quarta-feira, 28 de setembro de 2011
Carlos Gomes no Mapa do Brasil (41)
A imagem de hoje não é familiar para muita gente.
Um piano esquisito, uma pianolita, um sintetizador antigo ou um dos pioneiros teclados com sampler de 1 k de memória?
Nada disto é verdade.
Trata-se de um telégrafo dos "modernos".
Da mesma maneira que expressões como "cair a ficha" (*) surgiram em decorrência da tecnologia, "telegrafar" determinada informação (no jogo informando burramente ao adversário a próxima jogada, entre amigos, no trabalho) também surge assim. O telégrafo representava uma comunicação direta, rápida e alguns usuários tinham um endereço telegráfico que os indicavam. Estes endereços telegráficos eram tão populares que acabaram designando grandes organizações. O Banco Brasileiro de Descontos tinha o endereço BRADESCO, o União de Bancos Brasileiros conhecido no telégrafo como UNIBANCO acabaram tendo o apelido mais famoso que o próprio nome. Mas não eram só bancos. RHODIA era o endereço da Usines de Rhône, PANAIR da companhia aérea Pan American, ALTON o da Companhia Byington de Colonização Ltda (formada pelo AL de Alberto e o TON de Byington, nome do presidente).
Pois muito bem, ALTON deu o nome à cidade de Altônia no Paraná onde, no centro, encontra-se a Praça Carlos Gomes (clique aqui para visualizar), um logradouro circular, arborizado e bastante tranquilo, que também homenageia o compositor.
(*) Quando se usavam os "orelhões" (as cabines telefônicas de rua com um formato de concha que ficaram assim conhecidas) com telefones de ficha (uma moedinha de metal vendidas em cartelas), introduzia-se a ficha no local adequado e tirava-se o "telefone do gancho" (dava-se o nome de telefone à parte que possui um alto falante e um microfone. O primeiro para ouvir e o segundo para falar, muito embora o aparelho telefonico antigo tivesse mais partes. O telefone ficava normalmente repousado numa peça chamada gancho). Após levantá-lo, discava-se num teclado numérico e quando a ligação era atendida, a ficha caia. Daí a expressão.
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
Dilemas Contemporâneos da Cultura (79)
Fazer Filosofia é uma prática da palavra. É acentuar a expressão da palavra em todos os seus níveis.
Podemos simplificar como sendo o questionamento de tudo, de modo que se extraia (abstraia) a complexidade de tudo. Tão complexo quanto perguntar o que é a Lua, é pensar o que é um garfo, um banco de praça, ou o que é Cultura.
Neste caso, é responder após refletir sobre tudo o que a palavra escrita Cultura permite e também a falada, gravada, sentida.
Da mesma maneira que um pente serve para algumas coisas, a Cultura serve para algo. Ou não. Afinal, porque uma coisa deve servir? Não existem coisas inúteis?
No nosso cotidiano, a Cultura tem alguma finalidade prática? Para que serve? A Cultura precisa ter uma finalidade prática?
Como a Cultura funciona? A Cultura é tangível, integrada à vida, ao trabalho, ao ócio? De que maneira se articula com os desejos pessoais, a sexualidade, com a religião?
Onde o pecado ou a noção de pecado interfere na vivência de determinada atividade Cultural?
Vamos refletir sobre isto?
Quem atira a primeira bolinha de papel preenchida?
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quarta-feira, 21 de setembro de 2011
A Ópera é Pop (4)
Magda Painno - interpreta Carmen
na Cia de Ópera Curta
Quem não viu, aproveite para ver aqui o peixinho que cantava... e vendia ópera.
Este foi um trabalho bem sucedido de comunicação que uniu a graça dos peixinhos dourados, a música de Carmen e o objeto de desejo da grande maioria dos brasileiros.
terça-feira, 20 de setembro de 2011
Carlos Gomes no Mapa do Brasil (40)
Carlos Gomes morreu em 16 de setembro de 1996.
O compositor teve uma vida gloriosa. Seu papel na história da música no Brasil é muito relevante por ter sido a mais expressiva figura cultural do país no período. Talvez por estas razões e por certo desregramento na sua vida privada tenha acumulado apenas um saldo zerado ao final de sua peregrinação.
Morreu em condições muito inadequadas. Retornou ao Brasil com a saúde muito debilitada, se recursos financeiros. Apesar das homenagens que recebeu nos últimos dias e durante o período em que foi velado em Belém (Pará) foi um final inesperado e incompatível com sua contribuição artística.
Ainda que seja um nome nacional, presente no mapa do país em várias cidades onde empresta seu nome a centenas de logradouros e milhares de estabelecimentos comerciais e educacionais, Carlos Gomes pagou um alto preço por sua glória, dada a rejeição que recebeu em vários círculos artísticos nos anos que se seguiram à sua morte.
Para nos lembrar disto de algum modo, em Borá, o menor município Brasileiro não há nenhuma rua, avenida, vila, praça com o nome de Carlos Gomes. Lá ele não está no mapa. Entretanto, neste lugar que possui o menor número de habitantes do país, o menor número de eleitores e o maior percentual de habitantes acima de 13 anos no Facebook (93% da população), há uma rua emblemática: Rua Preço da Glória.
Um aviso permanente de quanto é etéreo e fluido este caminho.
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
Nota de Rodapé (17)
2- Quem não viu, perdeu Sondra Radvanovsky, Juan Pons e Thiago Arancan, demonstrando a diferença de um elenco equilibrado com uma regência (Silvio Viegas) precisa e inteligente, direção (Carla Camurati) cuidadosa. Tosca no Municipal do Rio de Janeiro abre a temporada de coisas boas na ópera no Brasil. Virão mais e melhores.
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Theatro Municipal do Rio de Janeiro
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
Dilemas Contemporâneos da Cultura (78)
René Magritte - 1955
Em 1999, foram criadas as OSCIPs e as OS (inicialmente em São Paulo). Conceitualmente, siglas de qualificação de entidades (empresas privadas sem fins lucrativos) no âmbito Federal (OSCIP) e Estadual (OS).
Hoje as Organizações Sociais atuam nas mais variadas áreas como um braço burocrático do Estado, agilizando procedimentos, imprimindo a velocidade conceitual das empresas privadas.
Mecanismos desta natureza foram adotados em larga escala também na Cultura.
As Organizações Sociais são contratadas para implementar programas específicos a partir das políticas definidas pelo Estado e são constituídas com um organismo com escopo de ação definido.
Ao serem contratadas, as OS têm autonomia de gestão cumprindo metas estabelecidas no seu contrato a partir de diretrizes definidas pelo Estado.
Não imaginemos que isto significa afastamento do Estado do processo ou mesmo redução da estrutura do Estado ao mínimo. Experiências nesta direção foram desastrosas.
Continua cabendo ao Estado a definição das políticas e programas que deseja implantar, o estabelecimento de diretrizes, o acompanhamento e avaliação do trabalho de seus contratados, determinando correções de rota, aperfeiçoamento de políticas, até substituindo uma OS por outra quando for o caso.
A OS não substitui o Estado, mas dialoga com ele, presta serviços como uma extensão autônoma. Se por um lado ao Estado cabe o papel político, às OS o entendimento deste significado.
A contribuição das Organizações Sociais pode ser muito grande na medida em que atuando com foco em determinados segmentos consegue auxiliar o fortalecimento das suas atividades fim junto à sociedade.
Da mesma maneira, é imprescindível a percepção do Estado da resposta da população a esta ou aquela iniciativa e a criação de respostas ativas a estas demandas.
Desta complexa matriz, fortalece-se todo o sistema.
(*) Em outubro a obra 16 de Setembro de Magritte estará exposta na Tate Liverpool e certamente será alvo de visitação dos fãs do roqueiro ingles Marc Bolan, falecido em 16 de setembro de 1977, após sua namorada ter estourado numa arvore o carro onde iam . Além das datas, das árvores, a lua também era crescente. Diferente de hoje em que a lua é uma transição da Crescente para a Minguante. Coisas da Cultura que mistura tudo isto.
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René Magritte
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
A Ópera é Pop (3)
Wally resolve partir, deixando para trás suas referências pessoais, família, amigos. Deixa apenas um lamento expresso na ária Ebben? Ne andró lontana (*)
A belíssima ária da ópera La Wally, de Alfredo Catalani, exprime a opção pela solidão da personagem.
Num caminho semelhante, o comercial (famoso há alguns anos) do Whisky Ballantines, utiliza a ária de Catalani como trilha sonora e aposta em várias imagens cosmopolitas. A exemplo de Wally, o personagem que abre o anúncio partirá. Serve-se da bebida de sua preferência e compartilha - canta - o que pretende fazer. Todos os que ouvem a ária são solitários mesmo em grupo e se sentem confortados nesta circunstância. A frase final diz deixe uma impressão, reforçando o conceito, sem perder de vista a elegância, beleza plástica.
A ópera é muito presente no cotidiano das pessoas e é interessante quando se vê na comunicação de massa um resultado que se apropria do gênero de maneira tão sofisticada na conceituação.
(*) A letra da ária está abaixo, e também pode ser acompanhada na gravação de Maria Callas clicando aqui.
Ebben? Ne andrò lontana,
Come va l'eco della pia campana,
Là, fra la neve bianca;
Là, fra le nubi d'ôr;
Laddóve la speranza, la speranza
È rimpianto, è rimpianto, è dolor!
O della madre mia casa Gioconda,
La Wally ne andrà da te, da te
Lontana assai, e forse a te,
E forse a te, non farà mai più ritorno,
Nè più la rivedrai!
Mai più, mai più!
Ne andrò sola e lontana,
Come l'eco è della pia campana,
Là, fra la neve bianca;
Ne andrò, ne andrò sola e lontana!
E fra le nubi d'ôr!
Come va l'eco della pia campana,
Là, fra la neve bianca;
Là, fra le nubi d'ôr;
Laddóve la speranza, la speranza
È rimpianto, è rimpianto, è dolor!
O della madre mia casa Gioconda,
La Wally ne andrà da te, da te
Lontana assai, e forse a te,
E forse a te, non farà mai più ritorno,
Nè più la rivedrai!
Mai più, mai più!
Ne andrò sola e lontana,
Come l'eco è della pia campana,
Là, fra la neve bianca;
Ne andrò, ne andrò sola e lontana!
E fra le nubi d'ôr!
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