quarta-feira, 28 de abril de 2010

Dilemas Contemporâneos da Cultura (17)

Angelus
de Roberto Ferri

Onde não há distribuição de riqueza, reina a barbárie.

Nós da Cultura Erudita parecemos ratazanas esfomeadas brigando pelo último pedaço de pão, pelas sobras de uma sociedade que desaprendeu a preservar o que deveria lhe ser caro e precioso.

A imagem é muito forte? Você que me lê não se sente um rato comendo migalhas? Ótimo. Menos mal. Um a menos.

Mas qualquer que seja o seu status, observe ao seu lado. Note o quanto os seus colegas reclamam, quanto dizem que preferem calar a falar, sabe como é, não é? Preste atenção, em quantos pensam em deixar o país em busca de oportunidade de trabalho, ou ainda quantos dizem estar em dificuldade.

Ou somos um monte de reclamões ou tem alguma coisa errada. As pessoas põem a boca no trombone por três razões: por que são músicos e o seu instrumento é este, ou, usando o trombone como força de expressão, têm uma perturbação que os leva a fazer estardalhaço por qualquer coisa, e, finalmente, como terceira hipótese, porque a situação está mesmo no limite. 

Neste caso, estamos em tempo de reparação. É momento de reflexão e correção de rumo.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Carlos Gomes no mapa do Brasil (14)

Batutas no Museu Histório Nacional
Da esquerda para a direita - Carlos Gomes (1 e 2) e Francisco Braga (3)

De manhã bem cedinho pode-se pegar um carro em Chapecó e, não fossem as curvas, se chegaria a Concórdia numa reta só pela BR 283.
Saindo de Concórdia é melhor passar por Joaçaba, a “Princesinha do Oeste”, para chegar a Lages. A quem perguntar se é possível dar um pulinho em Curitibanos antes da ida a Lages, é bom lembrar que é preciso uma volta um pouco maior, mas é perfeitamente adequado também.
Chegando em Lages será necessário dar uma boa olhada no mapa para chegar a Criciúma no sul do Estado e, finalmente, Tubarão, uma cidade próxima ao mar, à serra e de águas termais.
O que estas 7 cidades têm em comum?
Além do fato de serem todas do Estado de Santa Catarina, também têm em comum o Rua Carlos Gomes presente no mapa de cada uma delas.
Bom passeio.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Dilemas Contemporâneos da Cultura (16)

Ópera de Sidney
foto de Max Dupain

Tenho insistido na questão de construção de teatros e as necessidades de profissionais com visão de ocupação estarem envolvidos no projeto.

A razão é muito simples. Quando se trata de um teatro privado, é um problema do investidor o que faz com seu dinheiro. Mas, quando o teatro é público, o problema é de todos e cabe ao poder público preservar a melhor maneira de utilizar os recursos oriundos dos impostos. Cabe aos profissionais a vigilância para que tudo seja feito como necessário.

É preciso que ao se construir um teatro se tenha clara a necessidade de fazer a obra e ocupá-la adequadamente. A obra de um teatro se completa quando o teatro está "vestido" por dentro com todas as necessidades resolvidas: a roupa da caixa cênica (varas de luz funcionando, de cenografia, equipamentos de luz, de som, camarins em ordem etc.).

Isto parece muito óbvio? É óbvio. Mas não é o que acontece na prática na maioria das vezes.

O Prefeito manda fazer a obra e a patuléia aplaude. Passada a fase de projeto, obra, vem a inauguração. Como o teatro não está pronto e geralmente já é fim de governo, a desculpa é inaugurar como der e ocupar depois. A turma da Cultura corre, aluga tudo luz, som e demais coisas. O Prefeito e as autoridades fazem discurso, entregam o importante teatro, valorizam a Cultura, posam para a foto e pronto.

O elefante branco segue em frente, sem iluminação artística, sem som, com goteiras, com problemas na porta do camarim que não fecha, a descarga que não funciona, o vazamento da pia, continua assim por anos, sem registro formal do Diretor do Teatro que é emprestado de outra Secretaria, com o técnico (o faz-tudo do teatro) se dividindo entre vários equipamentos.

Quem já viu isto?

A pergunta é como faremos para mudar esta realidade? Como modificar esta cultura oportunista? Como construir mais equipamentos culturais, mas de forma adequada? Como usar os erros cometidos aqui e no exterior a nosso favor?

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Dilemas Contemporâneos da Cultura (15)

Detalhe do painel externo Teatro Nacional de Brasilia
foto Augusto Areal

Todo teatro projetado por Niemeyer é sinônimo de encrenca. Não se trata de demonizar o nosso ícone, mas de nos rendermos a um fato.

A impressão que se tem é que Niemeyer sempre quis punir os artistas criando as mais controversas formas de ocupação dos espaços de back stage. Este descaso com o projeto em si - com a ocupação do espaço e as necessidades - é parte do notório saber do centenário e admirável criador.

Mas não pensem que este texto é um manifesto pró-licitação de novos arquitetos, ódios mortais ou coisa que o valha. Não se trata disto.

O que estou pondo em discussão é a necessidade óbvia de envolvimento de profissionais que irão ocupar um determinado teatro ou que pelo menos sabem prever quais as necessidades de um espetáculo de dança, de ópera, de teatro, de música popular, música de câmara ou coisa que o valha. São espetáculos diferentes com necessidades diferentes. Este envolvimento precisa ser permanente, do projeto à conclusão da obra.

Lembro-me que certa feita, fui ao Teatro Pedro Ivo em Santa Catarina. O projeto previa um fosso de orquestra com o piso do palco sustentado por uma viga. Não é que na obra, a engenharia colocou uma coluna bem no meio do fosso? Os maestros que se adaptassem a dirigir orquestras com uma coluna de 40 centimetros na sua frente, entre ele e a orquestra.

Isto significa que o arquiteto nem sempre é culpado. Agora, aqui entre nós: a culpa é do engenheiro? De quem detalhou o projeto? Ou é do processo como as coisas são institucionalizadas?

Não seria o caso de se conversar a respeito com os profissionais que atuam na área, ou que pensam os problemas de ocupação? Afinal, qual arquiteto no Brasil, engenheiro, mestre de obras, comprador, secretário de cultura, governador, irá lembrar - ou, maioria dos casos, saber - que é necessário ter um sistema de som interligando palco e camarins para avisos gerais? Ou que é necessário revestimento lavável nas paredes dos camarins, pois maquiagem no corpo suja? Ou que carga precisa ser descarregada perto do elevador montacargas ou do mais fácil acesso ao palco?
Volto ao tema.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Dilemas Contemporâneos da Cultura (14)

Construção da Ópera de Sidney - Austrália
foto by Max Dupain

Não me lembro de um técnico ou artista que tenha elogiado o resultado final de um teatro projetado por Oscar Niemeyer. Aliás, de um modo geral, não há quem não reclame da maneira como os teatros são construídos no Brasil.

É voz corrente que se privilegia a construção de um novo equipamento sem que haja uma preocupação com equipá-lo adequadamente. De fato, a maioria dos teatros realizados pelo poder público são "concluídos" sem que lhes seja dada a condição adequada para ocupação e as desculpas são as mais variadas. Basta saber, por exemplo, que o teatro é construido sem o desenvolvimento de um plano de negócios, ou um plano de ocupação.

Como se dá o processo de construção?

O governante quer um teatro seja por que razão for. O primeiro passo é contratar um projeto - preferencialmente sem licitação por notória especialização e garantir os recursos gerais para a obra.

Aí estão os primeiros entraves. Não interessa discutir proposta de ocupação, necessidades artísticas, porque na cabeça da maioria dos gestores está se fazendo uma obra e não um espetáculo. "Obra é obra": projeto, cimento, visibilidade e inauguração com um show. Não interessa do quê, nem como.

Voltarei ao tema.


quarta-feira, 21 de abril de 2010

Dilemas Contemporâneos da Cultura (13)

L'Opéra Paris Garnier
Frank Meyers Boggs
Democracia não é fácil.

O processo democrático é mais demorado. Evitando a saída fácil da metáfora, mas optando pela analogia adequada, a democracia, como toda edificação, constrói-se pela base. Isto significa que este dificil exercício do diálogo deve nortear as relações na atividade Cultural.

A possibilidade de se construir políticas Culturais adequadas sem a consulta prévia aos artistas que de fato exercem as atividades específicas é praticamente nula, pois o projeto deve nascer destas relações construídas por intermédio de indivíduos e também de entidades com caráter associativo.

Se entendemos que políticas e seus programas são necessários a partir do poder público, também devemos imaginar que estas atividades têm como fundamento a busca de sustentatibilidade para não cairmos também na triste constatação de que ao se construir um Estado que tudo deve nada mais estamos que fortalecendo aquele que tudo pode.

Também não devemos cair no erro de que sustentabilidade seja ausência de participação do Estado no financiamento da Cultura. Há programas que não fecham a conta e não fecharão jamais, sendo no entanto, imprescindíveis. 

Sustentabilidade está muito mais associada à garantia de direitos do Cidadão e à garantia do exercício saudável da produção Cultural.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Carlos Gomes no mapa do Brasil (13)


Amanhã, dia 21 de Abril, Brasília completa 50 anos.
Em depoimento, Juscelino Kubitscheck relatou que a pergunta de um advogado num comício em Jataí o levou a refletir sobre a necessidade constitucional de construir uma nova cidade para abrigar a capital federal e a prometer imediatamente que faria a obra.


Assim, diz a história, nasceu a idéia de fazer Brasília que ganharia o projeto urbanistico de Lúcio Costa sobre um "x" marcado no solo do plano central. Uma cidade em cruz que ganharia as curvas inusitadas de Oscar Niemeyer e mobilizaria milhares de homens e mulheres na sua construção.


Brasília nasceu sob o signo de um olhar central sobre o país onde até hoje as desigualdades ainda são tantas. Se conseguimos reduzir a perspectiva surda da pobreza intolerável e avançamos para o crescimento economico nestes anos de democracia é um grande avanço.
Fica sempre a questão de como transmitir ao jovem a história e permitir-lhe a visão crítica para que possa reconhecer as limitações, qualidades e viabilidades do seu país.


A política é um fiel condutor dos equilibrios. Em Brasília, no Distrito Federal, ou numa pequena cidade do Rio Grande do Norte, um belíssimo Estado. A cidade de Natal tem vários municipios próximos. Entre eles São Gonçalo do Amarante, uma cidade de grande fé religiosa a ponto de ter 42 santos padroeiros.


A assessoria* do Prefeito Municipal manda para o blog a informação de que na esquina da Rua Carlos Gomes com Rua Aurora instalou-se no último final de semana um evento multidisciplinar que envolveu todos os organismos municipais, realizando várias atividades e inclusive oficinas culturais - uma delas que serve de mote para a foto desta semana.


Se por um lado neste evento o prefeito Jaime Calado conseguiu que algumas pessoas pudessem dar adeus à casa de taipa e passem a morar em casas de alvenaria, temos aí, sem dúvida, um grande avanço social, e, de outro, se adultos e crianças, identificam na Rua Carlos Gomes um ponto de aprendizado e entretenimento, ganhamos pessoas mais conscientes de seu papel de cidadãos.

Fica aí o recado e proposta para o Gleydson de Almeida, diretor do Teatro Municipal, não esquecer do compositor, da sua obra, da música erudita, numa cidade tão musical e tão lindamente romanceira com Dona Militana (http://www.saogoncalo.rn.gov.br/cultura_donamilitana.php). Quem sabe dia destes não nasce uma nova ópera brasileira baseada nestes cantos de memória, da nossa memória armorial, desta mistura fantástica de princesas, guerreiros, batalhas que compõem a rica musicalidade nordestina?

*agradecimentos ao Daniel Cabral - Secretário de Comunicação e a seu assessor Ledson França.