terça-feira, 30 de outubro de 2012

Dilemas Contemporâneos da Cultura (82)

Dança-Henri Matisse-Museu Hermitage

Vejam se não tenho razão.
Há pouco tempo, vi publicado na imprensa regional que determinado diretor de determinado Museu, insistia em dizer à reportagem que aquela iniciativa com pouco mais de 1500 obras era o Louvre do Estado. Assim falou o Zaratustra da cidade e assim publicou o jornal que o entrevistou. Tivesse este a naturalidade de tratar o assunto com humor, o texto ficaria bem interessante.
Bobagem isto? O que tem de mal fazer isto?
Ora, o Museu do Louvre possui a segunda maior coleção de pinturas do mundo (perde apenas para o Museu Hermitage de São Petersburgo, Rússia) com 12.000 obras, com um acervo museológico total de 380.000 itens, dos quais 35.000 em exposição permanente.
A questão é simples: por que colocar em foco uma comparação que qualquer indivíduo razoavelmente informado consegue discernir sobre o seu despropósito? Esta necessidade de comparar o incomparável cria distorções que se perpetuam e esta é uma característica acentuada em várias direções e não se trata de um patrimônio exclusivamente daquele estado.
Ao que parece, estes arroubos de ufanismo regional, são fruto de certa incompreensão da importância de se fazer bem feito e deixar que o fato fale por si.
Um museu é importante, mesmo que seja feito apenas para contar a história de um bairro, os erros e acertos de uma família, os hábitos e costumes de uma comunidade, sem a necessidade de se vender comparando-se ao QuartierLatin, à família Kennedy ou ainda à civilização Maia.
Tudo isto se torna relevante quando vira piada como aquela velha história da pequena rádio do interior que diariamente é apresentada como “falando da pequena cidade para o mundo”.
As pessoas precisam perceber e negar isto. Não é mania regional. É doença enraizada.
Os estrangeiros gostam das nossas florestas porque são paisagens diferentes, com características diferentes e não porque não têm floresta na terra deles. Precisamos multiplicar isto, por mais simples que possa parecer. Faça o teste, pergunte para algumas pessoas e veja como são esdrúxulas as respostas.
Acabar com a megalomania de que temos o melhor isto ou o melhor aquilo é tão saudável quanto achar que é tudo pior isto, ou pior aquilo. Os dois extremos são péssimos.
Podemos viver muito bem olhando o que temos de bom, corrigindo o que é ruim e com simplicidade, delicadeza, generosidade consigo e com os outros.