quinta-feira, 6 de maio de 2010

Dilemas Contemporâneos da Cultura (21)

A criação de Adão - Capela Sistina
Michelangelo Buonarroti - 1511

Tomando como ponto de partida a fundamentação expressa na Encíclica de João Paulo II sobre o Trabalho Humano (Laborem Exercens) "o trabalho constitui uma dimensão fundamental da existência do homem sobre a terra".
A relação entre homem e trabalho se dá como atividade essencial e própria da natureza humana, na medida em que entendermos ser o trabalho uma ação premeditada, planejada, modificadora do meio ambiente, do próprio homem e a favor dele. Como dirão os leitores da Bíblia, está em Genesis 1,28 a determinação "enchei a terra e submetei-a", sendo esta submissão a tal relação modificadora.
O que difere o homem dos animais é a sua perspectiva de opção criativa para realização do seu trabalho.
Cheguei ao mote.
A criatividade é portanto uma questão essencial para o entendimento do trabalho. Os físicos que me perdoem, mas o trabalho aqui admitido é diferente do T (o tau grego) e nada tem a ver diretamente com força e deslocamento.
A dimensão deste "trabalho" é a da essência humana, o que o torna típico do homem e apenas dele.
Ampliamos ainda mais o conceito se nos referirmos ao Trabalho Criativo e, por extensão, ao Trabalho Artístico.
Podemos concluir que o Trabalho Artístico é o alargamento da finalidade intrínseca da natureza humana o que torna a gestão de Cultura uma questão estrutural de responsabilidade sobre a vida.

Voltarei ao tema.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Dilemas Contemporâneos da Cultura (20)

Brunhilde - Das Rheingold, de Richard Wagner
por Arthur Rackham - 1910

 Quantos compositores maravilhosos temos na História da Música!...
Está certo, você pode e deve achar a frase acima piegas, pluralista demais.
Mas por isto mesmo acho que vale a pena repeti-la e, com isto, refletir um pouco mais sobre seu conteúdo.
Quantos compositores maravilhosos temos na história da música!
Nossos compositores “vivos” são poucos, desconhecidos, pouco de sua produção vem a público.
Por um fenômeno recente, muita ênfase tem sido dada aos regentes, guindados à condição de guardiães da boa música e de tradutores desta linguagem fundamental para o desenvolvimento humano. Este é um problema grave, uma vez que excluídas as gravações, nada fica do intérprete a não ser a memória impressa. Apenas as composições ficam.
Considerando que há regentes e regentes, com orquestras em diferentes padrões de orçamento, não é comum que se comissionem compositores para novas peças.
Esta é uma questão de Estado e não de interpretes, muito embora as boas orquestras e os bons regentes busquem mecanismos para encomendar peças novas para o repertório. Aliás, fica aí uma boa sugestão de critério para definir padrão de orquestras: são melhores as que comissionam pelo menos uma peça nova por ano. Vale o mesmo para os regentes.
Voltando à questão de Estado, qualquer que seja o feitio, é prioridade que se tenha nas políticas para o setor Cultural programas que comissionem novas composições e com isto promovendo a continuidade da história da música.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Carlos Gomes no mapa do Brasil (15)

Luiz Molz - Banquo - Macbeth
foto: Paulo Lacerda

- Mas, Mãe... Oito e meio?
O menino (para a mãe), rapazola de talento, não entendia. Sua mãe, professora de canto, lhe dera a pior nota do seu curriculum e, provavelmente, esta tenha sido a melhor lição que poderia ter recebido. Afinal, passados tantos anos, é da pior nota que se lembrou primeiro.

Dizer isto também não é justo. É impossível não lembrar e recomendar o “xis-mignon bacon” (assim mesmo com x, abrasileiradamente escrito) do Ponto de Cinema ou do “xadrezão” do Pereira, lugares freqüentados por estudantes, professores, milicos, intelectuais, seminaristas e toda a sorte de pensadores e cabeças vazias de que se tem lembrança.

Acho que Kalsruhe não é mais tão alemã desde que ele chegou lá. Nem o Badisches Staatstheater, onde trabalha, é o mesmo. Nos corredores de uma das principais casas de ópera da Alemanha, com orçamento e temporada técnica e artisticamente superiores a outras mais tradicionais, o baixo circula com a desenvoltura de quem desempenha em padrões de excelência os principais papéis da sua tessitura.

Claro que com saudades do Brasil. Mais proximamente da cidade onde nasceu e ganhou aquela nota insuportavelmente baixa e comeu todos os sanduíches que tinha direito. Só não saboreou os da Lancheria Carlos Gomes, onde saem da chapa os hambúrgueres de Elidia e Fernando, na Rua Carlos Gomes, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul.



O nome do menino, rapazola e hoje um dos grandes baixos brasileiros?

Ike para os amigos e Luiz Molz para todos que gostam da música bem cantada.

Dilemas Contemporâneos da Cultura (19)

Ópera de Paris

Em breve, passadas as eleições, certamente ouviremos dos novos Secretários de Cultura que não conhecem plemanente a atividade que estão desenvolvendo, mas que se esforçarão ao máximo para utilizar a experiência que possuem de outras áreas para ajudar a implementar a atividade cultural.


Este fato corriqueiro é fruto de um problema crônico: existem poucos gestores disponíveis. Ou seja, não é fácil encontrar profissionais que tenham forte visão administrativa com cacoete artístico ou vice-versa dependendo da necessidade de cada Cidade ou Estado. Como o cargo de Secretário é um cargo político, é comum a priorização da lide política à questão cultural. Nesses casos é também ordinário que se coloque a Cultura a serviço da política e não exatamente o contrário como é de se supor.


Há também a peculiaridade que este gestor precisa conhecer a máquina pública, os mecanismos que fazem com que ela funcione, suas travas jurídicas. Idealmente, precisaríamos de pessoas que tivessem o conceito da máquina pública, principalmente no que tange a boa gestão dos recursos públicos, com a agilidade e visão de futuro da atividade privada, com suficiente bagagem intelectual que lhe emprestasse o bom gosto pelas artes, a aceitação das diferenças, a apologia do belo, o respeito ao criador, a compreensão dos mecanismos que viabilizam a produção dos espetáculos, das exposições, as necessidades de cada ator no segmento.


Este superser é raro no Brasil. Mas caminharemos para isto. Há espaço para este tipo de desenvolvimento pessoal e esta é uma nova carreira necessária.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Dilemas Contemporâneos da Cultura (18)

Bailarina do Australian Ballet
by Bob Pearce

Sempre acreditei que o mercado resolveria tudo como um ser autônomo, capaz de tomar decisões e de se engajar nas causas justas e adequadas.

Penitencio-me. Trata-se de uma inversão de ótica. Veja se tenho razão.

Sabemos que a noção de mercado é de ação a favor de si mesmo (o mercado se regula, se controla etc.).

O mercado é uma parte do conjunto de forças que atuam na sociedade e não a totalidade dos mecanismos disponíveis para resolver o principal dilema da Cultura (financiamento com sustentatilidade).

Sendo parte, como imaginar que seja viável ter o mercado agindo como o todo? Agindo a seu favor, como esperar que sua ação seja pró coletivo?

Ficou clara a inversão? O mercado jamais irá agir a favor da coletividade a menos que seja integrante a própria coletividade (o que é impossível por moto próprio graças a sua própria natureza "individualista e centrada nos seus próprios interesses etc).

Talvez esteja aqui a estratégia construtiva se encontrarmos uma maneira de incluir o mercado com partícipe de nossos interesses artísticos, inclusivos etc.

Isto significa que somente nós, interessados, discutindo, dialogando, arejando o discurso, seremos capazes de mudar esta realidade.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Dilemas Contemporâneos da Cultura (17)

Angelus
de Roberto Ferri

Onde não há distribuição de riqueza, reina a barbárie.

Nós da Cultura Erudita parecemos ratazanas esfomeadas brigando pelo último pedaço de pão, pelas sobras de uma sociedade que desaprendeu a preservar o que deveria lhe ser caro e precioso.

A imagem é muito forte? Você que me lê não se sente um rato comendo migalhas? Ótimo. Menos mal. Um a menos.

Mas qualquer que seja o seu status, observe ao seu lado. Note o quanto os seus colegas reclamam, quanto dizem que preferem calar a falar, sabe como é, não é? Preste atenção, em quantos pensam em deixar o país em busca de oportunidade de trabalho, ou ainda quantos dizem estar em dificuldade.

Ou somos um monte de reclamões ou tem alguma coisa errada. As pessoas põem a boca no trombone por três razões: por que são músicos e o seu instrumento é este, ou, usando o trombone como força de expressão, têm uma perturbação que os leva a fazer estardalhaço por qualquer coisa, e, finalmente, como terceira hipótese, porque a situação está mesmo no limite. 

Neste caso, estamos em tempo de reparação. É momento de reflexão e correção de rumo.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Carlos Gomes no mapa do Brasil (14)

Batutas no Museu Histório Nacional
Da esquerda para a direita - Carlos Gomes (1 e 2) e Francisco Braga (3)

De manhã bem cedinho pode-se pegar um carro em Chapecó e, não fossem as curvas, se chegaria a Concórdia numa reta só pela BR 283.
Saindo de Concórdia é melhor passar por Joaçaba, a “Princesinha do Oeste”, para chegar a Lages. A quem perguntar se é possível dar um pulinho em Curitibanos antes da ida a Lages, é bom lembrar que é preciso uma volta um pouco maior, mas é perfeitamente adequado também.
Chegando em Lages será necessário dar uma boa olhada no mapa para chegar a Criciúma no sul do Estado e, finalmente, Tubarão, uma cidade próxima ao mar, à serra e de águas termais.
O que estas 7 cidades têm em comum?
Além do fato de serem todas do Estado de Santa Catarina, também têm em comum o Rua Carlos Gomes presente no mapa de cada uma delas.
Bom passeio.