quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Viva a Ópera (4)

Carmen
Figueira da Foz - Portugal (*)
Na rede - na nuvem para ficar mais em sintonia com a visão abrangente das redes sociais da net - são frequentes as observações acerca das possibilidades que a ópera possui para se tornar "popular". Aproveito os comentários do amigo internauta Enio Oguchi para ampliar a discussão.

A ópera é popular por si, como o são a música, as artes eruditas.

As pessoas de um modo geral não são consumidores em larga escala por várias causas. Listar as razões que afastaram a população deste patamar de consumo pode levar a um conjunto de enorme de variáveis, todas contribuindo aqui e ali para certo afastamento das produções de excelência artística. Isto porque precisariamos levar em consideração aspectos associados à educação geral e específica (alfabetização para as artes), ao poder aquisitivo individual x acesso a bens de multiplicação (mídias diversas, espetáculos), à industria cultural (e sua tendência de reduzir custos, produzindo hits para escalas planetárias), aos veículos de comunicação de massa de um modo geral interessados em estabelecer mecanismos de consumo rápido e descartável (deixando de lado a televisão e o rádio, quantos jornais no Brasil levam a sério a manutenção de textos específicos sobre arte, por exemplo), aos governos (veja o post de amanhã sobre as didaturas) que não têm políticas claras para a área cultural, específicamente para o segmento erudito. Para aqui com as "culpas" dos outros. Só o citado até aqui permitiria manter este blog por mais alguns anos.

Vamos às nossas culpas (nossas, dos artistas, empreendedores, produtores etc).

Se por um lado falta a muita gente visão de futuro, a articulação em torno de entidades de caráter associativo, a elaboração de conteúdo que extrapole a academia, de outro, há também empáfia, arrogância, baixa-estima. O meio - aqui estou me restringindo à ópera por razões de militância, digamos assim - não se preocupou em ampliar seus horizontes criativos, limitando-se a girar em torno da própria circunferência abdominal e fazer muxoxo quando um sujeito aparece falando coisas como essas. Provavelmente vão me crucificar nas entrelinhas. Peço um crédito, pois não trabalho contra, mas sempre a favor.

Fora do Brasil, a ópera produz conteúdo e espetáculos de toda natureza possível. Na crise financeira, encontrou soluções e saiu fortalecida. Os grandes centros produtores continuam produzindo e os pequenos não deixam de fazer suas coisinhas. Grava-se para televisão e internet, publicam-se estudos, vende-se toda a sorte de gifts nas lojas dos teatros e o mundo se diverte em torno da ópera. A escala aumenta com novas platéias. Jovens em vários paises têm acesso a obras primas criadas em linguagem didática, novos teatros são construidos. Mais e mais músicos declaram seu interesse em trabalhar com o gênero.

E aqui no Brasil? Respondendo ao Ênio, algumas pessoas sabem de tudo isto e trabalham para que o panorama mude. Felizmente, algumas ilhas de qualidade surgem a cada dia e o poder irradiador da ópera, somado a várias outras iniciativas em curso, certamente antecipam um futuro muito saudável para o gênero nos próximos anos.

Viva a ópera!

(*) Apresentação em Figueira da Foz com Luísa Freitas - Carmen; Joao Cipriano Martins - Don José; Hélia Mieiro de Castro - Micaela e Nuno Dias - Escamilho. Aí está um bom elenco português (a Luisa foi uma das vencedoras do Concurso Bidu Sayão no Brasil).

Um comentário:

  1. Oi,valeu de você me tornar meu nome conhecido entre a sua rede de seguidores.
    Eu achei bem feliz a sua colocação em que existem "ilhas de qualidades"
    Essas ilhas deviam se unir num objetivo comum, talvez com uma liderança forte , com respeito de hierarquia, e tudo o mais como numa guerra contra a preguiça e o egoísmo de formar uma cultura.

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