Máscara "A ópera em São Paulo hoje"- por CP
Reflexões sobre as consequências e as inconsistências do que
representa a acusação de desfalque de R$18 ou R$20 milhões do orçamento do
Theatro Municipal amplamente difundida pelos veículos de comunicação em
reportagens recentes. Qual a sua origem, seu significado e efeitos na percepção
pública da nossa categoria?
Parte II
Algo está insustentavelmente errado nas atividades naturais
do teatro. Quem acompanha o noticiário sabe que o TMSP (Theatro Municipal de São Paulo) tem sido permeado de denúncias
em frequência indesejável, sempre relacionadas às práticas da área artística no
relacionamento com artistas nacionais e estrangeiros, além de atritos no âmbito
interno do teatro.
Dada a dimensão do “estrago” (processos e protestos) ao longo deste período, não
pode ser esta a maneira correta de se relacionar com pessoas. Profissionais não
devem ser desqualificados, mas a eles dar-lhes luz. Não se pode construir Cultura
num ambiente de relacionamento tão desastradamente rudimentar e alicerçado na
superexposição deste ou daquele individuo. Isto não dá. Não pode ser assim.
Em mais de uma oportunidade fomos chamados de sociedade
provinciana , quando não há nada mais provinciano do que se dizer isto, do que
dizer-se belo quando estes juízos não são do sujeito, mas daqueles que o
observa. Não há prazer renitente em si próprio.
Chamar esta de sociedade
provinciana é um desatino. Mas, pensemos um pouco. Se há provincianismo num
determinado grupo e isto é ruim, não é exatamente o papel da Cultura fortalecer
os processos de criação do próprio grupo para combate-lo? Se não há
provincianismo e isto é bom, não é mesmo o papel da Cultura, ampliar e
favorecer os espaços criativos para que a arte se sobressaia?
Esta é outra questão interessante. Nós, artistas que vivemos
do espetáculo, da criação e da realização de obras de arte, nesta manifestação
tão complexa que ora é vista como entretenimento, ora como reflexão identitária,
sabemos que ópera é fruto de uma criação coletiva. Muito embora caiba a um diretor a criação conceitual o espetáculo,
e agir para que, do regente e elencos ao operador de luz, todos entendam e
trabalhem de forma sinérgica, também sabemos que o resultado final é derivado
da intervenção individual em associação coletiva. Se não for assim, não
acontece, não se aperfeiçoa, não há como desenvolver.
Esses fatos que ilustram o cenário do
TMSP, em atos intermitentes, culminando com as atuais
denúncias públicas de desvios de dinheiro feitas pela Controladoria Geral do Município e do Ministério Público
Estadual, não pode ser assumida como uma sucessão de variáveis
aleatórias independentes, como adorariam teóricos como Moivre ou Laplace ou
seus sucessores Bernstein, Tchebyshev, Lyapunov e outros.
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