sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Dilemas Contemporâneos da Cultura (74)

by PEDRI ANIMATION BV

Não há melhor caminho para conhecer um teatro do que uma boa conversa com os técnicos. A pior coisa é quando o técnico nada tem a dizer. 
É preciso fazer um reparo antes de se crucificar o técnico.
A caixa preta é uma espécie de sacrário de uma categoria e não vai aí nenhum exagero ao qualificar o espaço com que sendo uma aproximação com o Divino, pois para quem vive e gosta de teatro ali há certa magia, certo romance e poesia. Por razões naturais, quem ali reside não vai abrindo os detalhes assim sem mais nem menos. Nada pior que um estrangeiro falando mal da casa alheia. 
Portanto, para saber do teatro é preciso conversar com os técnicos e fazer-se reconhecer por eles. Não há nada pior que um visitante que não conheça a liturgia do templo. Para ouvir dos técnicos o que é necessário também é preciso ter experiência. 
Superada esta etapa, se o técnico nada tem a dizer, a coisa é grave. 
Lembro que há muitos anos atras, fui a uma gráfica com um trabalho urgente e o proprietário chamou um técnico já velhinho e pediu a ele que tirasse as "provas com qualidade". As tais provas, vim a saber depois,  eram fruto de uns palitinhos de fósforo colocados estrategicamente no ajuste da chapa de off-set e que só o velhinho conhecia. Tirando o aspecto folclórico, imaginemos o risco e o tipo de resultado da tal gráfica no dia-a-dia. Isto é hoje impensável com as gráficas digitais e outros requintes que se espalham rapidamente condenando os equipamentos mais antigos à obsolescência.
Muito bem. Comete-se um erro grave quando não se mantém técnicos fixos nos teatros e isto acontece às duzias. Ou ainda quando se adota o regime de "um faz tudo". Os "factótum da cidade" ficam bem nas óperas como o Fígaro, em Il Barbieri di Siviglia, uma deliciosa comédia.
A preparação de novos técnicos é essencial não apenas para a operação correta dos equipamentos do teatro, mas também para sua manutenção. 
Imagine um teatro entregue a mãos estranhas (o visitante) por pessoas (os técnicos) que não conhecem a linguagem daquelas cordas, varas, refletores, panos e tecidos que se misturam com cabos de aço, fitas adesivas, sargentos,  parafusos, lâmpadas, refletores, gelatinas, cabos elétricos. 
Ainda que pareça um procedimento normal, em várias cidades brasileiras, isto ainda acontece numa frequência assustadora colocando em risco não apenas o patrimônio, mas principalmente artistas, os próprios técnicos e as platéias que utilizam os equipamentos.