
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Banco bom é o da praça...

sexta-feira, 13 de novembro de 2009
Uma agenda para ópera.

Não fosse a presença do Ministro, não despertaria nada além da minha eventual curiosidade profissional, uma vez que seria um lançamento de um produto cultural qualquer, no caso, uma série de eventos sob o guarda-chuva de uma provável companhia de ópera, com certo cacoete mercadológico.
Não fosse a figura do polêmico maestro, provavelmente esta conversa não sobrevivesse a pouco mais de algumas linhas considerando inclusive o que foi apresentado comedidamente pelos veículos de comunicação. Primeiro, vamos a isto.
Com é prática nos veículos sérios, as aspas dizem muito. Como por exemplo, vender o tal produto com um desenho animado projetado no fundo do palco que "produzirá efeitos cênicos de grande comicidade e teatralidade inalcançáveis em encenações convencionais" (Revista Concerto -http://www.concerto.com.br/contraponto.asp?id=373http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20091113/not_imp465668,0.php).
Respeitado o direito de opinião, de criação e de julgamento dos donos do projeto, acho lamentável que uma companhia que se propõe de formação ou coisa parecida, negue de saída a essência da própria ópera que é a capacidade ilimitada de criação dos encenadores. Esse ranço autoritário da supremacia do saber me parece incompatível com os interesses das artes no Brasil. A citação em referência e o próprio contexto que envolve algumas afirmações do projeto conforme explícito nas matérias dos principais jornais, também soam de análise demasiadamente curta.
O que está em torno desta questão é muito mais complexo, entretanto. Considerando a abrangência da Cultura Erudita e sua condição de instrumento de formação por excelência, sua capacidade de estimular o pensamento e de criar mecanismos de entendimento do sentido de nossa identidade, estamos discutindo - e é isto o que interessa para o país - quais são os modelos e formas de inclusão, de que maneira vamos criar parâmetros sustentáveis para a rede econômica da Cultura, de que forma as empresas privadas podem e desejam contribuir para este processo.
Em 10 anos o Brasil mudou. A dinâmica é outra. Estamos projetando, desejando, instituições modernas, sem ranços individualistas, sem autoritarismo ou paternalismo. Nosso exercício diário é perceber onde os modelos antigos se repetem e isto não nos interessa. Precisamos construir a confiança nas pessoas e nas instituições.
Citando o economista Partha Dasgupta (Economia - Ed. Ática), "a falta de cooperação não requer tanta coordenação quanto a cooperação. Para cooperar as pessoas precisam não só confiar umas nas outras como também organizar-se por uma norma social que todos compreendam. É por isto que é muito mais fácil destruir uma sociedade do que construí-la". A Cultura vive este desafio tanto no plano macro, quanto no micro-econômico. Aliás, no post anterior, refleti um pouco sobre outros aspectos desta questão.
Ficarei somente nisto po renquanto. Volto ao foco e interesse deste texto.
A presença do Ministro é justificada pela frase "estamos sim devendo uma política sistemática para o setor" (O Estado de São Paulo http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20091113/not_imp465668,0.php ).
Aqui reside o seu mérito pessoal nesta história e a ópera fazendo parte da agenda de governo, muito embora ainda convivendo com certa ópera "Made in Brazil" (http://www.cultura.gov.br/site/2009/11/12/opera-made-in-brazil/).
Porém de fato, falta ao Governo Federal um programa estruturante para a área da ópera.
Volto a insistir na necessidade urgente de se discutir uma política consistente para a ópera no Brasil. Volto a cobrar posições sólidas do Ministério nesta área como já expressei em várias cartas e pessoalmente em reunições em alguns Estados.
Não nos basta fazer eventos que acontecem aqui e ali para sobrevivência do setor. Tenho comentado nos últimos posts as posições recentes do Ministro Juca Ferreira e minha concordância com vários argumentos e perspectivas que são do nosso interesse como artistas, produtores e platéia. E continuarei fazendo isto.
O Brasil mudou, está mudando. Buscamos qualidade, respeito aos artistas, queremos pensar o futuro. Somos sérios, orientados para o bem estar público, queremos um Estado que nos dê respostas e que discuta processos, mecanismos. Não somos um só. Somos um grupo, uma sociedade, cidadãos preocupados com o caráter associativo, organizacional de base. Estamos prontos para discutir e - aonde não estivermos - prontos para nos prepararmos para este futuro que virá, que já bate nas nossas janelas.
Ao contrário do que disse o maestro, segundo o jornal O Estado de Sâo Paulo, o Ministério da Cultura precisa criar políticas, precisa pensar programas. O papel dos artistas, criadores, produtores é colocar isto em discussão e de forma republicana, desenvolvendo e propondo práticas sintonizadas com o interesse coletivo.
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
Meu nome não é Johnny.

O papel das artes eruditas é principalmente favorecer a reflexão. No post anterior, neste blog, lembrei a afirmativa do Ministro da Cultura de que "é necessário preparar o país e ampliar nossa capacidade de pensar e compreender o mundo contemporâneo".
Neste sentido, o filme, lançado em 2008, Meu nome não é Johnny - vivas a Selton Mello e Cleo Pires - como todo bom fazer artístico sugere uma enorme possibilidade de reflexão.
O que levou um jovem carioca, de classe média, com todas as condições culturais, sociais e financeiras para viver dentro de um padrão acima da maioria no Brasil, a se tornar o Rei do Rio? As ilações são as mais diversas possíveis e cada um faz sua leitura conforme lhe parece o espelho.
Não é assim nas relações humanas?
Terão sido a droga, as associações com o tráfico, o dinheiro fácil, a maneira como este ambiente parece favorecer a arrogância, o exibicionismo, a idolatria por dependência ou exclusão - coisas rasteiras da natureza humana - os mecanismos que delinearam aquele destino, modificando uma história que poderia ser traçada num modelo de equilíbrio e de menor desperdício daquelas qualidades individuais?
Muito bem. Trazendo esta mesma questão à área da Cultura, devemos estar atentos ao futuro.
O Brasil se prepara para o seu próximo passo em busca da qualidade, do aperfeiçoamento contínuo e desafiador das instituições, da continuidade das reformas estruturais e, principalmente, pelo inevitável e necessário fortalecimento das atividades de produção de Cultura.
Parece-me que há um incontrolável movimento de estruturação do saber, do acesso, da disponibilização dos "ativos" culturais. A sociedade aprende a cobrar novas posições do Estado e da produção cultural e os valores do conhecimento estão a cada vez mais explícitos.
Estes tempos colocam a arte em foco e sob holofotes. A arte e seus artistas.
Cheguei ao ponto. Nestes tempos que virão, criadores, produtores, pensadores, precisamos estar atentos ao novo pacto - digamos civilizatório - que está em curso sob a égide da ética, das relações cooperadas e associativas, da troca de informações, do compromisso com a qualidade, do respeito aos indívíduos, à criação, à formação de novos profissionais. Temos um papel importante na preparação do país e isto somente será possível se levarmos em conta a dinâmica do diálogo, da sensibilidade, da contribuição coletiva.
Afinal, que país queremos, que politicas culturais e formas de participação desejamos?
É bem provável que seja pensamento dominante a certeza de que desejamos políticas estruturantes e programas decorrentes desta nova ordem plural. O Brasil é um país de diversidade ímpar, constituído de coletivos hoje plenamente identificados, com condições institucionais que permitem avanços rápidos e seguros. Isto significa que precisamos ter clareza - e certa dose de idealismo - na condução dos próximos passos para vivermos uma verdadeira experiência republicana.
Não dá para aceitarmos o convívivio com a arrogância, o autoritarismo, nem às custas de manobras de poder, aspectos freqüentes em maior ou menor escala em algumas áreas da Cultura.
A arte é anárquica e é ótimo que seja, mas as condições para que se estabeleçam o criar e o questionar precisam de certa ordenação. Hoje - citando Paul Valèry - estamos ameaçados por duas calamidades: a ordem e a desordem.
São necessárias instituições sólidas, isentas, éticas, orientadas para o futuro, sem ocasionalidades e com status político aberto para a prática e proposição de novos temas e abordagens sob a ótica determinante do interesse público e transparência.
A tirania e a construção na mentira não devem ter espaço.
Esta é a clareza necessária ao pacto. O diálogo é a forma de construção e os corpos artísticos devem estar prontos para alimentar expectativas de cidadãos deste futuro próximo: cidadãos com aguda percepção crítica.
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
A Cultura, o pré-sal e o Brasil
Muito embora discorde da deposição de esperanças no advento do petróleo "pré-sal" como já manifestei neste blog (ver post de 11/setembro/2009 - aliás, que data, hein?) e não seja o melhor amigo do Vale-Cultura, concordo com praticamente tudo que o Ministro Juca Ferreira expõe no texto na seção de Tendências/debates do Estadão do dia 5 de Novembro com o mesmo título deste post.
De fato, acredito que o Brasil esteja vivendo sob uma perspectiva de grande avanço na área da Cultura e, ufanismos à parte, há uma evidente posição favorável nos circulos internacionais.
Como disse o Ministro, "não se assume um papel de liderança apenas porque se tem dinheiro. É preciso ter valores próprios e propostas exequíveis para todos. Nada disso será possível sem disponibilizarmos educação de qualidade e acesso pleno à cultura para todos os brasileiros... Daí o acerto em tratar a cultura como parte de um projeto de nação, como parte da preparação do país para enfrentar desafios e ampliar nossa capacidade de pensar e compreender o mundo contemporâneo, construindo um desenvolvimento sólido e irreversível."
terça-feira, 3 de novembro de 2009
Cultura e Poder

terça-feira, 27 de outubro de 2009
Bons sons saídos de Guarulhos...

sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Tudo por um novo pacto civilizatório!
Os bens culturais - formas de expressão da identidade de um povo e provas de sua humanidade - passaram a ser tratados no domínio das mercadorias e dos estoques, por políticas públicas relativizadas pelos projetos de poder, pela ausência de planejamento e de estratégias de formação.
A audição de uma peça de Reich, Penderecki, de Almeida Prado, ou uma visita a uma exposição numa Pinacoteca, tornaram-se entendidas como experiência de entretenimento, pois esta é a leitura rasa de cultura vigente.
A Cultura erudita deixou de ser um ativo das elites pela mesma lógica mercantil que dita os destinos da comunicação de massas, do acúmulo de bens, da velocidade de projeção pessoal e uma inversão do papeis das lideranças seja nas artes, no pensamento, na política etc. É lamentável que valha mais a forma que o conteúdo, a aceitação dos modelos prontos ao debate pela construção, a resenha à investigação e observação pessoal.
É necessário um novo pacto com urgência. Nós, geração que escreve, lê, pensa, decide, precisamos ter consciência imediata da obrigatoriedade de se pactuar um novo futuro. Perdemos muito nos últimos anos pela inércia com que a atividade cultural vem sendo tratada e isto precisa ser corrigido e se transformar numa espécie de agenda civilizatória.
A constatação de Gilberto Mendes de que "a música erudita de nosso tempo não existe para a classe culta brasileira" é reflexo deste distanciamento das elites intelectuais que têm o relevante papel de pensar, formular propostas e cobrar resultados de governos, entidades e de empresas.