sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Dilemas Contemporâneos da Cultura (51)

Pintura de Wesha Kea (Loyver Yui López) 2007

Em San Miguel do Tucumán - Argentina, em Julho de 1935, nascia La Negra, que se consagraria a “voz dos sem voz”.

É provável que muitos que leem este post não tenham a menor ideia do que estou falando.

Mercedes Sosa*, La Negra, a partir de 1967, quando vai para a Europa, passa ser reconhecida internacionalmente e, sendo um ícone na América Latina, a partir de 1970, ganha popularidade com Gracias a la Vida, canção que gravou em homenagem é compositora (e cantora) chilena Violeta Parra. Gravou com vários cantores: com Juan Baez (EUA), Pablo Milanês (Cuba), diversos brasileiros (Chico Buarque, Caetano, Gal Costa, Daniela Mercury e outros), Andrea Bocelli (Itália) e mais recentemente com a colombiana Shakira.

Chego ao ponto.

Se pegarmos qualquer jornal brasileiro, excluindo uma ou duas matérias sobre política (sempre Chaves, Evo), uma ou duas sobre narcotráfico, uma ou duas sobre a desgraça do dia, não encontraremos nenhuma notícia sobre teatro, exposição, dança, ópera, que estejam acontecendo nos países da América Latina.

Confesso que não me lembro de outro cantor ou grupo que tenha o reconhecimento recorde de Mercedes Sosa no Brasil.

Nós não conhecemos a América Latina, não sabemos e não damos a menor bola para a América Latina.

Essa presunção cultural é fruto provavelmente da falta de investimento na circulação de bens culturais nos vários segmentos e da circulação de pessoas.

Apesar de um razoável crescimento de atividades, fóruns, grupos de debates, voltados para o Mercosul ou ainda, esta informação ainda não chegou a atender à produção cultural.

Nossos artistas têm enormes dificuldades para se apresentar fora do Brasil, não só no que diz respeito à logística, mas toda a decorrência da representação.

É evidente que também não há a mão dupla. Nada vem de lá pra cá, nem mesmo coroando eventuais esforços individuais.

Desta forma nosso pluralismo possível segue assim, no singular.


*A arte de traçar kenê pertence tradicionalmente às mulheres, quem, segundo a cosmologia aprenderam a fazer desenhos copiando-os do corpo de uma mulher Inka, proveniente do eterno mundo de fogo do sol que atravessou o rio que separa os imortais dos mortais. Ela trazia sobre a pele os desenhos da jibóia, a poderosa senhora cósmica dos rios e do arco-íris, o caminho que une a água ao sol. Segundo o pensamento shipibo-konibo, todos os desenhos de tudo o que existe se originam nas manchas da pele da jibóia primordial; e por esta razão, para poder ver e fazer desenhos é necessário consumir as plantas que manifestam o poder da jibóia, especialmente, piripiri e ayahuasca.

**Mercedes Sosa morreu em Buenos Aires em 4 de Outubro de 2.009.