quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Dilemas Contemporâneos da Cultura (40)


Como já disse outras vezes, identifico três públicos para a Cultura (três financiadores): o espectador, as empresas e o governo (nas três esferas).

O eapectador ao pagar ingressos, comprar (baixar) música, objetos de arte, é um dos financiadores da Cultura. As empresas cumprem seu papel procurando devolver à comunidade o que obtem com a fidelização a produtos e serviços. Finalmente, os Governos ao franquearem os direitos de acesso à informação cultural seja através de aportes diretos vias fundos setoriais, incentivos fiscais e apoio ao empreendedorismo (financiamento de projetos com subsidios).

A ausência de investimento público ou de políticas públicas eficazes impedem que programas sejam criados e multiplicados e como numa espiral transversa tudo vem abaixo: as empresas (privadas) deixam de investir até por descrédito na atividade cultural; o público, sem acesso e, portanto, sem condições de entender a arte erudita, busca soluções de assimilação mais cômoda. Trata-se de uma sucessão de valores gradativamente destruidos quando governos são fracos e não investem recursos em programas estruturantes, com políticas de interesse geral para os vários segmentos da arte. Os problemas de gestão com a Lei Rouanet criados em 6 anos de gestão controversa, são um exemplo concreto disto.

Não se trata apenas de inaptidão de governos, mas muitas vezes a orientação política, a visão de cultura dos gestores, entre outros aspectos, produzem aberrações. Lembremos dos livros queimados durante o regime nazista, ou os instrumentos ocidentais (como se dizia) destruídos na China Vermelha de Mao. Aquelas didaturas tinham medo da cultura plural, do conhecimento e, ao mesmo tempo, cultivavam valores impostos como regra.

Se estamos distantes deste passado, felizmente, mas ainda temos graves problemas de gestão em outros níveis, o que nos assegura um futuro próspero para a atividade cultural?

Insisto sempre que solução está no fortalecimento do caráter associativo, a busca insessante de formar opinião, de gerar indagações, identificar possíveis aliados políticos, apoiadores empresariais e desenvolver mecanismos de aproximação com novas platéias, provocando-as com o caráter modificador da arte.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Viva a Ópera (4)

Carmen
Figueira da Foz - Portugal (*)
Na rede - na nuvem para ficar mais em sintonia com a visão abrangente das redes sociais da net - são frequentes as observações acerca das possibilidades que a ópera possui para se tornar "popular". Aproveito os comentários do amigo internauta Enio Oguchi para ampliar a discussão.

A ópera é popular por si, como o são a música, as artes eruditas.

As pessoas de um modo geral não são consumidores em larga escala por várias causas. Listar as razões que afastaram a população deste patamar de consumo pode levar a um conjunto de enorme de variáveis, todas contribuindo aqui e ali para certo afastamento das produções de excelência artística. Isto porque precisariamos levar em consideração aspectos associados à educação geral e específica (alfabetização para as artes), ao poder aquisitivo individual x acesso a bens de multiplicação (mídias diversas, espetáculos), à industria cultural (e sua tendência de reduzir custos, produzindo hits para escalas planetárias), aos veículos de comunicação de massa de um modo geral interessados em estabelecer mecanismos de consumo rápido e descartável (deixando de lado a televisão e o rádio, quantos jornais no Brasil levam a sério a manutenção de textos específicos sobre arte, por exemplo), aos governos (veja o post de amanhã sobre as didaturas) que não têm políticas claras para a área cultural, específicamente para o segmento erudito. Para aqui com as "culpas" dos outros. Só o citado até aqui permitiria manter este blog por mais alguns anos.

Vamos às nossas culpas (nossas, dos artistas, empreendedores, produtores etc).

Se por um lado falta a muita gente visão de futuro, a articulação em torno de entidades de caráter associativo, a elaboração de conteúdo que extrapole a academia, de outro, há também empáfia, arrogância, baixa-estima. O meio - aqui estou me restringindo à ópera por razões de militância, digamos assim - não se preocupou em ampliar seus horizontes criativos, limitando-se a girar em torno da própria circunferência abdominal e fazer muxoxo quando um sujeito aparece falando coisas como essas. Provavelmente vão me crucificar nas entrelinhas. Peço um crédito, pois não trabalho contra, mas sempre a favor.

Fora do Brasil, a ópera produz conteúdo e espetáculos de toda natureza possível. Na crise financeira, encontrou soluções e saiu fortalecida. Os grandes centros produtores continuam produzindo e os pequenos não deixam de fazer suas coisinhas. Grava-se para televisão e internet, publicam-se estudos, vende-se toda a sorte de gifts nas lojas dos teatros e o mundo se diverte em torno da ópera. A escala aumenta com novas platéias. Jovens em vários paises têm acesso a obras primas criadas em linguagem didática, novos teatros são construidos. Mais e mais músicos declaram seu interesse em trabalhar com o gênero.

E aqui no Brasil? Respondendo ao Ênio, algumas pessoas sabem de tudo isto e trabalham para que o panorama mude. Felizmente, algumas ilhas de qualidade surgem a cada dia e o poder irradiador da ópera, somado a várias outras iniciativas em curso, certamente antecipam um futuro muito saudável para o gênero nos próximos anos.

Viva a ópera!

(*) Apresentação em Figueira da Foz com Luísa Freitas - Carmen; Joao Cipriano Martins - Don José; Hélia Mieiro de Castro - Micaela e Nuno Dias - Escamilho. Aí está um bom elenco português (a Luisa foi uma das vencedoras do Concurso Bidu Sayão no Brasil).

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Nota de Rodapé (6)


Boas novas se espalham de Minas Gerais para o Brasil.

Se eleito, o Professor Anastasia certamente irá ampliar as bases da atividade cultural no Estado. Além de administrador impecável, é também um homem culto, conhecedor das artes e com grande foco na formação de pessoas. Apesar de ser mineiro, não voto no Estado, mas estou torcendo para que sua campanha seja vencedora no primeiro turno.

Com ele no Governo do Estado, Aécio e Itamar no Senado, Minas terá finalmente o salto para o qual foi preparada nestes últimos anos.

Aliás, Aécio é um craque, não? A sua habilidade política é realmente incrível.

Quanto a São Paulo, a expectativa é ver vencedora a candidatura de Geraldo Alckmin. Não tenho dúvidas de que com ele o Estado só avançará.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Dilemas Contemporâneos da Cultura (39)

A liberdade guiando o povo
Delacroix

Cerca de 1/3 da população mundial vive em países onde a liberdade de imprensa não é preservada (segundo a organização Repórteres sem Fronteiras, uma das mais sérias entidades do planeta), tendo como razão direta a ausência de democracia ou graves problemas na condução de um regime democrático. Quanto mais violento, mais corrupto, mais absolutista é um governo, menos lhe interessa a liberdade de imprensa e de expressão, pois estas são manifestações que lhes reduz o controle social, tanto pelas forças políticas quanto pelos mecanismos de segurança do Estado.

Ao déspota não interessa a imprensa livre. Por extensão não lhe interessa o teatro, a arte livres. A livre expressão deturpa as instituições segundo estes governantes, numa lógica que lhes é comum em que jornalistas e artistas só falam mal e nunca contam valorizam os beneficios que praticam.

Para coibir estas manifestações, os governos ditatoriais têm a seu serviço seus agentes de segurança, os agentes do Estado que tratam os seus críticos como inimigos, cerceando-lhes os direitos elementares e, em casos extremos ameaçam sua integridade física, moral, social, com ameaças de tortura, sequestro, morte.

O processo é complexo, mas amplamente divulgado e conhecido.

Liberdade é mais que um conceito e não existe pela metade. Numa sociedade desenvolvida, de interesses planetários, a tolerância e convivência pacífica entre os contrários é a principal característica. Mesmo nas sociedades mais tradicionais e consideradas avançadas, acontecem deslises quando o poder público deixa seus desvios de caráter prevalecerem e, nestes casos, as liberdades correm risto: a sociedade corre risco. Quanto mais educada, quanto melhor preparada, maior será a capacidade de uma determinada comunidade de decidir adequadamente seu futuro e decidir sobre seus caminhos através do voto.

Neste sentido, mais uma vez, nós agentes culturais temos um grande papel a cumprir. Somos nós artistas que preparamos o futuro por termos uma parcela fundamental de responsabilidade com a verdade, com a difusão do pensamento.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Dilemas Contemporâneos da Cultura (38)

Aqualoucos

Hoje, 22 de Setembro, é o dia do Rio Tietê. Ratifica-se o esforço contínuo de mais de 20 anos para se conseguir limpar o rio. Em Barra Bonita, a menos de 100 km de São Paulo, já é possivel pescar no Tietê.

Você já experimentou parar numa das marginais, ou numa das pontes e observar o rio? É uma massa compacta, vigorosa, forte, avançando lentamente. Sem qualquer esforço vemos centenas, milhares, milhões de garrafas pet, objetos e pedaços de plástico, lixo, lixo puro flutuando. A sociedade irresponsável descarta seus apendices sem o menor pudor e sem a menor consequência.

O que nos interessa hoje é o olhar que se entristece ao perceber o quanto faz mal o descarte irresponsável e o quanto é necessário o investimento na infraestrutura de esgoto, recolhimento de lixo. Os outros olhares, estes, pobres, merecem respeito, claro. Merecem também atenção. São a eles que precisamos dirigir nossas forças.

A atividade cultural é completa e complexa em si mesma. É modificadora ao ter condições de se aliar aos interesses coletivos e tornar-se irradiadora da boa nova.

A capacidade de perceber o que acontece à volta é parte de um processo de compreensão da própria vida. Alguns individuos podem ser capazes de perceber o que acontece na sua casa, por analogia no seu emprego, por extrapolação nos núcleos familiares próximos e semelhantes. Podem expressar seus desejos e expectativas e até traduzir desejos coletivos. Mas, jamais, serão capazes de surpreender com perspectivas universais, pela sensibilidade extremada. Serão capazes de chorar, sem dúvida, mas só se lembrarão da crueldade, injustiça, quando forem expostos a ela. Jamais se lembrarão disto todos os dias, refletirão expontaneamente a respeito, permanecendo incapazes de falar para os seus pares, de propor - mesmo para si - soluções. A maioria desdes individuos têm carater dúbio, deixam-se levar por conveniências pessoais, por posturas egocêntricas, não havendo mudanças possíveis que não pela educação e alfabetização para as artes.

A Cultura é soberana e formadora do caráter. De certo modo é como um rio. Pode produzir muito, enriquecer as cidades que se ergueram exatamente à volta dos rios por enxergarem ali as possibilidade de sobrevivência.

Mas a Cultura é também dependente. Da mesma sociedade que deixa de lado sua fonte de riquezas, de saúde, de perenidade.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Dilemas Contemporâneos da Cultura (37)


The rebel of Fine Arts
Fernando Vignoli

Ontem perguntava no blog a respeito do que fazer com relação aos candidatos e à atual situação da Cultura no Brasil, especialmente a Cultura Erudita.

Hoje, José Serra recebeu em São Paulo a classe artística representada pelas várias entidades naquele que foi chamado de Encontro com a Cultura Brasileira. 

Todos nós, culturalistas, procuramos o tempo todo encontrar argumentos que justifiquem o investimento na atividade cultural. Seja pelo viés da cidadania, identidade, da auto-estima, seja pela demonstração de que representamos uma importante parcela do PIB brasileiro.

Serra foi contundente e, como se espera de um estadista, de um político cuja prática é regida pela ética pública, para o desenvolvimento e para um Estado moderno, resumiu tudo o que disse sobre as vantagens de se investir na atividade cultural com a frase "mesmo que não tivesse benefícios complementares, é preciso investir em Cultura. Cultura é um bem em si ".

Serra lembrou os investimentos que fez na Prefeitura e no Estado. O volume de dinheiro aplicado é muito grande, supera os 600 milhões no Estado e utilizado para o desenvolvimento de programas que visam a difusão, fomento e formação. Mencionou a necessidade de se cuidar dos equipamentos, e do processo de estruturação das atividades tais como a mudança do MAC para o antigo Detran, do Museu da Lingua Portuguesa, do investimento na Pinacoteca, no novo Teatro da Dança (que insisto em sugerir que se chame Teatro da Luz pela vocação mais ampla que o espaço possui), nas oficinas, nas Fábricas de Cultura, nas Viradas Culturais, na difusão da Ópera.

De fato, o que vemos é um constante esforço no Estado de São Paulo. Muito ainda precisa ser feito, porque sabemos que as exigências são enormes, não pelo setor em si, mas pela necessidade e abrangência da franquia de direito ao acesso. O modelo de São Paulo pode perfeitamente ser ampliado em termos nacionais, levando-se em consideração as peculiaridades regionais, as forças criadoras instaladas nos vários estados, as capacidades técnicas e artísticas, as perspectivas de intercâmbio real, o aprendizado coletivo das diferenças.

Não vale a pena lamentar dificuldades até aqui. Trabalhar, reedificar é melhor.

Carlos Gomes no mapa do Brasil (24)


Vivendo e aprendendo. Frase feita é fato, mas cabe como uma luva (ops!) na referência que apresento.
Você sabia (é hoje!) que existe uma Federação Paulista de Tiro Prático?

A expressão Tiro Prático para mim é nova. Trata-se do nome que se dá à prática de tiro com armas de diferentes tamanhos tendo um alvo fixo ou móvel como objetivo. No Tiro Prático, o atleta, deve misturar precisão, potência e velocidade, dentro de uma combinação vencedora. Os alvos têm 75 centímetros por 45 centímetros com um centro de 15 centímetros. A maioria das competições acontecem em estandes de tiro próximos dos grandes centros, onde disparos a mais de 45 metros são raros. Acertar um alvo de 15 centímetros a 45 metros ou menos parece fácil a um atirador experiente, porém há um fator de potência mínimo que cria dificuldades para os atletas, aumentando a força do recuo da arma.

A modalidade é praticada em várias cidades do Estado de São Paulo (e brasileiras), inclusive em Garça, uma cidade a pouco mais de 400 km da capital e com cerca de 45.000 habitantes.

Garça possui um Tênis Club que leva o nome da cidade e onde se pratica o Tiro Prático.

O municipio de Garça surgiu na segunda década do século 20 ainda como distrito de Campos Novos. O nome foi uma herança da quantidade de garças que havia num dos ribeirões da região. Garça tornou-se conhecida pela produção de café. A cidade por divergências entre os fundadores foi dividida em dois núcleos: Labienópolis (onde se instalou Labieno Costa Machado) e Ferrarópolis (de Carlos Ferrari).

O Garça Tênis Club é muito ativo na cidade. Fica em Labienópolis. Claro, na Rua Carlos Gomes, 77.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Dilemas Contemporâneos da Cultura (36)

by cepê

Quais artistas no Brasil conseguem planejar com seis meses de antecedência o que concretamente irão colocar em prática nos próximos meses?

Podemos contar nos dedos de alguns poucos pares de mãos, imaginando que estamos fazendo a lista coletivamente.

As raizes dos problema estendem-se em várias direções a partir do próprio artista.

Aproveitando o mote das eleições e sabendo que não há tempo para colocar isto em pauta, o que podemos fazer para, a partir daqui, começar a exigir dos partidos - e Candidatos - maior clareza sobre o que pretendem fazer ou pensam na área da Cultura?

Ou há uma mobilização concreta ou dentro de muito pouco tempo estaremos nos perguntando: o que eu fazia enquanto nada acontecia?

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Viva a Ópera (3)

Orquestra Jovem se aperta em Campinas

Hoje fui brindado com um e-mail que me cobrou a ausência de qualquer menção à Comemoração da morte de Carlos Gomes em 16 de setembro de 1896.

Para os mais atentos, ontem excepcionalmente publiquei um "Carlos Gomes no Mapa do Brasil", uma maneira, sem apologias, de recordar o compositor.

Acho que publicar semanalmente (sempre que possível) uma referência a Gomes é uma forma de incluí-lo no cotidiano daqueles que se dão o trabalho de ler este blog.

Pois muito bem. Carlos Gomes morreu em 16 de Setembro. Faz-se muito pouco por sua memória no Brasil, muito embora esteja claro que Gomes é parte da nossa história, está mencionado em praticamente todas as cidades brasileiras que lhe dedicam ruas, praças, avenidas, vilas, sem contar a infinidade de nomes de restaurantes, bares, lojas de armarinhos, lanchonetes. Muitas vezes sequer se sabe na vizinhança quem é o homenageado ilustre, mas isto é difusão, educação que irá corrigir.

Em se falando em homenagem, por enquanto, o que se vê - não excluindo a boa intenção do grupo - é a Orquestra Jovem se apertando entre o monumento-túmulo em Campinas e uma feirinha popular, com meia dúzia de gatos pingados assistindo.

Já há maturidade suficiente no Brasil para se acabar de vez com a máxima "melhor isto do que nada", ou "para Campinas isto está bom".

Acho que dá para entender porque fui discreto ontem e - como diz o Sebastião Teixeira - estou me segurando hoje. A ópera para ser vivida, às vezes precisa de estômago.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Carlos Gomes no mapa do Brasil (23)

Soldados índios de Mogi das Cruzes
de Jean Baptiste Debret

Mogi das Cruzes possui mais de 370 mil habitantes e nasceu de um povoado - pouso de bandeirantes como Bras Cubas que dá nome a uma das Faculdades locais, onde dei aulas já faz muito tempo.

No largo do Carmo em Mogi das Cruzes, você está no Centro Histórico da cidade onde fica o Theatro Vazques onde ontem apresentamos Carmen - a ópera contada e cantada, espetáculo baseado na ópera homônima de Geoges Bizet. Teatro lotado e aplausos efusivos ao final. Muito bom. Dever cumprido.

Ali perto, no Mogi Moderno, como dizem na cidade, você encontra facilmente a Rua Carlos Gomes.

Não fotografei, nem fui à rua. Falha imperdoável. Por isto, postei hoje como mea culpa. Na quinta e não terça como de hábito.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Dilemas Contemporâneos da Cultura (35)


Se intolerância é uma atitude inadequada para quem se pretende equilibrado, conformismo é abominável.

Infelizmente, algumas coisas no atual cenário politico-eleitoral nos conduzem à mais tosca intolerância ou ao desprezível conformismo.

Não dá para ficar de bom humor com o que somos obrigados a ver e ouvir, tendo nossos olhos e ouvidos reduzidos a meros receptáculos passivos.

Continuamos sem obter respostas no dia-a-dia para as questões estruturais na área da música erudita e da ópera enquanto nas campanhas políticas nenhuma vez a palavra Cultura é mencionada, passando aos eleitores - à nação - o claro descaso e sistemático abandondo a que são submetidos os milhares de profissionais da área em todo o país, sem mencionar o descalabro de não se reconhecer a atividade cultural como uma questão de direito implicito nos mais elementares conceitos de Cidadania.

Por mais que se tenha clareza da importãncia das atividades criativas e do que representa a Economia da Cultura no Brasil, muito poucos foram os resultados concretos sobre as formas de financiamento da atividade cultural, seja no plano dos incentivos, do FNC ou mesmo empreendedorismo sustentado.

Urge corrigir isto. Há uma forte expectativa do setor para resultados e espera-se respostas concrtetas do Ministério ainda nesta gestão.

Entretanto, para o futuro, não temos concretamente como avaliar qual o melhor programa ou candidato a atender as necessidades da área. Certamente nos estados, cada um consegue ter uma visão de continuidade ou pelo menos uma referência do que será o futuro com esta ou aquela candidatura. Mas, não deixa de ser uma opinião pessoal. No plano federal, a angústia é crescente pela total ausência de sinalização do que pretendem os postulantes.

Mais uma vez, nos preparamos para, qualquer que seja o novo governo, iniciarmos o longo e desgastante debate sobre idéias e possibilidades. Pelo visto até aqui, não há futuro tangível para os próximos anos.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Viva a Ópera! (2)


Cláudia Riccitelli e Martin Muhle em Carmen (*)
espetáculo baseado na ópera homônima de G.Bizet

O ato de escrever o blog é intempestivo. Não há planejamento anterior ou pensamento organizado. Vem da necessidade autoimposta de escrever todo dia, estando ou não com ânimo para isto. É como uma tarefa profissional em que se tem a obrigação de realizar por causa de um compromisso assumido.

No caso, o compromisso é comigo mesmo e a cada dia com mais e mais pessoas que me escrevem nos contatos pessoais, nas redes de relacionamento de que participo ou aqui mesmo como comentário. Este compromisso se reafirma com os seguidores - voluntários - que se dispõem a registrar seus nicknames e a acompanhar o que aqui publico. 

É também um ato solitário na medida em que não se sabe se o que está sendo dito é do interesse de quem lê, ou ainda se satisfaz expectativas.

Esta reflexão leva ao contrário disto: a ÓPERA onde o trabalho é coletivo e seu resultado depende de uma série de fatores, alguns incontroláveis.

Vamos lá. A ópera é um espetáculo. O que parece óbvio, não é tanto assim quando vemos os absurdos que se cometem ao se imaginar que basta juntar um monte de cantores, meia duzia deles apaniguados dos apaniguados dos "gestores" e, como peças de tômbola, embaralhá-los todos num saco de feltro, imaginando que só isto, sem projeto, sem conceito, com direções frívolas, com musica descuidada, se consegue chegar a um resultado que justifique o investimento na maioria das vezes público.

Volto: a ópera é um espetáculo e precisa ser concebido tendo isto em vista. Não importa se com muitos ou poucos recursos financeiros, mas é um espetáculo, um show e tem que ser pensado para platéias que pagarão o ingresso e que voltarão novamente para outras propostas e concepções.

A escala da ópera é gigantesca se assim o desejarmos e na dimensão do que é possível realizar, considerada a casa onde será apresentada. Exemplificando, São Paulo e Rio de Janeiro têm nos seus Teatros Municipais a perspectiva planetária, ou seja, são casas de ópera que precisam funcionar em modelo semelhante a de seus pares internacionais. Para sermos modestos, São Paulo e Rio têm na Bastille, Chatelet, Liceu, Karlsruhe e Dusseldorf/Duisburg seu modelo a ser seguido. Devem no mínimo trabalhar nestas bases ou tê-las em mente. Claro que esta paridade deve ser construída, seja a partir de orçamentos coerentes com o porte e reconhecimento internacional destas cidades, seja com parâmetros artísticos que justifiquem o investimento. Isto serve para tudo, inclusive para casas de menor porte. O que não dá é convivermos com a farsa. É hora de colocarmos a mão nas consciências e passarmos a õlhar de forma madura para o que acontece no nosso segmento profissional.

A hora é esta, pois temos a oportunidade concreta de construir um novo caminho para as artes eruditas. Isto passa por eleições, por debates, mas sobretudo pela clara visão profissional do nosso setor.

(*) Esta foto reúne Cláudia e Martin de forma muito especial. Quanta qualidade, quanta arte, quanta satisfação do trabalho juntos. Ao fundo Mário e Priscila olham com ternura um dos mais lindos duetos que pudemos compartilhar.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Viva a Ópera!

Elenco de Carmen (*)
espetáculo baseado na ópera homônima de G. Bizet

Volto a escrever aqui após um mês. Quase um mês.
Neste retorno abro esta nova coluna e espero que o tema se consolide comemorando a ópera e como um convite a viver a ópera.

Vários leitores e blogueiros têm me perguntado (ou insinuado), porque não escrevo também sobre ópera.
De fato é uma questão complicada.

Sendo um profissional atuante, prefiro muitas vezes calar a falar. Não advogo para mim o papel de comentar o que está sendo feito aqui e ali. Falar mal ou bem não é um ato de coragem, pelo contrário é uma maneira muito simples de chamar atenção e esta vitrine não me interessa porque existem outras mais atraentes.

Sendo assim, usarei este espaço para comentar algumas coisas que tenho feito, a discussão sobre narrativas, modos de produção e correlacionados.

Simbólicamente, inauguro o espaço com a foto do elenco que se apresentou em CARMEN na semana passada, um espetáculo da série Ópera Contada e Cantada que criei há dois anos e cuja concepção assino com a Rosana Caramaschi. Este espetáculo baseado na ópera, está viajando pelo interior do Estado de São Paulo, com um enorme sucesso de público.

Encerramos nos próximos dias a primeira série de 24 apresentações/cidades, com algo em torno de 14.000 pessoas como platéia. O vigor com que o espetáculo é recebido demonstra que estamos no caminho certo, com parâmetros artísticos e de produção corretos e que o modelo encontrado possui uma relação de custos muito viável para os Estados e Cidades. E por estarmos todos (corpo técnico e artístico) em permanente estado de alerta e em contínua autocrítica para aperfeiçoamento do conjunto, estamos seguros de que os padrões de excelência perseguidos estão atingidos e são relevantes.


(*) da esquerda: Miguel Geraldi (D. José e Pablo), Gabriella Pace (Micaela, Frasquita e Juanita), Leonardo Pace (Lilas Pástia VI e Escamillo), Magda Painno (Carmen e Consuelo), Airton Renô (Miguelito).