segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Dilemas Contemporâneos da Cultura (75)


Em artigo recente, Daniel Piza comenta o suposto declínio americano. 
Concordo com ele: não veremos tão cedo esta mudança.
Alguns apressados continuarão vendo esta perspectiva de derrocada americano com óculos embaçados o que certamente lhes deturpa o resultado. 
Muito embora estejamos cansados dos americanos empaturrados de hambúrgueres, da crônica mundana de uma sociedade incrivelmente caipira e muito conservadora, somos realmente apaixonados por sua imensa capacidade de gerar pensamento. 
Aí está a questão que, no meu entender, neste século e nos próximos, se manterá como o diferencial de supremacia: quanto mais for capaz de produzir pensamento, maior será a capacidade de uma nação se manter à frente entre as lideranças mundiais. 
A questão que se avizinha é até quando a China,sem que produza saber compartilhado, evita que sua economia entre colapso? Manter uma sociedade faminta sob rédea curta deve ser um problemão proporcional à necessidade de produzir a cada vez mais. Mantê-la calada só às custas de amarras complexas. 
Há quem diga que o Brasil é o pais da vez, o futuro império...
Premissa errada. 
A geração de pensamento, a criação, não podem visar soberania já que esta não deve ser uma questão imposta, mas assimilada ao longo da história. O equilíbrio, ao que tudo indica, não mais se dará pela força física e, provavelmente, menos ainda pela questão econômica dada a fragilidade acelerada da chamada economia virtual e seus efeitos na economia real. 
A próxima vertente é cultural, pela capacidade de gerar e compartilhar formas de expressão, aquelas que dão ao homem a concreta visão de si próprio.

2 comentários:

  1. Prezado Cléber,

    Concordo com quase tudo, salvo o ponto que diz que "o equilíbrio, ao que tudo indica, não mais se dará pela força física e, provavelmente, menos ainda pela questão econômica dada a fragilidade acelerada da chamada economia virtual e seus efeitos na economia real".
    Como este trecho vem logo após da citação sobre o Brasil, acho que é claro que a perspectiva sobre qual sua argumentação se coloca é macro, e por conseguinte as suas dinâmicas. Em primeiro lugar, é notório o fato de que 5 das 10 maiores economias do mundo possuem declaradamente potencial ofensivo nuclear, e que mesmo países não pertencentes a esse seleto grupo, mas, que possuem por diversos motivos destaque político internacional são severamente controlados para que não adquiram tal tecnologia, nesse panorama cabe o Brasil. Há ainda países que asseguram sua posição no panorama internacional pelo potencial bélico como a Rússia, Israel e a Índia (11º PIB mundial).
    Lembro-me de ter lido a frase do geógrafo Milton Santos que dizia que no passado, as nações eram invadidas por exércitos, hoje são invadidas pelo capitalismo. Santos está certo, mas, incompleto se interpretado fora de um contexto analítico. O capitalismo invade nações, na forma de economia de mercado, utilizando quase sempre o artifício das armas por trás das negociações. Aplicam-se embargos econômicos que não podem ser repelidos senão pela força das armas, muitas vezes simplesmente porque determinado país não pretende ceder à invasivas e escravisantes exigências comerciais de outros países. Talvez a força física não se faça mais visível, mas está certamente presente nas negociações internacionais. E, por mais que exista uma extensa propaganda tentando transformar comentários como esse em discursos esquerdistas fora de moda, não se trata de discursos, apenas de observação básica de dados, que se mais aprofundados, amplificam mais aindda a raiz do problema.
    E, assim como anteriormente dito, a economia de mercado invade nações, e esta é a economia virtual. Seus efeitos serão sempre os mesmos na economia real enquanto o sistema econômico e seus lastros não forem totalmente reformulados. O mundo perdeu essa chance recetemente no golpe descarado de instituições financeiras internacionais que contruíram uma bolha sabendo quando e como ia estourar. Quem paga a conta disso tudo são os contribuintes, sempre. Por esse motivo a economia real sofre, porque é uma idéia de que algo que nada produz vale alguma coisa. Que uma instituição que especula ganha mais do que uma que produz. O cerne do problem a não foi sequer tocado.
    Portanto, ainda que eu concorde que o Brasil não gerou, nem gerará em curto espaço de tempo o pensamento necessário para vir a ser o País do futuro, e que a China terá que distribuir pensamento para manter sua posição, creio que só o conhecimento e a cultura, descontextualizados das dinâmicas globais de negociação política são, infelizmente, incapazes de nortear o desenvolvimento de um país.

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  2. A visão de que a cultura sozinha é incapaz de nortear o desenvolvimento é inútil sob o ponto de vista do equilíbrio de forças. Por outro lado, é conservadora ao imaginar que seja possível tratar cultura fora dos contextos globais. Ainda que as suas colocações estejam corretas, é preciso refletir sobre a frase do blog "A geração de pensamento, a criação, não podem visar soberania já que esta não deve ser uma questão imposta, mas assimilada ao longo da história". Este é o ponto. Não se correlaciona pensamento com o objetivo de supremacia e poder. Este prisma me parece novo e acredito que este será onde chegaremos daqui há alguns anos para felicidade de nossos descendentes: um planeta em que as relações se darão pela via da Cultura, do pensamento. Arte, Ciência, Filosofia/Religião integrados.

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