terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Dilemas Contemporâneos da Cultura (53)

Tango 

Não vamos nos lastimar pelo fato de amarmos o tango* (quem odeia, pule para a frase seguinte) e não sabermos qual é o mais novo grupo dedicado ao gênero.

Temos a lastimar a ausência de programas que promovam a circulação de bens culturais para o exterior, bem como mecanismos que facilitem o acesso a intercâmbio, participação em exposições, bolsas de negócios entre outros.

Em algumas áreas da Cultura já se instala o reconhecimento destas necessidades, mas ainda vivemos uma utopia nesta direção. Nos Estados e Municípios, dando um crédito para iniciativas isoladas como os bureaux de cinema, ou um e outro programa, o resultado tangencia o zero.  

O Brasil é, quando muito, receptor de algumas iniciativas e, estas, desde que venham de bem longe da Latin America. Nossa consciência dos vizinhos é restrita quase que somente aos torneios de futebol, mesmo assim vendo os países próximos como adversários.

Há quem advogue no seio da cultura brasileira – esta me parece ser a linguagem apropriada mais retrógrada – que não se deve ter no Brasil qualquer tipo de financiamento (incentivo, investimento direto) para “conteúdos estrangeiros”. Da mesma maneira, há pouco tempo, instalou-se um programa num determinado município em que “só se apoiaria produção de filmes com conteúdo, locações e artistas locais”. Não cito as fontes porque nenhuma das duas merece sequer citação.

O fato é que escudado por aquela idiotice, o aloprado acha que conteúdo estrangeiro é um crime de lesa-pátria e, com este raciocínio de barril de cerveja, esquece que com uma medida destas, não se pode financiar encenação de nenhum texto teatral de autor estrangeiro, ou ter patrocínio para nenhuma orquestra executar Bach, Beethoven, Philip Glass, Paul Mcartney, ou para exposição de Rodin etc.

O outro, motivado sei lá por que desvio, imagina que cercear a liberdade de criar é parte das funções do gestor de cultura. Na sua pequena célula que insiste em chamar de cérebro, nenhum cineasta de sua cidade, com apoio público, poderia fazer um filme com locações na cidade vizinha, ou atores de outro estado, ou diretor estrangeiro.

Há quem se preocupe com extraterrestres – conheço uma pessoa que treme de pavor ante a hipótese de se encontrar com um. No entanto, devemos nos preocupar com estes terrestres que menciono acima. Desculpado o trocadilho, fique atento: há uma mudança em curso, mas tem muita gente puxando a corda contra. 


*Desde Outubro de 2009 o tango passa a ser Patrimônio Imaterial da Humanidade. A decisão da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), tomada durante uma convenção em Abu Dhabi, garante a proteção deste tipo de música e dança.

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