quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Dilemas Contemporâneos da Cultura (38)

Aqualoucos

Hoje, 22 de Setembro, é o dia do Rio Tietê. Ratifica-se o esforço contínuo de mais de 20 anos para se conseguir limpar o rio. Em Barra Bonita, a menos de 100 km de São Paulo, já é possivel pescar no Tietê.

Você já experimentou parar numa das marginais, ou numa das pontes e observar o rio? É uma massa compacta, vigorosa, forte, avançando lentamente. Sem qualquer esforço vemos centenas, milhares, milhões de garrafas pet, objetos e pedaços de plástico, lixo, lixo puro flutuando. A sociedade irresponsável descarta seus apendices sem o menor pudor e sem a menor consequência.

O que nos interessa hoje é o olhar que se entristece ao perceber o quanto faz mal o descarte irresponsável e o quanto é necessário o investimento na infraestrutura de esgoto, recolhimento de lixo. Os outros olhares, estes, pobres, merecem respeito, claro. Merecem também atenção. São a eles que precisamos dirigir nossas forças.

A atividade cultural é completa e complexa em si mesma. É modificadora ao ter condições de se aliar aos interesses coletivos e tornar-se irradiadora da boa nova.

A capacidade de perceber o que acontece à volta é parte de um processo de compreensão da própria vida. Alguns individuos podem ser capazes de perceber o que acontece na sua casa, por analogia no seu emprego, por extrapolação nos núcleos familiares próximos e semelhantes. Podem expressar seus desejos e expectativas e até traduzir desejos coletivos. Mas, jamais, serão capazes de surpreender com perspectivas universais, pela sensibilidade extremada. Serão capazes de chorar, sem dúvida, mas só se lembrarão da crueldade, injustiça, quando forem expostos a ela. Jamais se lembrarão disto todos os dias, refletirão expontaneamente a respeito, permanecendo incapazes de falar para os seus pares, de propor - mesmo para si - soluções. A maioria desdes individuos têm carater dúbio, deixam-se levar por conveniências pessoais, por posturas egocêntricas, não havendo mudanças possíveis que não pela educação e alfabetização para as artes.

A Cultura é soberana e formadora do caráter. De certo modo é como um rio. Pode produzir muito, enriquecer as cidades que se ergueram exatamente à volta dos rios por enxergarem ali as possibilidade de sobrevivência.

Mas a Cultura é também dependente. Da mesma sociedade que deixa de lado sua fonte de riquezas, de saúde, de perenidade.

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