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quinta-feira, 24 de março de 2011

Dilemas Contemporâneos da Cultura (65)

Never give up
by Sephiel

Nos tempos do politicamente correto, muita confusão acaba aparecendo por falta de referência.

O processo civilizatório pode ser mais simples do que parece, mas é preciso pesquisar uma "solução acadêmica" para entender melhor isto, pois aqui está apenas uma opinião ao sabor da notícia -

Em determinado momento, alguém disse, em algum lugar, que não era bom cuspir no chão, foram banidas as escarradeiras das salas de visita etc. Alguém também disse que fazer xixi na rua não é uma maneira civilizada de convivência e ainda hoje, apesar dos grandes avanços nesta área, ainda as ruas são usadas como latrinas, alguns vão presos por isto.

O mesmo acontece com o processo cultural, principalmente nestes tempos em que determinadas regras vão sendo radicalizadas, tirando dos indivíduos - principalmente mais jovens - a capacidade de discernimento, do uso do bom senso. Talvez porque não saibam, porque estão em processo de alfabetização funcional, não importa. 

Fato concreto é que fenômenos coletivos são tratados muitas vezes à luz de poucas referências e as pessoas não sabem dizer o que é humor, terror - comportamentos elementares que por falta de balisas sólidas acabam sendo confusas.

Exemplo disto foi o episódio recente da ilustração do Montanaro na Folha de São Paulo sobre o que já escrevi dois "Dilemas" (63 e 64).


Num episódio de rara magnitude como esta infelicidade que atingiu toda a humanidade a partir do Japão é natural que as opiniões se dividam principalmente no que se refere à arte. No caso uma simples ilustração - uma charge - mostrando o episódio dramático e levando à reflexão. É este o ponto.


Tudo o que vemos funciona como um espelho refletindo muito mais o que pensamos do que aquilo que o autor de fato expressou e esta é talvez a leitura mais rasa que se pode fazer de tudo o que vemos na arte. No entanto, em algumas ocasiões, as pessoas se confundem, invertem a maneira de enxergar e atribuem ao autor coisas que com certeza ele não pensou. No caso do Montanaro, o desenho é amargo, com uma onda destruindo tudo, com um prédio de uma usina nuclear no meio disto tudo. Terrível, impressionante. Apesar disto algumas pessoas acharam que o autor estava brincando com o funesto episódio. Onde de fato está a razão? Naqueles que se entristeceram e enxergara ali um lamento ou naqueles que foram incapazes de visualizar a tragédia ali traçada e atribuíram ao autor a responsabilidade de ofender os atingidos pelo fenômeno? 


A natureza humana não é tão incompreensível assim e estes episódios nos ajudam a evitar juizos invertidos no futuro.


O melhor disto tudo e felizmente há sempre uma lição, é a exposição virtual Tsunami - des images pour le Japon (Tsunami - as imagens para o Japão) organizada pela comunidade virtual francesa CFSL dedicada a ilustradores e ilustrações. São milhares de desenhos e ilustrações vindas de vários países. Em 30 de Abril haverá um leilão de 50 trabalhos na galeria Arludik, em Paris.


Entre os desenhos, ondas, ondas, ondas.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Dilemas Contemporâneos da Cultura (63)

charge por João Montanaro
publicada no Jornal A Folha de São Paulo 12/03/2011

Republicada hoje na capa da Ilustrada  (Jornal Folha de São Paulo) a charge do jovem cartunista João Montanaro(14 anos) ganhou destaque por provocar reações insólitas.

Originalmente, a charge foi publicada na edição de sábado (12/3) e recebeu várias queixas dos leitores. O garoto chegou a ser chamado de "babaca" por colegas da escola onde estuda. 

Montanaro desenhou uma onda enorme carregando destroços de uma cidade. Reproduziu aquilo que à exaustão os canais de televisão, You Tube e outros endereços exibem. Porém teve um cuidado: seu desenho só não é um rabisco qualquer porque, de forma inteligente, copiou uma xilogravura de Katsuchika Hokusai cujo título original em tradução livre seria algo como A concavidade do abismo - Onda do Mar de Kanagawa. Nada mais simbólico para o que ocorre no Japão.

Não satisfeito entretanto, Montanaro põe um título:  Xilogravuras japonesas - A onda, um lembrete aos desavisados.

Isto não bastou. Mesmo assim, a leitura rasa prevaleceu. Redundam as críticas raivosas, ignorantes, com ódio.

Precisamos rapidamente criar mecanismos para reduzir o analfabetismo funcional - aquele em que o indivíduo lê sem a capacidade de discernir e criticar com solidez de argumentos o que está lendo, e, ao mesmo tempo, ampliar a alfabetização para as artes.

Tema grave. Dia destes vão processar o rapaz por plágio.