Máscara "A ópera em São Paulo hoje"- por CP
Reflexões sobre as consequências e as inconsistências do que
representa a acusação de desfalque de R$18 ou R$20 milhões do orçamento do
Theatro Municipal amplamente difundida pelos veículos de comunicação em
reportagens recentes. Qual a sua origem, seu significado e efeitos na percepção
pública da nossa categoria?
Parte IV
Não quero passar dos limites, por que o exagero pode parecer
desrespeitoso, maledicência, pode ser traduzido por inveja ou corruptelas de
caráter que não me dizem respeito.
Mas, não passando dos limites, fica difícil acreditar que a ópera La Bohème, a ser reposta pelo teatro, venha a custar um milhão,
novecentos e oitenta reais, como divulgado pelos veículos de comunicação, mesmo com
moedas estrangeiras nas alturas. Por que, se o cenário* já construído, restringe-se a um quadrado de uns 4m x 4m ou 16 m², constituído de
algumas peças de mobiliário, com um bonde cenográfico fixo em um dos atos, e
alguns elementos de cena e, portanto, com reduzido custo de reparos, se necessários? Com cenários prontos, com luz possível de ser
feita com os equipamentos que o teatro possui, com uma sonorização mínima,
com sistema de legendas já pago, sem qualquer dificuldade na caracterização,
com figurinos já executados, com eventualmente um ou outro ajuste realizado internamente, sem custo adicional de orquestra e de coro, sem necessidade de contratação com elenco nacional de excelente padrão, perfeitamente contratável, por que um valor tão elevado?
Mesmo que justifiquem este orçamento, não é sadio para a atividade, não é
criativo, não é inteligente, não é aceitável à luz das próprias dificuldades
por que o teatro alegadamente passa.
Um amigo, contador, com quem conversei, ponderou que “como contabilista, não tenho
por que, nem como julgar o interesse artístico, a qualidade – palavrinha abstrata
– de um trabalho deste, mas como deve ter pensado o Controlador do
Município, somando todos os números que se fala aqui e ali, a conta não bate.
Alguém tem que explicar isto”.
Vamos ao ponto. Voltemos ao contrassenso com que comecei esta
série de reflexões.
Não é um absurdo, um total contrassenso, um abuso da nossa
capacidade de discernimento, que a Prefeitura venha a público dizer que só
acionou a Controladoria Municipal depois que o Diretor Artístico do teatro, um
empregado de altíssimo escalão, magnificamente remunerado para não criar nem levar problemas, comentou com o prefeito que havia algum problema na gestão? Soma-se
a isto a Prefeitura afirmar ter agido, somente após o pedido de demissão de
outro diretor quando este alegadamente disse ter saído por “divergências pessoais, interferências
exteriores ou o embate entre visões distintas”?
Algo não bate, como diria meu amigo contador.
(*) Quando vi o espetáculo, levei um susto quando a cortinas se abriram. Levei um cutucão "mediúnico" com a cenografia incrivelmente parecida com a que desenhei em 2010 para a produção de La Bohème na nossa Companhia itinerante. Por incrível que pareça, a mesma utilização do espaço delimitado por um quadrado, em medidas incrivelmente parecidas, com o mobiliário teatral utilizando os mesmos elementos que criei para nossa montagem. No nosso caso, um quadrado delimitador do espaço "não teatro" como desejei para o espetáculo. Sem pretender ser crítico, gosto mais da nossa encenação que, embora seja um texto "curto", possui uma dinâmica mais ao espírito da juventude com que vejo os personagens. Gosto também da maneira como os objetos de cena se transformam em outros numa dinâmica muito particular da nossa Companhia. Não sei quem criou o cenário da Bohème do Municipal e esta é uma demonstração de como uma boa ideia quando está no ar, pode ser utilizada por dois artistas que não se conhecem, mas que têm convergências criativas.
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