quarta-feira, 5 de outubro de 2011
A Ópera é Pop (6)
A mulher é volúvel como uma pluma ao vento.
Não. Não se trata obviamente de frase de blogueiro machista, mas a tradução de uma das mais famosas árias de ópera: La donna è mobile, da ópera Rigoletto, de Giuseppe Verdi.
Ainda não consegui chegar a um resultado concreto, mas ao lado da ária de Figaro no Barbeiro de Sevilha, da Habanera de Carmen, Nessun Dorma de Turandot, compõe o quarteto mais repetido na publicidade.
Não podemos deixar de lado o Dueto das Flores de Lakmé, a cantata Carmina Burana, a Cavalgada das Valquírias utilizadas em inúmeras versões e adaptações.
Hoje, destaco uma das muitas vezes em que La donna è mobile aparece vendendo alguma coisa. No caso, um clip da série Sopranos! do A&E Channel. Veja aqui. e se você quiser, divirta-se aqui com a letra em italiano e em português podendo também ouvir uma gravação histórica de Enrico Caruso na Milão de 1903.
Como veremos por aqui, a publicidade gosta de associar ópera à máfia, carros elegantes, fortes e velozes, a experiências que unam familia, comunidade. Sempre colocam pessoas cantando ópera nos contextos mais diversos e, ao que parece, adoram peixinhos cantando*
(*) estamos apenas no A Ópera é Pop (6) e já tivemos dois anúncios com peixes cantores.
terça-feira, 4 de outubro de 2011
Carlos Gomes no Mapa do Brasil (42)
Filhote de Quati
animalzinho típico do continente americano
Mas não é na cidade homônima de Assis, no Estado de São Paulo, que iremos encontrá-lo como nome de rua ao lado de Carlos Gomes, homenageado neste simpática cidade (veja aqui no mapa). Infelizmente não se lembrou de Bernardone na cidade.
Disse infelizmente, porque a visão positiva do homem e da natureza de Bernardone impregnou profundamente a sociedade nos séculos 12 e 13 (nasceu em 5 de julho de 1182 e morreu em 3 de Outubro de 1226). Sua presença se estende por toda a Renascença e é uma personalidade imprescindível para entendimento ainda hoje do que é caridade, compreensão e simplicidade, independente de ligações religiosas.
Isto mesmo. Estamos falando de São Francisco de Assis, relembrado sempre por sua afeição aos animais(*).
De fato, não foi em Assis que encontramos São Francisco e permanente homenageado Carlos Gomes. Mas, em Maceió, no Estado de Alagoas, onde uma caminhada de uns 20 minutos leva da Rua Carlos Gomes a outra que leva o nome do Santo (para ver o caminho, veja a Rota no mapa). Uma oportunidade interessante para se refletir acerca das igualdades, do homem e do meio ambiente.
(*) dia 4 de outubro é o Dia Mundial dos Animais.
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
Dilemas Contemporâneos da Cultura (80)
Ontem
por Rosana Caramaschi
No "Dilemas" anterior levantei a lebre* da reflexão acerca da utilidade da Cultura. Foi um tema de poucas respostas.
A Cultura não interessa? O dia foi ruim? Foi uma segunda feira como hoje. Não cheguei a cruzar os efeitos da segunda feira na vida das pessoas, muito embora saiba que a Síndrome exista. Ela começa devagar no domingo, quando algumas pessoas passam a sofrer angustiadas com tudo o que recomeça na manhã seguinte. Não há quem não tenha passado por este incomodo em algum momento da vida. Outros sofrem (e suas empresas, parceiros, atividades).
Por outro lado, é mais fácil para o blogueiro culpar os outros que achar defeito no próprio blog.**
O importante nesta e noutras questões é ter o bom senso de seguir em frente já que tudo não passa de uma fantasia, fruto do que pensamos.
Sendo assim, vamos ao dilema de hoje.
Com segundas feiras, domingos, sindromes ou não, uma das principais questões que se avizinha é até onde a Cultura deve se submeter às regras de consumo?
Melhorando a pergunta e expondo o conceito.
Em 1947, na Dialética do Esclarecimento, Theodor Adorno e Max Horkheimer refletem a respeito da Indústria Cultural e o fato da produção cultural e intelectual serem dirigidas ao consumo mercadológico.
Esta indagação está o tempo todo presente para o artista: os limites e as fronteiras de transformação da arte em mercadoria.
Pode parecer que é uma inquietação supérflua porque a Cultura-mercadoria é melhor remunerada e somente tolos criadores não se deixariam levar por esta perspectiva.
É preciso também uma reflexão aqui. Tolice ou fidelidade a um pensamento artístico que só possível se for vivo por si só, independente de resultados financeiros para quem cria?
Na outra ponta, nova reflexão. Há alguma relação entre quem vai a uma sala de concerto e este criador que não pensa em dinheiro? Quando alguém vai a uma sala fica imóvel, em silêncio, contendo suas reações, limpando disfarçadamente suas lágrimas, para estourar em aplausos ao final do último movimento. A observação desta regra é redenção, ou prisão? E o inverso para o artista? Submeter-se exclusivamente a arte ou ao mercado, que efeito tem?
Segunda feira é dia de perguntas. Não de respostas.
*peço permissão para levantar uma lebre, usando esta metáfora de caça (em que se "revela algo que estava oculto") para recomendar um curioso site de provérbios antigos portugueses (conheça aqui), retirados do antiga edição do Livro dos Provérbios de Antonio Delicado, uma leitura divertida compilada pelo prof. Jean Lauand.
** Tenho tentado tornar o blog palatável e criar aqui um canal de leitura permanente. Isto passa por aperfeiçoar a ferramenta, criar posts diferentes sem perder a essência do projeto. Mas a sua opinião é muito importante e gostaria de saber o que vc pensa. Post aqui seus comentários (que ficarão públicos) ou use o e-mail cleberpapa.blog@gmail.com se vc prefere emitir sua opinião privadamente.
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Jean Lauand
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
Nota de Rodapé (18)
Imagem obtida do comercial da Hope
Sob este ponto de vista, não é correto dizer que o Brasil ainda mantém comportamentos primitivos em vários setores. Mas podemos dizer que o país, em alguns segmentos, possui pessoas com uma visão muito curta da complexidade abrangente da sociedade brasileira.
Temos, na cultura, formas de expressão que são típicas e enraizadas na maneira de enxergar determinados acontecimentos que chegam via mecanismos de comunicação deste tempo, a cada vez mais rapidamente e com maior precisão.
Há comportamentos de determinadas sociedades que para os brasileiros são considerados deprimentes, inadequados, bárbaros e são rejeitados com toda a veemência, tais como a castração de mulheres em alguns países da África, as restrições aos direitos civis (voto, à livre circulação, ao simples direito de dirigir um carro, entre outros), trabalho escravo, punições descabidas como chibatadas, pedradas por conta de quebra de protocolos religiosos e tantos outros absurdos assim considerados, mas ainda praticados nos seus países de origem.
Não há na sociedade brasileira, pessoa esclarecida que não comemore as várias conquistas das mulheres, soando absurdo imaginar que seja aceitável qualquer forma de coerção, constrangimento ou abuso que restrinja direitos por conta de sexo ou sexualidade.
Sabe-se também que se convive com realidades extravagantes (esta é apenas uma palavra elegante), bastando para isto que se vejam as noticias que recheiam os jornais, desde barbaridades com garotas e garotos presos em celas com marginais nas cadeias públicas do Pará sofrendo abusos e estupros sob os olhos cegos das "autoridades", prostituição infantil em várias cidades, inúmeros casos de violência contra a mulher. Não é necessário, portanto, ir muito longe, nem atribuir desvios apenas aos distantes países do Oriente e África. Num raio de não mais que um quilômetro das casas é provável que se tais abusos, comportamentos inadequados, constrangedores e inaceitáveis.
Ao mesmo tempo, há uma capacidade enorme de rir de si próprios, fazer troça, brincar com os excessos. Aliás irradiar os excessos para que eles se transformem em piada e provoquem aquilo que é uma das marcas mais saudáveis na cultura brasileira: o riso.
Há uma tênue barreira entre o que é engraçado apenas por ser e aquilo que não é, esbarrando no puro preconceito, na discriminação.
É preciso, entretanto, tomar cuidado para não se cair no exagero. O episódio recente com o filme publicitário de lingerie com a modelo Gisele Bündchen é o que me parece uma falta de bom senso e de limites do censor (no caso uma Secretaria do Governo Federal).
Ora, qual brasileiro leva a sério que uma mulher vá usar uma lingerie bonita para "cegar" seu parceiro e disfarçar uma besteira que tenha feito com o cartão de crédito? Ou o inverso: em sã consciência, um homem de cuecas, "sarado", faz sua companheira acreditar em qualquer besteira que ele fale?
Respeite-se o direito à opinião, afinal sempre haverá quem não goste disto ou daquilo, mas, no caso em questão, há de sobra argumentos para defende-lo.
Respeite-se o direito à opinião, afinal sempre haverá quem não goste disto ou daquilo, mas, no caso em questão, há de sobra argumentos para defende-lo.
Todo casal que não tenha restrições próprias da sua maneira de pensar, pratica joguinhos sexuais na intimidade, usando e abusando da sensualidade.
Por outro lado e além disto, quem não vê na Gisele Bündchen um modelo de comportamento, de maternidade, de discrição, de retidão, profissionalismo e beleza?
A Hope - a agência de propaganda e seus criadores - não escolheram uma modelo descartável, fútil. Nada disto. Escolheram a Sra. Gisele Bündchen referência mundial de qualidade.
É preciso uma mentalidade muito atravessada e limitada para imaginar que aqueles comerciais (veja aqui), bem humorados, devam ser retirados do ar por uma suposta ofensa às mulheres. Nesta ótica, os homens poderiam se sentir ofendidos por serem tratados como idiotas. As mulheres não precisam deste tipo de tutela já que possuem instrumentos elementares como, por exemplo, decidir não mais comprar produtos de determinada marca caso se sintam ofendidas.
Senhoras lindas, feias, impecáveis, gordinhas, professoras, profissionais liberais, empresárias, empregadas domésticas, operadoras de telemarketing, todas, todas, todas, divirtam-se, comprem suas calcinhas brancas, pretas, vermelhas, coloridas, façam o que quiserem com sua intimidade, seduzam seus maridos, falem mal deles, brinquem com eles, façam carinho, sejam carinhadas, amadas, sem se sentirem ofendidas por um comercial de televisão que só lhes garantiu o direito de serem o que quiserem na sua intimidade sem que pessoas de qualquer Governo lhes digam o que deve ser feito. E cobrem destes mesmos governantes que trabalhem - isto sim - para impedir que fatos escabrosos como aqueles que invadem nossos jornais e que são da esfera do DEVER DO ESTADO não mais aconteçam.
Por outro lado e além disto, quem não vê na Gisele Bündchen um modelo de comportamento, de maternidade, de discrição, de retidão, profissionalismo e beleza?
A Hope - a agência de propaganda e seus criadores - não escolheram uma modelo descartável, fútil. Nada disto. Escolheram a Sra. Gisele Bündchen referência mundial de qualidade.
É preciso uma mentalidade muito atravessada e limitada para imaginar que aqueles comerciais (veja aqui), bem humorados, devam ser retirados do ar por uma suposta ofensa às mulheres. Nesta ótica, os homens poderiam se sentir ofendidos por serem tratados como idiotas. As mulheres não precisam deste tipo de tutela já que possuem instrumentos elementares como, por exemplo, decidir não mais comprar produtos de determinada marca caso se sintam ofendidas.
Senhoras lindas, feias, impecáveis, gordinhas, professoras, profissionais liberais, empresárias, empregadas domésticas, operadoras de telemarketing, todas, todas, todas, divirtam-se, comprem suas calcinhas brancas, pretas, vermelhas, coloridas, façam o que quiserem com sua intimidade, seduzam seus maridos, falem mal deles, brinquem com eles, façam carinho, sejam carinhadas, amadas, sem se sentirem ofendidas por um comercial de televisão que só lhes garantiu o direito de serem o que quiserem na sua intimidade sem que pessoas de qualquer Governo lhes digam o que deve ser feito. E cobrem destes mesmos governantes que trabalhem - isto sim - para impedir que fatos escabrosos como aqueles que invadem nossos jornais e que são da esfera do DEVER DO ESTADO não mais aconteçam.
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
A Ópera é Pop (5)
Nem sempre a publicidade acerta quando mistura ópera e produtos de consumo. Há alguns anos, fazia como exercício, encontrar títulos de ópera que pudessem ser associados a sabonetes, marca de chiclete, automóveis conversíveis, eletrodomésticos, computadores, iogurtes. Para quem gosta de ilações, pode ser um passatempo divertido.
Mas não é sempre que os publicitários de plantão acertam.
A piada padrão é a quebra de taças, garrafas, janelas, objetos de decoração com a voz. Sempre é uma cantora rechonchudinha, muitas vezes com chapéu de viking com os indefectíveis chifres, a boca vermelha: o clichê, do clichê, do clichê.
E para quem vê estas coisas e não é nenhum expert no assunto, fica a impressão de que de fato a voz humana pode quebrar copos, bastando que pertença a um cantor de ópera.
Até onde se sabe, entretanto, não há registro em vídeo, foto etc, de alguém, cantor ou não, que tenha quebrado uma taça de cristal com a própria voz sem qualquer recurso de amplificação. Mesmo a lenda em torno de Caruso que teria a facilidade de executar a façanha, foi desmentida por sua mulher após a morte.
Em artigo da revista Scientific America Mind (clique aqui para visualizar o artigo inteiro) Jeffrey Kysar, engenheiro da Columbia University, explica para a ex-cantora e jornalista/editora Karen Schrock que a física pode recriar o fenômeno, mas somente em condições excepcionais um cantor poderia de fato quebrar copos com a voz.
Ficção à parte, nem sempre a publicidade transfere o humor para a platéia como acontece neste comercial de cerveja que pode ser visto clicando aqui.
No comercial, os amigos são idiotas e "castigados" pela ironia como tratam o tema, recebendo o exemplo adequado do vizinho de poltrona da frente.
E a ópera continua pop.
Carlos Gomes no Mapa do Brasil (41)
A imagem de hoje não é familiar para muita gente.
Um piano esquisito, uma pianolita, um sintetizador antigo ou um dos pioneiros teclados com sampler de 1 k de memória?
Nada disto é verdade.
Trata-se de um telégrafo dos "modernos".
Da mesma maneira que expressões como "cair a ficha" (*) surgiram em decorrência da tecnologia, "telegrafar" determinada informação (no jogo informando burramente ao adversário a próxima jogada, entre amigos, no trabalho) também surge assim. O telégrafo representava uma comunicação direta, rápida e alguns usuários tinham um endereço telegráfico que os indicavam. Estes endereços telegráficos eram tão populares que acabaram designando grandes organizações. O Banco Brasileiro de Descontos tinha o endereço BRADESCO, o União de Bancos Brasileiros conhecido no telégrafo como UNIBANCO acabaram tendo o apelido mais famoso que o próprio nome. Mas não eram só bancos. RHODIA era o endereço da Usines de Rhône, PANAIR da companhia aérea Pan American, ALTON o da Companhia Byington de Colonização Ltda (formada pelo AL de Alberto e o TON de Byington, nome do presidente).
Pois muito bem, ALTON deu o nome à cidade de Altônia no Paraná onde, no centro, encontra-se a Praça Carlos Gomes (clique aqui para visualizar), um logradouro circular, arborizado e bastante tranquilo, que também homenageia o compositor.
(*) Quando se usavam os "orelhões" (as cabines telefônicas de rua com um formato de concha que ficaram assim conhecidas) com telefones de ficha (uma moedinha de metal vendidas em cartelas), introduzia-se a ficha no local adequado e tirava-se o "telefone do gancho" (dava-se o nome de telefone à parte que possui um alto falante e um microfone. O primeiro para ouvir e o segundo para falar, muito embora o aparelho telefonico antigo tivesse mais partes. O telefone ficava normalmente repousado numa peça chamada gancho). Após levantá-lo, discava-se num teclado numérico e quando a ligação era atendida, a ficha caia. Daí a expressão.
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
Dilemas Contemporâneos da Cultura (79)
Fazer Filosofia é uma prática da palavra. É acentuar a expressão da palavra em todos os seus níveis.
Podemos simplificar como sendo o questionamento de tudo, de modo que se extraia (abstraia) a complexidade de tudo. Tão complexo quanto perguntar o que é a Lua, é pensar o que é um garfo, um banco de praça, ou o que é Cultura.
Neste caso, é responder após refletir sobre tudo o que a palavra escrita Cultura permite e também a falada, gravada, sentida.
Da mesma maneira que um pente serve para algumas coisas, a Cultura serve para algo. Ou não. Afinal, porque uma coisa deve servir? Não existem coisas inúteis?
No nosso cotidiano, a Cultura tem alguma finalidade prática? Para que serve? A Cultura precisa ter uma finalidade prática?
Como a Cultura funciona? A Cultura é tangível, integrada à vida, ao trabalho, ao ócio? De que maneira se articula com os desejos pessoais, a sexualidade, com a religião?
Onde o pecado ou a noção de pecado interfere na vivência de determinada atividade Cultural?
Vamos refletir sobre isto?
Quem atira a primeira bolinha de papel preenchida?
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