Após enxurradas de vuvuzelas, maradonas, nortecoreanices e outras pataquadas da Copa, quem esvaziava a cabeça com um daqueles filmes de roubo de jóias ontem à noite, viu ao lado de Antonio Bandeira o excelente Morgan Freeman.
Pois o veterano ator de 73 anos, nasceu em 1937 no Estado de Tenessee nos Estados Unidos e acumula mais de 50 filmes em sua carreira.
Sua cidade natal, Memphis, curiosamente, dá nome a uma rua na cidade mineira de Passos.
Seguindo pela rua Memphis, você pode entrar à direita na rua São Francisco de Assis, continuando pela Padre Pires até chegar à rua dos Boiadeiros. Entrando à esquerda e andando quatro quadras, você atinge a Rua Carlos Gomes, mais uma referência nacional do compositor. Desta vez em Passos, Minas Gerais.
terça-feira, 22 de junho de 2010
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Dilemas Contemporâneos da Cultura (25)
Dona Militana em foto de Canindé Soares
Sob o ponto de vista do artista, seu trabalho é como outro qualquer em que ele estabelece e se submete a rotinas próprias obrigando-se a administrar seus medos, angústias e também prazeres e realizações.
Para quem tem acesso à obra, entretanto, o artista é uma personalidade diferente.
O homem é espelho para o homem e isto significa que vemos no outro a imagem de nós mesmos, ainda que muitas vezes, seja preferível criticar no outro, como defeito do outro, nossas próprias imperfeições. Mas é raro o homem que percebe isto. Neste sentido e nesta ótica, o artista é imprescindível por levar o homem à reflexão de si mesmo e - de forma ainda mais abrangente - lembrar-lhe o tempo todo da sua finitude, da sua necessidade de fé, da importância de se acreditar e viver sob o domínio do bem.
São os artistas que têm o papel de nos lembrar. Lembranças do cotidiano, do nosso passado e lembranças do futuro projetado.
A arte é essencial.
Anteontem (dia 19) o Brasil ficou mais triste. Morreu Dona Militana, nascida Militana Salustino do Nascimento, romanceira de profissão. Morreu aos 85 anos em São Gonçalo do Amarante, cidade que já foi mencionada neste blog recentemente. Dona Militana deixou suas memórias de romances que aprendeu com seu pai, originários de uma cultura medieval e ibérica, narrando os feitos de bravos guerreiros e contando histórias de reis, princesas, duques e duquesas. Além dos romances, Militana cantou modinhas, coco, xácaras, moirão, toadas de boi, aboios e fandangos. Tudo isto está numa edição com 3 CDS (Cantares*) e outra chamada Songa também dá Coco.
Quem me manda a notícia é o Ledson França, Secretário de Comunicação de São Gonçalo, que nos abre mais esta porta e nos permite mais uma vez render homenagens à Dona Militana com cuja obra nos encontraremos muitas vezes ainda.
*quem tiver um me manda
terça-feira, 1 de junho de 2010
Carlos Gomes no mapa do Brasil (17)
Retorno ao blog e justo às vésperas da Copa do Mundo.
Prometi a mim mesmo não mais falar de futebol aqui, mas para não ser acusado de alheio às ansiedades mais naturais da Nação registro torcer para o Júlio César. Não o de Roma, mas o "nosso" de Milão. Isto mesmo, o portieri da Internazionale e goleiro do escrete que se chamava canarinho, hoje, provavelmente, com outros apelidos em construção.
Júlio César é um grande goleiro. Mesmo com a tal bola torta como adversária, fará boas defesas. Peguei a mal falada bola. A original (?) e a réplica (?) o que por si soa falso. A primeira me pareceu uma bola não muito diferente das outras com o diferencial de umas coisinhas enrugadas na superfície, certamente uma tecnológica invencionice para acontecer qualquer coisa que nós, simples curiosos - sequer notaremos. A segunda, a tal da réplica, é uma imitação mesmo, vagabundinha, de "49 real", pesada e chutável como qualquer outra bola.
A Jabulani - este é o nome da dita oficial - tem um chip dentro, ou um monte deles, o que soa a mesma coisa. Dizem que vai ajudar o juíz a errar menos com a ajuda de antenas, relógios, sinais digitais e por aí vai. A conferir.
De todo modo, com chip ou sem chip o Júlio César terá que rebolar - não estou insinuando que deve ser ao som daquela coisa que chmam de música - para pegar a Jabulani, a bola rombuda segundo os principais atcantes do mundo não patrocinados por seu fabricante.
O Júlio dará conta. Afinal nasceu 100 anos após a estréia de Maria Tudor - Ópera de Carlos Gomes - em 1879, em Milão, cidade onde Júlio César também se consagrou. E ele nasceu no Rio de Janeiro, cidade onde a Rua Carlos Gomes está cravada no Bairro do Santo Cristo, aliás ninguém melhor para abrir os braços a nosso favor, se for dado aos Santos a prerrogativa de interferir no futebol.
O que tudo isto tem a ver com Carlos Gomes? Como se diz em Zulu, é sempre tempo de jabulani(*) nosso compositor.
(*) Jabulani em Zulu - um dos 11 idiomas africanos - significa "celebrar".
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Dilemas Contemporâneos da Cultura (24)
Le pigeon aux petit pois
de Pablo Picasso (*)
Continuando...
Imaginemos um jovem que manifestou, por algum mecanismo interno, o desejo pelo canto, por tocar um instrumento, pela pintura.
Se o largarmos à própria sorte, sem qualquer instrução específica, poderá se transformar num artista que desenvolverá um tipo de trabalho limitado às suas circunstâncias aqui entendidas como falta de acesso a outros suportes, técnicas, métodos entre outros. Terá sua importância nestes limites, mas dificilmente sua contribuição será universal como se espera da arte. Isto não significa que seu trabalho seja menos importante, por exemplo, para a construção da identidade nacional.
De fato a ampliação do significado futuro do trabalho de qualquer artista tem um caráter muito mais especulativo. Este é outro caráter do trabalho artístico. Diferente de um trabalho operário que possui um planta, um desenho prévio que permite antever o resultado, escolher a cor, a troca de alguns detalhes antecipadamente segundo expectativas de consumo obtidas em pesquisa, quanto mais erudito for o trabalho artístico, menor é a possibilidade de conhecimento prévio do resultado futuro, porque o trânsito da criação, ainda que seguindo normas e padrões técnicos, tem um componente de abstração imprescindível e natural desta atividade.
Mas voltemos ao jovem “futuro artista”. Quanto mais contribuirmos para sua instrução, alargando seus horizontes criativos através do conhecimento de mestres, da visão do trabalho de outros artistas, do aperfeiçoamento teórico e técnico, da sua condição e possibilidades profissionais, maiores serão os resultados deste jovem criador. Claro que isto também é pura especulação, uma vez que não há garantia de resultado em qualquer investimento desta natureza.
A pergunta neste caso é “qual é a importância disto?”. Se este jovem se tornar um excepcional expoente na sua forma de expressão, justificou-se claramente o investimento realizado.
Por outro lado, mesmo que ele, após todo o seu aprendizado, decida voltar às suas origens, com toda certeza o fará com maior domínio técnico e ampla visão artística. Finalmente, após tudo que lhe foi oferecido, sua decisão pode ser apenas observar e conviver com a(s) arte(s) em fruição. Em ambos os casos, também terá valido a pena.
Continuarei...
(*) a pintura Le Pigeon aux petit pois (O pombo e as ervilhas) de Pablo Picasso integra o lote de 5 quadros roubados nesta madrugada de quinta feira no Museu de Arte Moderna de Paris, segundo fontes da AFP.
terça-feira, 18 de maio de 2010
Carlos Gomes no mapa do Brasil (16)
Frevo
Heitor dos Prazeres
A Praça Castro Alves é do povoComo o céu é do avião...
É impossível não lembrar da frevo novo de Caetano Veloso e da praça que abre os versos quando se vai à Bahia e esta é uma questão interessante. Na Virada Cultural de São Paulo deste último final de semana, eram muitos os palcos instalados. Na Estação da Luz, dois palcos enormes, um de frente para ou outro, o primeiro com a dança e o segundo com a música de concerto para quem chegava da Estação Julio Prestes onde fica a Sala São Paulo e, para a Virada, foi instalado um palco para os populares da MPB, os populares eruditos, podemos desafiar assim. E alí, entre cheiros vários, juntaram-se algumas milhares de pessoas de várias idades encerrando a Virada com gostinho de quero muito mais ao som da Cantoria de Elomar, Geraldo Azevedo, Xangai e Vital Farias. Os hits de pelo menos 26 anos, foram cantados por muitos inclusive garotos e garotas que nasceram muito depois do quarteto começar a refletir um Brasil sertanejo, armorial em todos os grotões como eles mesmos dizem.
Entre o prazer de apropriação de uma cidade jamais vista com o olhar integral do asfalto a não ser em oportunidades como esta e da convivência com as várias tribos, ficou uma reflexão: quais as outras possibilidades que permitem integrações tão interessantes e, ao mesmo tempo, capazes de revigorar a memória, as nostalgias, as saudades de nós mesmos.
De certa maneira, apenas a música revista, nos levaria à Bahia, onde outra convergência acontece todo o dia, pois o povo, ao sair da sua praça - a Praça Castro Alves, obrigatoriamente segue pela Rua Carlos Gomes uma rua, um compositor que, como Caetano Veloso, também é do povo, da nossa identidade, da memória e história da nossa música.
sexta-feira, 14 de maio de 2010
Dilemas Contemporâneos da Cultura (23)
Orquestra de Ópera
Edgar Degas
Em minha opinião, iniciou-se um debate interessante nestes Dilemas. Ver comentários em Dilemas Contemporâneos da Cultura (22).
Para ampliar um pouco mais, proponho uma analogia nascida da reflexão sobre uma conversa que também tive há poucos dias com alguns amigos sobre as diferenças entre cultura erudita e popular.
O artista é um ser humano diferente e isto não o torna melhor ou pior. Apenas é diferente, por seu trabalho - a arte em si - e pela forma como se expõe.
Muito embora o trabalho artístico seja essencialmente trabalho, não podemos ficar nesta leitura rasa de que é trabalho como outro qualquer.
Não dá para achar que os músicos de uma orquestra são um monte de operários(*) sentados à frente de estantes, trabalhando sob o comando de um operário-chefe com um bastãozinho agitado no ar. Isto não tem nada a ver com o fato de músicos serem contratados dentro de regras comuns às categorias profissionais no mercado de trabalho.
De fato, para o artista profissional aqui entendido como aquele que vive da sua produção artística e dedica a ela a maior parte do seu “tempo de trabalho”, a sua relação com as lides artísticas devem, na maioria dos casos, ter suas rotinas como em qualquer atividade. Ou seja, há uma fase de árdua dedicação para que sua arte se conclua ou esteja em ponto hábil para exibição pública.
Por outro lado, o método e a circunstância em que a produção artística acontece possuem elementos que evidenciam uma natureza diferente para este tipo de atividade. Neste terreno fértil, intuição, percepção, emoção, risco passam a ser constitutivos da natureza do trabalho artístico.
Desde a revolução burguesa na França no final do século 18, os artistas passaram a viver de criar o que julgavam “bom” e a procurar aquele que se interesse por seu trabalho. A sua relação com o mecenato mudou de uma confortável dependência em que os “patrões” diziam o que e como queriam, para uma circunstância em que as regras passam a ser da incerteza econômica e outros níveis de dependência, sem perder os elementos naturais da produção citados acima.
Estas novas relações são determinantes de um novo modelo em justaposição a uma dinâmica de mercado.
É preciso entender isto claramente. Cabe ao gestor o papel de compreender esta natureza e apoiá-la como um suporte de conexão à realidade.
Volto ao tema.
(*) Antes que digam que sou preconceituoso com os operários, entendo operários como sendo membros de uma categoria profissional que executa trabalhos manuais, de forma remunerada, para um empregador, transformando matérias primas ou, tendo conhecimentos técnicos de um determinado ofício, atua com materiais que lhe são fornecidos em vários graus de especialização.
sexta-feira, 7 de maio de 2010
Dilemas Contemporâneos da Cultura (22)
Nebulosa Rosetta
foto NASA
No post de ontem propus uma indagação a respeito do Trabalho Artístico como um alargamento da finalidade intrínseca da natureza humana e a gestão de Cultura sendo uma questão estrutural de responsabilidade sobre a vida.
Sem os excessos de provocação a que estas afirmações poderiam conduzir, neste contexto o gestor de Cultura é o principal agente modificador do status do cidadão na medida em que favorece a fruição do Trabalho Artístico em todas as esferas.
Dirão os céticos que não é viável propor expectro tão amplo como linha de abordagem na gestão cultural exatamente pela natureza plural da atividade artística.
Claro que não podemos discordar disto. Sejamos razoáveis.
Mas, mesmo na razoabilidade, propor todas as esferas possíveis é diferente de afirmar ser inviável propor todas as esferas.
Conhecida a natureza do Trabalho Artístico e reconhecido pelo gestor, será a estrutura instalada e as expectativas de conjunto que conduzirão nesta perspectiva.
Isto não significa transferência de responsabilidades. Continua sendo do gestor o encargo de facilitador do acesso aos bens culturais e precisa ser avaliado por isto.
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