terça-feira, 22 de março de 2011

Carlos Gomes no Mapa do Brasil (35)


A Chiroxiphia caudata possui uma plumagem azul-celeste, cada preta e na cabeça uma brilhante coro vermelha.

Seu nome popular deriva do tupi ata (andar) e carã (em volta), talvez por causa da dança de acasalamento em que os machos ficam em fila e se exibem para a fêmea saltitando à sua frente em pleno voo e voltando para o fim da fila, com isto criando uma espécie de circulo no sentido anti-horário. Em castelhano são conhecidos como saltarin. Se você quiser conhecer a dança, basta clicar aqui ou digitar dança dos tangarás em qualquer site de busca.

Isto mesmo, nós os conhecemos como tangarás.

Aliás o nome do pássaro é muito conhecido também por causa do Bando dos Tangarás, um conjunto de música popular formado por Almirante, Alvinho, João de Barro (Braguinha – com quem tive o prazer de conversar muito sobre música popular brasileira), Henrique Brito e Noel Rosa. Estes sagrados da música brasileira, gravaram muito samba, marchas, toadas, emboladas.

Não gravaram canções de Carlos Gomes, o que não muda em nada qualidade de sua música e repertório.

Carlos Gomes foi lembrado não pelo Bando, mas pela cidade de Araraquara, onde no Bairro Jardim dos Tangarás, está cravada uma rua com o nome do compositor.  

domingo, 20 de março de 2011

Dilemas Contemporâneos da Cultura (64)

Plantu d'aprés Hokusay
capa do Le Monde, 15/3/2011

Continua na Folha a discussão sobre a pertinência da charge de Montanaro (Dilemas... (63) na Folha de São Paulo. 

Felizmente, para referenciar o trabalho do jovem ilustrador, a Ombudsman da Folha, Suzana Singer, acrescenta a informação de que três dias após o Le Monde, um dos principais jornais do mundo, austero e consistente, publica idêntica idéia em charge também comentando na sua capa o episódio do maremoto de graves proporções que ocorreu no Japão. 

Jean Plantureux , cartunista francês que assina Plantu (divirta-se com alguns de seus desenhos), nasceu em 1951 em Paris. Seu texto e desenhos são ácidos, mordazes. Plantu assina seu trabalho com a frase Plantu d'aprés Hokusai, numa designação clara da fonte que utilizou para executá-lo.

Montanaro também deu a dica quando acrescenta "xilogravuras japonesas". 

Segundo o texto do Ombudsman da Folha, Spacca, do time de cartunistas da casa, achou a charge pertinente, mas não publicaria um desenho como o de Montanaro hoje. "Estou mais maduro. Cabe ao artista se refrear".

É provável que Spacca, quando ficar ainda mais maduro, talvez aos 60 como Plantu, tenha a perspectiva de não se limitar, de buscar ousadias, referências inéditas, soluções modificadoras. 

Ousadia não tem idade. pelo contrário, quanto mais maduro, mais o criador se deveria permitir inovações. Afinal de que adianta viver se não buscar novas formas de enxergar a humanidade, de justificar seus erros, de compreender seus infortúnios, de admitir a finitude do homem?

Montanaro foi ousado, numa idade em que se confunde ousadia com arrogância, inovação com anarquia. Para o bem da criação, torço para que a Folha continue se permitindo soluções originais. Isto é bom, é o que contribui para desenvolvimento.

Leitores não gostaram? Se refletiram a respeito, o resultado já foi pertinente.

Não podemos esquecer que tudo o que vemos nos funciona como espelho e que cada um vê ali o detalhe que mais lhe interessa. Ás vezes, enxergamos com os olhos embaçados. 

sábado, 19 de março de 2011

Nota de Rodapé (15)

Ensaio de Orquestra
Federico Fellini 

Recomendo a leitura do texto do Leonardo Martinelli no site da revista Concerto sobre a crise da OSB. 

quinta-feira, 17 de março de 2011

Nota de Rodapé (14)

Urânia e Calíope
por Simon Vouet

Hoje foi publicado no Cultura e Mercado texto em que comento a recente polêmica acerca do blog da Maria Bethânia.


Dilemas Contemporâneos da Cultura (63)

charge por João Montanaro
publicada no Jornal A Folha de São Paulo 12/03/2011

Republicada hoje na capa da Ilustrada  (Jornal Folha de São Paulo) a charge do jovem cartunista João Montanaro(14 anos) ganhou destaque por provocar reações insólitas.

Originalmente, a charge foi publicada na edição de sábado (12/3) e recebeu várias queixas dos leitores. O garoto chegou a ser chamado de "babaca" por colegas da escola onde estuda. 

Montanaro desenhou uma onda enorme carregando destroços de uma cidade. Reproduziu aquilo que à exaustão os canais de televisão, You Tube e outros endereços exibem. Porém teve um cuidado: seu desenho só não é um rabisco qualquer porque, de forma inteligente, copiou uma xilogravura de Katsuchika Hokusai cujo título original em tradução livre seria algo como A concavidade do abismo - Onda do Mar de Kanagawa. Nada mais simbólico para o que ocorre no Japão.

Não satisfeito entretanto, Montanaro põe um título:  Xilogravuras japonesas - A onda, um lembrete aos desavisados.

Isto não bastou. Mesmo assim, a leitura rasa prevaleceu. Redundam as críticas raivosas, ignorantes, com ódio.

Precisamos rapidamente criar mecanismos para reduzir o analfabetismo funcional - aquele em que o indivíduo lê sem a capacidade de discernir e criticar com solidez de argumentos o que está lendo, e, ao mesmo tempo, ampliar a alfabetização para as artes.

Tema grave. Dia destes vão processar o rapaz por plágio. 


quarta-feira, 16 de março de 2011

Dilemas Contemporâneos da Cultura (62)


À recente polêmica envolvendo a OSB juntam-se várias opiniões e artigos.

Trata-se de uma situação delicada, sujeita a vários pontos de vista, não se tratando apenas da observação de direitos e deveres, do poder de mando, ou da discussão do que cabe no modelo privado da Fundação.

A névoa das audições - é só uma névoa - está em primeiro plano, porque o estabelecimento de critérios e formas de avaliação é muito mais difícil do que parece. A essência desta discussão está nas relações de trabalho, do trabalho artístico, mas mais do que isto, concentra-se no novo modelo, em que as relações de poder mudaram radicalmente.

Já há algum tempo venho sinalizando aqui a necessidade de novos protocolos para a gestão na Cultura. Inevitavelmente, as orquestras brasileiras deverão passar por estas mudanças. 
Afinal, estamos tratando de uma necessidade premente de valorizar os profissionais da área cultural e isto exige a adoção de novos mecanismos. Vejam bem: necessidade de valorizar os profissionais e não o contrário. Neste entendimento, trata-se de estabelecer novos modus operandi que permitam melhor definição dos níveis de qualidade, dos objetivos de curto, médio e longo prazo, processos negociados de estabelecimento de metas.

Para alguns pode parecer uma posição conservadora, mas não vejo outra saída que não a negociação entre as partes. A construção do processo a partir do diálogo é mais difícil, exaustivo, demorado até, mas é o que consolida.

Tudo funcionará bem se os dois lados perderem o suficiente.

Parece uma afirmação insólita? Pode ser, mas observe à sua volta: o que de duradouro existe que não tenha sido através de um longo amadurecimento? Você verá que é tudo assim. Mesmo quando se trata de uma nova ferramenta de internet, por exemplo, sua consolidação se dá ao longo do tempo e a partir do esforço de muita gente. 

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Dilemas Contemporâneos da Cultura (61)


Conversava hoje com o administrador de um teatro numa das belas e interessantes cidades no interior do Estado de São Paulo. 


"Um dos problemas mais graves que temos - disse ele - é quando certas "estrelas" do teatro se apresentam aqui. Alguns entram no teatro e se portam como donos, impedem a circulação dos nossos profissionais, assumem o controle e não podemos fazer nada porque é um problema da pauta, é um nome importante".


Comentei com ele que esta é uma questão inadmissível e é uma questão de conceito. 


O teatro (os teatros) público está a serviço da comunidade na medida em que facilita o acesso à informação cultural. Ao mesmo tempo, está também a serviço dos artistas que o utilizam e para tal, precisa cumprir uma série de requisitos (instalações, limpeza, gestão etc.). 


Mas está a serviço e não servil a nenhuma das partes. Tanto a comunidade quanto os artistas têm o equipamento a seu dispor dentro de determinadas regras.


Cabe ao público comparecer, pagar ou não seus ingressos, utilizar adequadamente as instalações, obedecer às normas de segurança e preservação do espaço etc. Ao mesmo tempo, ao artista cumprir com suas obrigações contratuais, garantir a obediência as normas de segurança e regras de utilização etc. E ao teatro fazer com tanto um quanto o outro sejam satisfeitos nas suas demandas específicas, sempre levando em conta que a preservação deste bem público é condição de todo o processo. 


Não parece simples? Pois é. Precisa ser simples. 

(obs.: imagem www.omais.com)