e difusão. Geralmente estas pessoas são excelentes conhecedores da atividade que exercitam para seu próprio prazer, mas isto não os credencia para mais nada além disto. Poderiam, sim, a partir deste conhecimento preliminar, investir tempo e recursos no aprendizado de atividades correlacionadas, mas geralmente abdicam desta prática pelo simples fato de que acham (ou são estimulados a achar) que o conhecimento acumulado nas suas vidas é suficiente para realizar o restante. 

Não existem ainda cursos em nível universitário dedicados à formação de gestores com esta visão de interesse prático. 

Enquanto escrevo este post lembrei de uma situação "engraçada" em que gestores de várias áreas reunidos não conseguiam conceituar adequadamente um assunto específico da área da cultura sem perderem um tempo enorme negociando o que é Linha do Horizonte* que nada tem a ver com skyline e nem com o horizonte que vemos numa determinada paisagem. 

Neste tema não dá para manter o bom humor.




(*) - A Perspectiva Real – também conhecida como Fotográfica – é uma regra utilizada para se representar os objetos, construções, figuras e a natureza da maneira como são vistos pelo olho humano, em suas formas tridimensionais. 
Foi criada pelos arquitetos da Idade Média, que buscavam uma fórmula de representar os seus projetos de maneira mais realista possível.A regra consiste em situar uma linha imaginária (Linha do Horizonte) à altura dos olhos do observador, definindo, assim a sua posição em relação ao objeto ou cena observada; tudo que está abaixo da linha do horizonte é visto de cima para baixo; aquilo que está acima da linha é visto de baixo para cima e quando o objeto está localizado sobre a linha do horizonte, ou seja, no mesmo nível dos olhos do observador, não é possível enxergar nem a parte de cima nem a parte de baixo.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Nota de Rodapé (11)



Acaba de ser aprovado o Plano Nacional de Cultura pelo Congresso. O Plano será agora encaminhado para sanção presidencial e, a partir daí , colocado em prática.

Vale acompanhar a regulamentação e as várias possibilidades que se apresentam nesta nova fase que certamente ainda irá provocar discussões, principalmente no que se refere à aplicação das novas regras da Lei Rouanet.

A expectativa da produção cultural é a maneira concreta como será utilizado o Fundo Nacional de Cultura e o acesso aos recursos disponibilizados, inclusive os critérios de utilização dos recursos  da PEC 150 que prevê a fixação mínima de orçamento da Cultura nos governos Federal, Estaduais e Municipais na ordem de 2,5%, 1,5% e 1% respectivamente.

É um passo importante por trazer uma perspectiva de avanço na atividade cultural, principalmente nas artes eruditas que tiveram atenção em menor escala nos últimos anos.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Viva a Ópera (8)

foto by João Guerrra/UOL

A estudante de Elisa Delfino garantiu um lugar próximo do palco após mais de 3 dias na fila para compra de ingressos. 
Não satisfeita, ergueu um cartaz durante o show, com o pedido, em inglês, para receber do seu ídolo há mais de 15 anos (ela tem 18) um autógrafo que seria eternizado em forma de tatuagem.

Isto é ser fã. Apropriadamente uma redução de fanático, considerando este o limite extremo da admiração e do fervor. O fã tem um forte componente de irracionalidade e de culto extremado da própria individualidade, a ponto de achar que o artista está a ele ligado para sempre. 

Sem controvérsias e sem discussões sobre o quadro psicológico do idólatra como se pode supor, o fã é essencial para o artista na  medida em que lhe dá suporte e valoriza seu ego.

Ora, o artista é um ser especial por sua imensa auto-estima. Afinal, não é preciso tê-la muito em alta para subir num palco e acreditar-se capaz de agradar multidões?

Na ópera, no Brasil, há esboços aqui e ali de fãs deste ou daquele cantor além daqueles apaixonados pelos ídolos do passado. O fã não vê idade, mas fãs de ídolos vivos é bom até para o reconhecimento publico das atividades criativas. Nesta direção, os artistas da ópera têm muito a fazer para criar estas empatias. 

Mãos à obra. A ópera tem pressa. Viva a Ópera.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Carlos Gomes no Mapa do Brasil (29)

"Encontro" de Motos em Mangueirinha-PR

Diz a lenda nos anais de Santa Viquipídia que o melhor hotel da cidade tinha uma mangueira onde se podia deixar o gado “hospedado”. Daí o nome de Mangueirinha dado ao município que foi uma parada de tropeiros que faziam a rota Rio Grande do Sul para São Paulo.

É mais provável que naquelas paragens houvesse de fato um curral de pequeno porte para abrigar gado em trânsito e não um hotel como insinua o texto de referência citado acima. Não podemos esquecer que Mangueira ou Mangueiro é sinônimo de curral no Rio Grande do Sul.

No Paraná, vivem em torno de 11.000 índios, das etnias Kaingang, Guarani e Xetá, distribuídas em 23 áreas. Na reserva de Mangueirinha que compreende os municípios de Mangueirinha, Chopinzinho e Coronel Vivida, moram em torno de 400 familias com cerca de 2.000 pessoas, sendo esta a maior área indígena do Estado do Paraná. A questão indígena no Brasil é complexa e não são poucas as referências de problemas na manutenção da reserva. O cineasta paranaense Sérgio Bianchi fez um documentário importante sobre o tema. Confira 

Enquanto isto, em Mangueirinhas, cruzando a Rua Castro Alves, mais uma homenagem ao compositor que dá nome à Rua Carlos Gomes.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Dilemas Contemporâneos da Cultura (44)


Na pág 68 da edição impressa da Revista Veja desta semana publica-se a relação dos Ministérios e os partidos da base aliada que os "controlam" e aqueles que "cobiçam" mudanças nos seus comandos. 


O Ministério da Cultura não participa do "bolo". 


No mais puro estilo Poliana, os sapos da lagoa abririam o bocão e diriam "Obaaaaaa... O Ministério da Cultura é livre de interesses partidários, estruturas de poder, uso da máquina, interesses financeiros...".


Infelizmente, administrar a Cultura não é do interesse dos partidos e as manifestações a favor são pontuais, por interesse deste ou daquele político que enxerga na atividade algum tipo de afinidade.


Apesar da abrangência, do significado social, da importância para o futuro o abandono político da Cultura ainda persiste e não despertou a voracidade e imediatismo dos partidos.