Coxia de teatro, durante espetáculo de Ópera Curta
foto por Cleber Papa
Wallace K. Harrison
projetou a sala de espetáculos da Metropolitan Opera em New York, em dimensões
proporcionais à importância mundial da casa. São 3.975 lugares.
O Met possui cerca
de 860 empregados fixos, podendo ter este número ampliado conforme as necessidades
durante o ano. O núcleo artístico emprega em torno de 100 músicos na orquestra,
80 membros regulares no coro e 16 membros no ballet. Cada um destes grupos pode
aumentar dependendo das necessidades de cada temporada que equilibra repertório
com e sem partes corais etc. Lembremos que o Metropolitan chega a ter 30 óperas
no repertório por ano (segue). Com este programa de óperas, concertos e outras
performances, no seu momento de pico, na temporada, o seu coro é ampliado em no
máximo 30 cantores contratados externamente. No seu formato, o Met desenvolve inúmeras
atividades inclusive programas destinados a identificar jovens cantores em 16
regiões diferentes e auxiliá-los no desenvolvimento de suas carreiras.
Nos teatros de ópera
Europeus, temos características que guardam certa semelhança, preservadas as
dinâmicas de cada teatro ou sociedade.A Royal Opera House
(Covent Garden) com 8 operas e 8 ballets anualmente, possui 53 cantores fixos
no coro e contratam até 60 se necessário.O Theatro Nacional
de São Carlos possui tradicionalmente 62 coralistas fixos. A Ópera Nacional de
Paris possui um coro de 112 vozes para atender apresentações em dois teatros
(Paris-Garnier e Ópera da Bastille). A Bastille apresenta 13 óperas em média
por ano e 6 ballets. A Paris-Garnier é o inverso com cerca de 14 ballets e 6
óperas. Seguindo o exemplo do Metropolitan, a Ópera Nacional de Paris também
está gravando alguns espetáculos e os apresenta em transmissões exclusivas em
vídeo, em diversos países.O Gran Teatro del
Liceu tem 70 cantores no coro com cerca de 9 óperas por ano. O Teatro Alla Scala, de Milão, possui um coro de 103 vozes, com 16 óperas na temporada de 2012/2013, sem considerar as atividades para jovens. A centenária Wienner Staatsoper, em Viena, possui 95
cantores, e a Volksoper pouco mais de 60. Em Kalsruhe, na Alemanha, são 53 coralistas
também contratando extras quando necessário.Ainda na Alemanha,
Duisburg e Dusseldorf são duas cidades interligadas pela mesma companhia de
ópera e possuem 64 coralistas que se revezam entre os dois teatros. Na
Alemanha, de um modo geral, os coros líricos giram no limite entre 60 e 70
vozes.
O Teatro Colón na
Argentina possui 90 coralistas estáveis (funcionários da municipalidade de
Buenos Aires) com 20 a 25 acréscimos quando necessitam para atender algumas das
suas 9 produções anuais. No Chile, o teatro de Santiago possui 58 coralistas
para os seus 6 títulos apresentados.
Todos estes teatros
têm seu modelo de atuação, ora criando suas próprias produções, ora trabalhando
em regime de coprodução e vários deles com corpos de solistas fixos. Na sua programação, é comum programas de formação de plateias, de jovens cantores, além dos programas rotineiros de outros corpos artísticos dos teatros.
Desta constatação
fica a indagação de qual modelo seria o ideal para teatros Brasileiros.
Acredito que, consultados, os profissionais da área na sua grande maioria,
concordam que salvaguardadas as características de cada teatro, o tamanho do
coro terá uma relação muito estreita com as dimensões do próprio espaço e o
tipo de repertório adequado. A programação destes teatros deveria equilibrar
possibilidades financeiras, recursos técnicos e artísticos disponíveis,
expectativas do público, interesses artísticos do grupo de decisão de
repertório entre outros aspectos. Divergências pontuais aqui e ali, todos com
certeza estariam fechados com a ideia de que é fundamental identificar e se
desenvolver carreiras de artistas nacionais, criar núcleos de aperfeiçoamento
com professores de língua estrangeira e preparadores de corpo entre vários
outros, sendo estratégico fomentar a produção local, exigindo-se de todos
padrões de qualidade em níveis internacionais.
É preciso cautela
quando se fala isto no Brasil, pois menos desavisados imediatamente desfraldam
bandeiras contra o xenofobismo. Uma ova. Lembro que há pouco tempo participei
de uma discussão em que estava em jogo o uso da lei de incentivos federal para
o financiamento de projetos culturais estrangeiros. A discussão era o oposto.
Lá se dizia que o dinheiro público só poderia financiar projetos nacionais.
Obviamente, fui contra e bati teclas durante várias laudas a respeito uma vez
que um projeto nacional para a cultura implica em referenciar. Acredito
piamente na troca de experiências, no acesso à informação que vem de fora como
sendo fundamental para o desenvolvimento cultural. Sem me alongar nisto, fiquei
no limite do que é possível de paciência argumentando que um grande solista de
ópera, o espetáculo de um bom diretor, a oportunidade de debate com um
cineasta, um ator, um maestro, a apresentação de uma grande orquestra ou de
grupos de câmara importantes, o subsídio aos festivais internacionais,
inclusive das artes de massa, tudo isto é parte da dinâmica do fomento ao saber
e é essencial que todas as fontes de financiamento sejam utilizadas com
parâmetros definidos, mas não impeditivos do intercâmbio.
Isto não significa
que não defendo com veemência o investimento na produção nacional e na formação
de artistas e técnicos.
Imaginemos uma
situação insólita em que do dia para a noite, um teatro de ópera perde todos os
seus técnicos, ou todos os seus músicos, ou, de repente, seus coralistas
desaparecem por força de um raio extraterrestre. Imaginem o que representa de
perda de tempo, de recursos, de história se, por qualquer circunstância
alienígena, some parte da memória desta instituição. Ou, na ausência deles, a
dificuldade em encontrar pessoas com formação que permita tocar o dia seguinte.
Acabada a síndrome
de Doctor Who, registre-se novamente a convicção da necessidade de
fortalecimento das nossas instituições culturais através das pessoas que ali
trabalham ou que potencialmente podem contribuir para o seu resultado, com
investimento permanente na formação. A ópera é um bem importantíssimo para o
crescimento profissional de muita gente e pode, inclusive, dar uma enorme
contribuição a outras formas de expressão, em particular na área técnica.