sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Ópera em Movimento (3)



Ópera em Movimento é uma série que criei para a Rádio Cultura em São Paulo. 
A maneira como as pessoas ouvem rádio varia obviamente em função de vários fatores. Sejam eles determinados pelo espaço (carro, casa, escritório, escola etc.), pelo tempo (duração de uma corrida de taxi, ou de ida ao trabalho, antes de dormir, entre outras variantes), pela circunstância (viagem, enquanto se estuda, à espera de uma consulta, num trajeto de ônibus etc.), pelo exercício da sensibilidade, por puro entretenimento. Em cada circunstância e motivação as pessoas têm também comportamentos diferentes com relação ao conteúdo.

Na Ópera em Movimento, procurei seduzir o ouvinte convidando-o a se envolver na abordagem proposta. Cumpri o objetivo? 
Não sei. Mas foi muito divertido fazer e conheci, posteriormente, algumas pessoas que valem a pena ter tido contato e, melhor ainda, tendo o programa como elemento comum. 

Fica novamente o convite. Que tal se divertir um pouco com Beethoven? Experimente. Este terceiro programa da série também está disponível diretamente no site da Rádio Cultura FM.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Ópera em movimento (2)

Apeth (virtude)
Biblioteca de Celsus (Turquia)*

Hoje é um bom dia para reflexões sobre a virtude. Uma boa circunstância para pensar sobre o bem estendido às pessoas seja através de pequenas decisões diárias, seja através de posturas permanentes. 
Fica o convite para o segundo programa da série Ópera em Movimento. A ópera do dia é A Flauta Mágica, de Wolfgang Amadeus Mozart. 

Ouça no link.



(*) A Biblioteca do senador romano Tibério Júlio Celso Polomeno construída em Efeso (então território grego) pertence hoje à Turquia e foi criada por seu filho Caio Júlio Áquila para armazenar 12.000 manuscritos em rolo e servir de sarcófago. Na fachada estão as quatro estátuas representativas das qualidades de Celso: a Virtude, o Conhecimento, a Devoção e a Sabedoria. 

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Notas de Rodapé (21)

Metropolitan Opera - NY


Exaltado, inclusive neste blog, o diretor geral do MET, Peter Gelb, vive seu inferno astral com a sombra de US$ 2,8 milhões (R$ 6,3 mi) na temporada 2012-2013 e da previsão de um prejuízo "expressivamente maior" na temporada passada, crise financeira que pode paralisar as atividades de uma das maiores casas de ópera do mundo. Veja matéria na Folha de SP.
Os 16 sindicatos dos trabalhadores do MET recusaram a proposta de redução em 17% nos salários e cortes de alguns benefícios. 
Entre outras mudanças no MET, Gelb iniciou há alguns anos as transmissões ao vivo dos espetáculos da casa nos cinemas em vários países, inclusive no Brasil. Com isto arrecadou um volume enorme de recursos o que, numa primeira análise, considerei genial pela estratégia adotada. Sem estar sozinho nisto, obviamente, centenas de observadores em todo o mundo, enxergaram o senso de oportunidade etc. 
Apesar disto a casa chegou a esta crise, aparentemente motivada pelo excesso de investimentos na produção dos espetáculos, sem os ajustes necessários orçamentários para que continuasse trabalhando em níveis saudáveis, já que vários outros fatores tais como a redução de doadores, queda nas bilheterias, também passaram a ser empecilhos à vida financeira saudável. 

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Ópera em Movimento (1)

Busto de Giulio Cesare - Sec I

No final de 2012, fui convidado pela Fundação Padre Anchieta a produzir 13 programas para a Rádio Cultura FM, na série que chamavam Idéias Musicais.
Com a liberdade de criar o que mais se aproximasse da minha atividade profissional e do meu universo de pesquisa pessoal, procurei colocar em prática um antigo desejo de dialogar com o ouvinte acerca da fantasia de se ouvir ópera no rádio. 
Daí nasceu o que chamei de Ópera em Movimento - um exercício de imaginação. 
Sempre fui um ouvinte de rádio. Desde garoto  lembro das vezes em que na casa do meu avô Domênico Papa ouvíamos juntos radionovelas, radioteatro e transmissões de umas longas histórias cantadas de um jeito diferente e que, por razões que desconhecia, pareciam muito familiares. Meu avô era um homem austero. Talvez por ser muito pequeno à época, pouco conversamos. Nunca me falou nada da Itália, da ópera. Com ele aprendi a gostar do fogo, do cobre e a manejar o fole que alimentava as chamas. Delas nasciam baldes, bacias, panelas, alambiques inteiros e pequenas lamparinas. Um longo e delicado processo de tirar formas de chapas de cobre. Neste ambiente, também aprendi a imaginar. Jerônimo, o justiceiro e os inúmeros personagens criaram uma pátina que se configurariam para sempre na maneira de imaginar tudo que fosse imaginável. Hoje, tenho a certeza de que sou diretor desde a infância, quando criava na imaginação a ambientação, a roupa, rostos, gestos, a luz, tudo o que girava em torno daqueles textos interpretados no rádio.
Com a Ópera em Movimento, busquei reproduzir um pouco deste diálogo com o rádio e com a ópera, tendo o ouvinte - você - como parceiro. 
A partir de hoje, publicarei regularmente os 13 programas produzidos na Rádio Cultura FM, sob a direção de Ralph Scharz e Trabalhos Técnicos de Almir Amador.
É só seguir o link: Ópera em Movimento - um exercício de Imaginação 

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Dilemas Contemporâneos da Cultura (88)

Roberto Ferri - Chloris

Escolhi uma obra de Roberto Ferri para ilustrar esta retomada do blog porque me parece verdadeiramente simbólico ser contemporâneo sem deixar de olhar o passado. Ferri é um pintor profundamente inspirado nos mestres do Romantismo e do Simbolismo. 
Também a escolha de sua Chloris tem lá a sua pitadinha de significado, muito embora isto possa parecer pretensioso. Mas esta é uma outra questão.
Uma leitura deste blog, deixa transparecer certo pessimismo com os mecanismos como a Cultura é difundida e, mais ainda, como são os processos de incentivo à produção. Não é simples.
Daí a escolha de Chloris e a expectativa de que simbolismos à parte, este retorno seja frutífero e de fato signifique uma mudança de rumos.
Talvez menos Dilemas e mais liberdade de pensamento.
Mas, por enquanto, sem otimismos exagerados. Afinal, um pouco de muxoxo faz bem.

sábado, 2 de novembro de 2013

Dilemas Contemporâneos da Cultura (87)

Tanto não fez que virou outra coisa. 

Às vezes é muito ruim a gente ter razão. Quando se concretiza uma coisa que se pensou alguns anos antes, fica uma sensação tão grande de impotência, de raiva. infelizmente é a tal raiva no espelho - de ter visto, imaginado tudo aquilo e não ter aberto a boca o suficiente, de não ter falado com mais veemência.
Desconfio de quem diz que o que faz é transformacional. Desconfio de quem diz que faz alta governança com transparência. Desconfio de quem diz que qualquer coisa que faça é off shore.

Em 13 de Janeiro de 2011, escrevi o Dilemas Contemporâneos da Cultura (55) com uma dor enorme. Relendo após dois anos, senti a mesma coisa, o mesmo incômodo. (segue)

Não era previsível a falta de solidez na mágica de Mr. X? 

Desconfio muito das empresas quando à frente das suas áreas na cultura tem gente mal informada, mal formada, que confunde Maria Callas com Mariah Carey*. 

Quero que se evapore, que suma, que se dane, qualquer um que tire uma lágrima sequer de qualquer artista.

*a piada é um clássico, mas infelizmente isto se multiplica de verdade como uma erva daninha.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Dilemas Contemporâneos da Cultura (86)

Coxia de teatro, durante espetáculo de Ópera Curta
foto por Cleber Papa
Wallace K. Harrison projetou a sala de espetáculos da Metropolitan Opera em New York, em dimensões proporcionais à importância mundial da casa. São 3.975 lugares.
O Met possui cerca de 860 empregados fixos, podendo ter este número ampliado conforme as necessidades durante o ano. O núcleo artístico emprega em torno de 100 músicos na orquestra, 80 membros regulares no coro e 16 membros no ballet. Cada um destes grupos pode aumentar dependendo das necessidades de cada temporada que equilibra repertório com e sem partes corais etc. Lembremos que o Metropolitan chega a ter 30 óperas no repertório por ano (segue). Com este programa de óperas, concertos e outras performances, no seu momento de pico, na temporada, o seu coro é ampliado em no máximo 30 cantores contratados externamente.  No seu formato, o Met desenvolve inúmeras atividades inclusive programas destinados a identificar jovens cantores em 16 regiões diferentes e auxiliá-los no desenvolvimento de suas carreiras.
Nos teatros de ópera Europeus, temos características que guardam certa semelhança, preservadas as dinâmicas de cada teatro ou sociedade.A Royal Opera House (Covent Garden) com 8 operas e 8 ballets anualmente, possui 53 cantores fixos no coro e contratam até 60 se necessário.O Theatro Nacional de São Carlos possui tradicionalmente 62 coralistas fixos. A Ópera Nacional de Paris possui um coro de 112 vozes para atender apresentações em dois teatros (Paris-Garnier e Ópera da Bastille). A Bastille apresenta 13 óperas em média por ano e 6 ballets. A Paris-Garnier é o inverso com cerca de 14 ballets e 6 óperas. Seguindo o exemplo do Metropolitan, a Ópera Nacional de Paris também está gravando alguns espetáculos e os apresenta em transmissões exclusivas em vídeo, em diversos países.O Gran Teatro del Liceu tem 70 cantores no coro com cerca de 9 óperas por ano. O Teatro Alla Scala, de Milão, possui um coro de 103 vozes, com 16 óperas na temporada de 2012/2013, sem considerar as atividades para jovens. A centenária  Wienner Staatsoper, em Viena, possui 95 cantores, e a Volksoper pouco mais de 60. Em Kalsruhe, na Alemanha, são 53 coralistas também contratando extras quando necessário.Ainda na Alemanha, Duisburg e Dusseldorf são duas cidades interligadas pela mesma companhia de ópera e possuem 64 coralistas que se revezam entre os dois teatros. Na Alemanha, de um modo geral, os coros líricos giram no limite entre 60 e 70 vozes.
O Teatro Colón na Argentina possui 90 coralistas estáveis (funcionários da municipalidade de Buenos Aires) com 20 a 25 acréscimos quando necessitam para atender algumas das suas 9 produções anuais. No Chile, o teatro de Santiago possui 58 coralistas para os seus 6 títulos apresentados.
Todos estes teatros têm seu modelo de atuação, ora criando suas próprias produções, ora trabalhando em regime de coprodução e vários deles com corpos de solistas fixos. Na sua programação, é comum programas de formação de plateias, de jovens cantores, além dos programas rotineiros de outros corpos artísticos dos teatros. 
Desta constatação fica a indagação de qual modelo seria o ideal para teatros Brasileiros. Acredito que, consultados, os profissionais da área na sua grande maioria, concordam que salvaguardadas as características de cada teatro, o tamanho do coro terá uma relação muito estreita com as dimensões do próprio espaço e o tipo de repertório adequado. A programação destes teatros deveria equilibrar possibilidades financeiras, recursos técnicos e artísticos disponíveis, expectativas do público, interesses artísticos do grupo de decisão de repertório entre outros aspectos. Divergências pontuais aqui e ali, todos com certeza estariam fechados com a ideia de que é fundamental identificar e se desenvolver carreiras de artistas nacionais, criar núcleos de aperfeiçoamento com professores de língua estrangeira e preparadores de corpo entre vários outros, sendo estratégico fomentar a produção local, exigindo-se de todos padrões de qualidade em níveis internacionais.
É preciso cautela quando se fala isto no Brasil, pois menos desavisados imediatamente desfraldam bandeiras contra o xenofobismo. Uma ova. Lembro que há pouco tempo participei de uma discussão em que estava em jogo o uso da lei de incentivos federal para o financiamento de projetos culturais estrangeiros. A discussão era o oposto. Lá se dizia que o dinheiro público só poderia financiar projetos nacionais. Obviamente, fui contra e bati teclas durante várias laudas a respeito uma vez que um projeto nacional para a cultura implica em referenciar. Acredito piamente na troca de experiências, no acesso à informação que vem de fora como sendo fundamental para o desenvolvimento cultural. Sem me alongar nisto, fiquei no limite do que é possível de paciência argumentando que um grande solista de ópera, o espetáculo de um bom diretor, a oportunidade de debate com um cineasta, um ator, um maestro, a apresentação de uma grande orquestra ou de grupos de câmara importantes, o subsídio aos festivais internacionais, inclusive das artes de massa, tudo isto é parte da dinâmica do fomento ao saber e é essencial que todas as fontes de financiamento sejam utilizadas com parâmetros definidos, mas não impeditivos do intercâmbio.
Isto não significa que não defendo com veemência o investimento na produção nacional e na formação de artistas e técnicos.
Imaginemos uma situação insólita em que do dia para a noite, um teatro de ópera perde todos os seus técnicos, ou todos os seus músicos, ou, de repente, seus coralistas desaparecem por força de um raio extraterrestre. Imaginem o que representa de perda de tempo, de recursos, de história se, por qualquer circunstância alienígena, some parte da memória desta instituição. Ou, na ausência deles, a dificuldade em encontrar pessoas com formação que permita tocar o dia seguinte.

Acabada a síndrome de Doctor Who, registre-se novamente a convicção da necessidade de fortalecimento das nossas instituições culturais através das pessoas que ali trabalham ou que potencialmente podem contribuir para o seu resultado, com investimento permanente na formação. A ópera é um bem importantíssimo para o crescimento profissional de muita gente e pode, inclusive, dar uma enorme contribuição a outras formas de expressão, em particular na área técnica.